Marcelo Moreno pede reconhecimento e sonha em colocar a Bolívia na Copa

Atacante do Cruzeiro é o artilheiro das Eliminatórias e maior referência do país

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São Paulo

Há um momento em que Marcelo Moreno, 34, quase sempre eloquente, fica em silêncio por alguns segundos. Ele depois explica que não se calou por falta do que dizer. Estava a sonhar acordado.

“Estou falando com você e já estava imaginando isso”, afirma.

Marcelo Moreno celebra gol contra o Chile, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo no Qatar
Marcelo Moreno celebra gol contra o Chile, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo no Qatar - Alberto Valdes-8.jun.21/AFP

“Isso” é classificar a Bolívia para a Copa do Mundo do Qatar em 2022. É o sonho definitivo da carreira do jogador mais importante do país, nascido em Santa Cruz de la Sierra. Ele fez carreira no futebol brasileiro, onde chegou pela primeira vez aos 16 anos.

Defender a seleção foi uma discussão familiar em 2007. Seu pai, o ex-jogador brasileiro Mauro Martins, queria que o filho esperasse mais para tentar atuar pelo Brasil. Marcelo já havia sido convocado pela CBF para as equipes sub-17 e sub-20.

A mãe boliviana, Ruth Moreno, e seus seis irmãos o deixaram à vontade para seguir o que desejava.
Em 12 de setembro daquele ano, o centroavante estreou pela Bolívia em amistoso contra o Peru. A decisão foi tomada porque ele afirma querer ser mais do que simples integrante da equipe nacional.

“É um processo de amor e carinho pelo país. Não tenha dúvida de que balancei muito. Quem não quer jogar pela seleção brasileira? Atuei em dois campeonatos na base e ganhei ambos. Mas não sabia até onde poderia chegar [pelo Brasil]. Queria ser um exemplo, uma referência no futebol nacional. Tudo o que coloquei na minha cabeça, deu certo. Hoje quem fala na seleção da Bolívia, fala em Marcelo Moreno. A garotada no futuro vai lembrar quem eu sou”, orgulha-se.

A seleção recebe o Paraguai nesta quinta-feira (14), às 17 horas, em La Paz, pelas Eliminatórias. A equipe está em penúltimo, com nove pontos, mas a situação não é tão feia quanto a colocação sugere. A partida será transmitida pelo SporTV.

Uma vitória pode deixá-la, a depender de outros resultados, a três pontos da repescagem. No sistema de qualificação da América do Sul, os quatro primeiros se classificam para o Mundial. O quinto disputa playoff contra rival da Ásia ou Oceania. Restam seis rodadas.

Além do sonho de se disputar uma Copa do Mundo, Marcelo briga contra percepção que pode beirar o preconceito.

Ele contesta a visão de que a Bolívia depende apenas da altitude de 3.640 metros de La Paz. Afirma que isso pode ter sido verdade no passado, mas os atletas de hoje tentam propor o jogo sempre, não importa a situação, e buscam atuar bem mesmo fora de casa.

É um desempenho ofensivo que passa pelos seus gols. O hoje centroavante do Cruzeiro é o artilheiro das Eliminatórias sul-americanas, com oito anotados. Na história da competição, é o terceiro jogador que mais marcou (20 vezes). Fica atrás apenas de Messi (27) e Suárez (25), dois astros do futebol europeu que estão atrás do boliviano na tabela de goleadores na corrida para o Qatar.

“O fato de ser jogador da Bolívia faz com que não te deem o devido respeito. Todo mundo está acostumado a ver Cavani, Suárez, Messi. Que eu esteja lá brigando com eles [na artilharia] não é aceito. Isso só me motiva a fazer mais gols porque situação da seleção pode melhorar.”

Capitão, artilheiro e referência do futebol nacional, Marcelo Moreno acredita que seu papel é também cobrar melhor estrutura. A federação do país não tem um centro de treinamento próprio. Em viagens internacionais, os jogadores embarcam em voos comerciais, não fretados. É o contrário do que fazem as principais seleções do continente.

“A federação tem de investir no futebol boliviano, precisa de investir na base. Se eu sair, quem vai ser a nova referência? É preciso trazer jogadores novos que vão carregar esta seleção. Tem de colocar dinheiro. Quando tiver gente que gosta de futebol e não viva do futebol, tudo pode melhorar”, cobra, se referindo aos dirigentes do país.

Com quatro clubes brasileiros no currículo (Vitória, Cruzeiro, Flamengo e Grêmio), o atacante atuou também na Ucrânia (Shakhtar Donetsk), Alemanha (Werder Bremen), Inglaterra (Wigan) e China (Changchun Yatai e Wuhan Zall). Jamais jogou como profissional por um time do seu país natal, embora tenha iniciado na base do Oriente Petrolero.

Até hoje, a Bolívia participou de três Copas do Mundo. A última delas, em 1994, na geração que tinha Marco Etcheverry e Edwin Sanchez. Moreno, que no país é mais chamado pelo sobrenome Martins, é obcecado por igualar esse feito.

“Meu sonho está intacto, nada me tira essa vontade. Eu mereço por todo o esforço que tenho feito pela minha seleção. O sonho está aí e temos de sonhar grande mesmo. Se a Bolívia for para o Mundial, me lanço para presidente do país!”, finaliza o artilheiro, em aparente brincadeira.

Mas se a seleção se classificar para o torneio do Qatar, quem sabe?

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