O rebaixamento não está confirmado, mas a Chapecoense já jogou a toalha. Com apenas 13 pontos em 28 rodadas, a probabilidade de queda para a Série B é de 99%.
"Neste ano ainda há alguma chance, mas é bem remota. A gente tem de ser realista", afirma o presidente Gibson Sbeghen.
Em campo ou fora dele, o clube ainda não se recuperou da queda do avião que levava o time para a final da Copa Sul-Americana de 2016, nos arredores de Medellín, na Colômbia. Foram 71 mortos, entre eles, 19 jogadores, 14 integrantes da comissão técnica e nove dirigentes.
A tragédia completará cinco anos no próximo dia 28.
A Chapecoense estava em ascensão no futebol brasileiro e chegava à primeira final continental de sua história. Depois disso, os problemas se acumularam. A agremiação não tinha um centavo de dívidas em 2016. Hoje, está no vermelho em R$ 120 milhões.
A equipe foi rebaixada para a Série B em 2019. No ano seguinte, chegou a correr risco de queda da primeira divisão do Campeonato Catarinense. Conseguiu voltar à elite nacional na temporada passada, mas uma queda agora é iminente.
A campanha na atual Série A é uma das piores do torneio na era dos pontos corridos, iniciada em 2003. Os 13 pontos conquistados representam 15,4% de aproveitamento. É pouco superior ao América-RN do Brasileiro de 2007, dono do pior percentual, com 15%..
Nesta segunda-feira (1º), a Chapecoense visita o Corinthians às 21h30, na Neo Química Arena.
"A volta para a Série A em 2020 foi uma surpresa. Nossa prioridade era não cair para a Série C. Subir foi algo inesperado", define Sbeghen.
O presidente reconhece que os problemas da Chapecoense não foram causados apenas pela tragédia, embora seja um fator relevante. O clube perdeu, na queda do avião, quase todo o seu elenco profissional e a diretoria responsável por administrar o projeto que colocara o time no mapa do futebol sul-americano.
Técnicos e jogadores que passaram pela equipe nos últimos cinco anos disseram à Folha que a mudança aconteceu também no modelo de administração e na filosofia de contratações. A tentativa de recapturar os resultados do passado fizeram diretorias darem passos maiores do que as pernas.
O atual presidente, no cargo desde janeiro deste ano, admite que dois treinadores com passagens por Chapecó em 2019 ainda recebem salários, resultados de acordos trabalhistas.
A gestão do futebol estava concentrada no vice-presidente Mano dal Piva, que se afastou em agosto, quando a situação já era caótica. Ele acumulou poder porque foi considerado responsável por montar o elenco que obteve o retorno à Série A, em 2020.
A estratégia de buscar jogadores não aproveitados em grandes do país, mas com possibilidade de crescer na Chapecoense, foi abandonada.
A equipe será comandada nesta segunda por Felipe Endres. É o quinto treinador do time na temporada.
Em janeiro deste ano, o elenco se recusou a treinar por causa de salários atrasados. Em setembro, a Chape encerrou uma vaquinha virtual que tinha meta de arrecadar R$ 300 mil para aliviar a situação financeira. Foram obtidos R$ 15.525.
Sbeghen precisa pensar agora também na queda de arrecadação dos direitos de transmissão. Se na elite são recebidos entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões, na Série B o número cai para cerca de R$ 8 milhões.
Ainda há disputas judiciais com familiares de vítimas do acidente. Nesta quinta-feira (28), a Justiça do Trabalho de Chapecó condenou o clube a pagar R$ 14 milhões para os herdeiros do zagueiro William Thiego. A quantia se refere a danos morais, materiais e outras pendências financeiras.
"Além de tudo, nós tivemos anos atípicos. Em 2017, contamos com a ajuda de outros clubes [que emprestaram jogadores para a Chapecoense poder montar um elenco]. Em 2020 aconteceu a pandemia, que foi muito ruim para as finanças. Este ano também é atípico porque a temporada é mais curta. Existem restrições orçamentárias", explica o presidente.
"Mudamos uma estratégia que vinha dando certo. Era uma fórmula de pessoas voluntárias, em um modelo mais associativo. Quando aconteceu o acidente, perdemos a experiência e o know-how dessas pessoas. Estamos voltando a isso para reerguer a Chape", completa.
A próxima cartada pode ser a transformação em sociedade anônima. A Chapecoense montou uma comissão para avaliar o assunto.
"É uma nova era para o futebol brasileiro. Para nós, é um dos caminhos", diz Sbeghen, ao reconhecer que 2022 também deverá ser um ano difícil.
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