Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro 2021

Palmeiras e Juventude já tiveram um Cafu e uma Parmalat em comum

Rivais pelo Brasileiro neste domingo, clubes foram geridos pela multinacional

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São Paulo

No começo dos anos 1990, a Parmalat queria comprar o Paulista de Jundiaí. O presidente da empresa no Brasil, Gianni Grisendi, achava que seria uma boa estratégia de marketing para a multinacional italiana. O plano durou até ele comentá-lo com seu amigo Luiz Gonzaga Belluzzo.

“Não acho que o Paulista é uma boa solução. Vamos fazer no Palmeiras?”, questionou o economista e então secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo.

Palmeiras (de camisa listrada) e Juventude se enfrentam pelo Campeonato Brasileiro de 1996
Palmeiras (de camisa listrada) e Juventude se enfrentam pelo Campeonato Brasileiro de 1996 - Jorge Araújo/Folhapress

Em abril de 1992, o projeto de cogestão de Parmalat e Palmeiras tomava vida. Cinco meses mais tarde, o vice-presidente de patrimônio do Juventude, Celso Empinotti, e o presidente Marcos Cunha Lima começaram a negociar parceria semelhante com a companhia de laticínios. O contrato foi assinado em maio de 1993.

Começava um período vencedor para as duas equipes que trocaram jogadores, um deles de forma polêmica, e obtiveram alguns dos títulos mais importantes de suas histórias até 2000. Foi quando a Parmalat, que já começava a atravessar problemas econômicos, interrompeu as parcerias.

Em situações bem diferentes no Campeonato Brasileiro, Palmeiras e Juventude se enfrentam neste domingo (3), às 18h15, no Allianz Parque. A partida será transmitida pela TNT, Estádio TNT Sports e HBO Max.

Finalista da Libertadores, a equipe paulista começou a rodada em 2º no Nacional, com 38 pontos. Com 26 e em 14º, o Juventude briga contra o rebaixamento.

“Aquele foi um tempo muito bom. A gente sabia que com aquela parceria tudo seria diferente e começaríamos a brigar por títulos”, relembra Cunha Lima.

Com o apoio da Parmalat, o Juventude chegou à elite do país em 1995. Dois anos mais tarde, classificou-se para a fase semifinal do torneio, que tinha dois grupos com quatro times em cada. Foi campeão gaúcho invicto em 1998 e, em 1999, conquistou a Copa do Brasil contra o Botafogo, no Maracanã.

“Aquele foi um projeto de cogestão muito bem-sucedida e que outros times tentaram e não conseguiram repetir. Tivemos de convencer o Conselho Deliberativo a aceitar a Parmalat. O clube estava em uma situação financeira muito ruim. Era de penúria”, afirma Belluzzo, sobre o Palmeiras.

Dentro de campo as coisas também não iam bem. O time não conquistava um título de expressão desde o Paulista de 1976. Com a parceria da multinacional, venceria três estaduais (1993, 1994 e 1996), dois Brasileiros (1993 e 1994), uma Copa do Brasil (1998) e uma Libertadores (1999), entre outros troféus.

“É preciso lembrar das circunstâncias. Havia naquele momento uma oferta muito qualificada de jogadores e muitos que poderiam ser contratados. A Parmalat tinha muito dinheiro e os preços dos passes [os vínculos dos atletas] eram módicos, comparados com os de hoje”, completa Belluzzo.

Foi assim que o Palmeiras contratou Rivaldo por US$ 2,8 milhões (R$ 15,2 milhões pela cotação atual). Roberto Carlos custou US$ 500 mil (R$ 2,7 milhões). Os dois seriam vices mundial com a seleção em 1998 e campeões em 2002.

O mesmo aconteceria com Cafu, que se tornaria o maior exemplo de como a Parmalat poderia usar sua gestão nos dois clubes para burlar acordos estabelecidos.

O São Paulo vendeu o lateral para o Zaragoza em 1994 com uma cláusula que proibia a equipe espanhola de negociá-lo com outro time paulista. O objetivo era claro: evitar que o jogador fosse para o Palmeiras. Se isso acontecesse, haveria uma multa de US$ 3,6 milhões (R$ 19,6 milhões pela cotação de hoje) a ser paga ao clube do Morumbi.

No ano seguinte, Cafu estava de volta ao futebol brasileiro e foi apresentado como reforço do Juventude, onde atuou apenas duas vezes antes de ser repassado à agremiação alviverde. O São Paulo entrou na Justiça e ganhou o direito de receber US$ 1 milhão (R$ 5,4 milhões).

“A gente queria que ele ficasse mais tempo, mas não deu”, constata o ex-presidente da equipe gaúcha.

Foi o caso que deu maior controvérsia, mas houve outros. Odair, Júnior (hoje Dorival Júnior), Alex Alves, Maurílio, Jean Carlo, Marquinho, Sandro Blum, Lauro e Macula alguns dos jogadores que passaram pelos dois times.

Os problemas da Parmalat se tornaram públicos em 2003, quando a empresa comunicou que não conseguiria liquidar um investimento de 500 milhões de euros (R$ 3,1 bilhões pela cotação atual). Em 19 de dezembro daquele ano, a multinacional avisou que tinha um rombo de 3,95 bilhões de euros (R$ 24,9 bilhões). Depois, uma uditoria constatou que a dívida era de 14,3 bilhões de euros (R$ 90,1 bilhões).

Calisto Tanzi, fundador do conglomerado, foi preso por fraude fiscal e condenado a 10 anos de prisão. Em 2005, a Parmalat foi comprada pela Vicenzi, uma empresa italiana de alimentos.

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