Há 10 anos, Folha visitou time de futebol do Grupo Evergrande

Guangzhou, que se tornou potência na Ásia, contava com Conca e Muriqui no elenco

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Em 2011, a Folha foi até Guangzhou (China) para conhecer o clube que leva o nome da cidade e que pertence ao bilionário grupo Evergrande, que hoje está em colapso financeiro, causando problemas na economia chinesa, com reflexos em outros mercados.

Dez anos atrás, a companhia –a segunda maior incorporadora imobiliária do país– dava início a uma jornada de altos investimentos no futebol para transformar a equipe na principal potência do futebol local.

O time contava na época com o argentino Conca e com o brasileiro Muriqui como principais peças.

Conca comemora gol pelo Guangzhou Evergrande com os punhos fechados
Conca em ação pelo Guangzhou Evergrande - Amr Abdallah Dalsh - 21.dez.13/Reuters

O clube, que costumava figurar na segunda divisão do país, mudou de patamar a partir disso.

Nos últimos anos, grandes nomes do futebol mundial foram contratados, incluindo brasileiros mais famosos, e o time passou a acumular títulos. Foram oito troféus da liga nacional (2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017 e 2019), além de dois vices (2018 e 2020) nesse período, deixando para trás o Shandong Luneng, equipe que tinha mais troféus até então (3).

Três dos oito títulos nacionais do Guangzhou foram conquistados sob o comando de Luiz Felipe Scolari. O treinador campeão do mundo com a seleção brasileira em 2002 comandou o time de 2015 a 2017, período no qual também ganhou em seu primeiro ano por lá um dos dois títulos de Liga dos Campeões da Ásia que a agremiação possui.

Torcida do Guangzhou Evergrande vestida de laranja
Torcida do Guangzhou Evergrande - Peter Stebbins - 20.abr.2021/AFP

Veja abaixo a reportagem de Fabiano Maisonnave sobre a visita, publicada no dia 4 de agosto de 2011.

Em junho de 2010, o atacante Muriqui, 25, trocou o Atlético-MG pelo Guangzhou Evergrande sem nenhuma informação da nova equipe.

A chegada à China foi de surpresas desagradáveis: o campo de treino não tinha vestiário, e o time amargava a segunda divisão.

O único compatriota no clube era Eduardo Delani, desconhecido primo de Kaká, cujo último time no Brasil havia sido o alagoano CRB.

Após 13 meses, Muriqui é o maior ídolo do clube, que lidera o campeonato com nove pontos de vantagem, já ouve a ideia de se naturalizar chinês para jogar na seleção e tem ao lado o zagueiro Paulão, ex-Grêmio, e o atacante paranaense Cleo, artilheiro do torneio, com dez gols.

Há 20 dias, o trio ganhou a companhia do meia argentino Conca (ex-Fluminense), no maior negócio do futebol chinês -o salário, estimado em R$ 2 milhões mensais, é um dos mais altos do mundo.

E, se há algo para reclamar do recém-inaugurado campo de treinamento, é o exagero. O vestiário tem piso e pias de mármore, espelhos com moldura dourada, lustres de cristal e até duas banheiras mais apropriadas para um spa. O custo das instalações foi de US$ 73 milhões (R$ 114 milhões), segundo o clube.

"Só em motel vi coisa parecida", brinca Paulão, numa conversa que reuniu os três jogadores e jornalistas brasileiros no apartamento de Muriqui. "É tudo muito chique."

Como se tudo isso fosse pouco, ontem o Guangzhou Evergrande enfrentou o Real Madrid, em amistoso que custou R$ 6,7 milhões, segundo um assessor do time.

O milagre da multiplicação do dinheiro é obra do empresário Xu Jiayin, 52, dono da imobiliária Grupo Evergrande e com patrimônio avaliado em US$ 1,2 bilhão pela revista"Forbes", em 2008.

Xu é um dos astros da China neocapitalista e gosta de se exibir -só anda num imenso Rolls-Royce preto.

Seus negócios incluem o Evergrande Royal Scenic Peninsula, condomínio de luxo com 5.650 apartamentos e casas –onde mora Conca. Um luxuoso hotel no complexo abriga atletas e membros da comissão técnica do time.

A aventura de Xu começou em março de 2010, quando comprou o time por R$ 24,3 milhões, sendo comparado a Roman Abramovich (dono do Chelsea). Na época, o time vivia seu pior momento, rebaixado por envolvimento em escândalo de jogos arranjados.

Antes dos brasileiros, Xu investiu para trazer alguns dos melhores jogadores chineses -seis estiveram na última convocação. Entre eles, está Sun Xiang, o primeiro chinês a jogar a Liga dos Campeões, pelo PSV Eindhoven. O resultado foi o título do acesso e a volta à elite.

"Em vários times daqui, há dois ou três bons estrangeiro, mas os colegas são muito ruins. No Guangzhou, nós temos os melhores jogadores chineses", compara Muriqui.

A torcida corresponde. O estádio da cidade recebe em média 45 mil pessoas por partida, o maior público de todos os clubes e bem superior à média de 10 mil por jogo registrada no ano passado.

Tratados como ídolos por uma torcida que aplaude quase tudo, os jogadores brasileiros afirmam que a "proposta financeira" é boa, porém não revelam valores.

A única reclamação é com métodos da medicina. Com uma distensão muscular, Cleo recusou o tratamento à base de acupuntura e massagem. Preferiu se tratar no Brasil, com métodos ocidentais.

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