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Francês que discutiu com Gerson tem fama de bad boy e busca estreia pela seleção

Convocado por Deschamps, Matteo Guendouzi teve problemas com técnicos no Lorient e no Arsenal

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São Paulo

O placar marcava 2 a 0 para o Lens. Matteo Guendouzi, 22, correu até Gerson e, insatisfeito com a postura do companheiro, questionou: "Quando é que você vai começar a correr?". O ex-flamenguista não gostou da cobrança e respondeu ao francês, e foi preciso que Dimitri Payet acalmasse os ânimos.

O Olympique de Marselha foi derrotado por 3 a 2 dentro de sua própria casa, o Vélodrome, a primeira derrota da equipe de Jorge Sampaoli na atual campanha da Ligue 1.

A discussão entre os atletas chamou a atenção da imprensa francesa e também reverberou nos programas esportivos do Brasil. Contudo, treinadores que trabalharam com Guendouzi em outros clubes não devem ter ficado surpresos com a imagem.

Matteo Guendouzi tem histórico de problemas com treinadores nos clubes por onde passou
Matteo Guendouzi tem histórico de problemas com treinadores nos clubes por onde passou - Nicolas Tucat - 28.ago.2021/AFP

Talentoso e com passagem pela equipe sub-20 da França, o jogador nunca teve seu talento questionado pelos técnicos. Mas todos parecem concordar com a dificuldade de administrar tamanho ego em um ambiente coletivo.

"O problema de Guendouzi não é físico nem técnico. É sua atitude, que não é boa para o time", disse Bernard Casoni, que comandou o meio-campista em seu início de carreira, no Lorient, em entrevista recente ao Guardian.

"Eu o escalei para um jogo de copa contra o Nice, mas ele levou um cartão amarelo muito cedo. O árbitro me disse no intervalo para alertá-lo: mais uma falta e ele seria expulso. Não tive escolha a não ser substituí-lo. Quando ele deixou o campo, recusou-se a apertar minha mão."

Sucessor de Casoni no Lorient, o ex-goleiro Mickael Landreau, que atuou na seleção francesa, relatou problemas semelhantes no trato com Guendouzi.

"Ele me irritava profundamente, é muito difícil de comandar", afirmou Landreau. "Tem um ego gigantesco, mas certamente precisa disso. Precisa estar no centro das atenções, ser um líder. E isso significa que os companheiros também precisam aceitá-lo como ele é."

Formado nas categorias de base do Paris Saint-Germain, Matteo Guendouzi se transferiu para o Lorient em 2014, onde terminou sua formação. Em 2016, aos 17 anos, já atuava pela equipe principal do clube.

Na temporada 2017/2018, jogou 21 partidas na segunda divisão francesa. Convocado para a seleção sub-20 da França, chamou a atenção do Arsenal, que investiu 7 milhões de libras (R$ 52 milhões na cotação atual) em julho de 2018 para contar com o atleta.

Seu início em Londres foi positivo sob o comando do espanhol Unai Emery, que deu ao meio-campista minutos de rodagem na Premier League. Na temporada 2018/2019, disputou 48 partidas, o quinto que mais vezes entrou em campo no elenco.

O período de Emery à frente do time, no entanto, chegaria ao fim em novembro de 2019. Para o seu lugar, a diretoria contratou o também espanhol Mikel Arteta, uma mudança que teria consequências para a continuidade de Guendouzi.

Guendouzi ao lado de Pogba em treino da seleção francesa. Meia ainda busca sua estreia na equipe nacional
Guendouzi ao lado de Pogba em treino da seleção francesa. Meia ainda busca sua estreia na equipe nacional - Franck Fife - 3.set.2021/AFP

Logo no início de seu trabalho, Arteta dava uma palestra na qual analisa imagens de um treino e viu que seu comandado, além de não prestar atenção, fazia piadas e brincadeiras com outros colegas. Foi o primeiro sinal de alerta.

Na intertemporada realizada pelo Arsenal em Dubai, um companheiro pediu ao francês que fosse mais profissional em um treino, e ambos precisaram ser separados pelo treinador, segundo o colunista David Orntein, do The Athletic. Ainda nos Emirados Árabes Unidos, também sofreu uma advertência do dirigente brasileiro Edu Gaspar, que alertou o atleta para um comportamento inadequado durante um evento.

A gota d'água para o espanhol foi a postura de Guendouzi na derrota diante do Brighton, por 2 a 1, em junho do ano passado, pela Premier League. O jogador do Arsenal teria provocado os adversários ao comparar seu salário com o deles.

Após o jogo, o francês pegou Neal Maupay pelo pescoço e iniciou uma confusão com o rival, autor do gol da vitória. Foi sua última apresentação com a camisa do time londrino.

Afastado da equipe, foi emprestado ao Hertha Berlim para a segunda metade da temporada 2020/2021. Na Bundesliga, recuperou terreno e somou 24 apresentações antes de retornar à Inglaterra.

Sem que Arteta tivesse a intenção de aproveitar o francês, a diretoria do Arsenal negociou Guendouzi com o Olympique por cerca de 10 milhões de libras (cerca de R$ 75 milhões) pelo empréstimo por um ano. O clube de Marselha, contudo, terá de comprá-lo ao final da temporada.

Ao menos nos primeiros jogos sob o comando de Sampaoli, o meio-campista tem se saído bem. Apesar da derrota para o Lille na rodada passada, foi capitão da equipe –titular, Gerson foi substituído no segundo tempo.

As atuações na Ligue 1 fizeram com que Didier Deschamps, técnico da seleção francesa, convocasse Matteo Guendouzi. O jogador já havia sido convocado pelo técnico anteriormente, mas ainda não estreou pela seleção principal.

A oportunidade poderá chegar agora, na semifinal da Liga das Nações, contra a Bélgica, nesta quinta (7), às 15h45 – transmissão da TNT, e do Estádio TNT. O vencedor enfrentará na decisão a Espanha, que venceu a Itália por 2 a 1 nesta quarta (6), no San Siro, e encerrou uma invencibilidade de 37 partidas da seleção italiana.

Deschamps, claro, precisou responder aos repórteres sobre a convocação do garoto-problema.

"Ele já esteve conosco antes, mas depois viveu momentos menos felizes. Agora ele está mais realizado, tem mais minutos de jogo [no Olympique], mais confiança em si mesmo. Traz agressividade, qualidade técnica e frescor ao grupo", disse o técnico, confiante de que não será mais um na lista de treinadores que não conseguiram domar Guendouzi.

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