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Série sobre Maradona é versão às vezes imprecisa da vida do craque

Lançamento será nesta sexta (29) pela plataforma de streaming Amazon Prime

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São Paulo

​​Com lançamento nesta sexta-feira (29), um dia antes do que seria o aniversário de 61 anos do maior ídolo argentino, a série "Maradona: Conquista de um Sonho" busca ser uma versão romanceada da história do jogador.

Nos três primeiros episódios, cedidos de forma antecipada à Folha, o roteiro consegue isso. Mas há imprecisões históricas e fica no ar um antigo boato sobre a carreira do camisa 10.

Bandeira da torcida do Boca Juniors com o rosto de Diego Maradona
Bandeira da torcida do Boca Juniors com o rosto de Diego Maradona - Juan Mabromata-27.out.21/AFP

A série, em dez capítulos, estará disponível na plataforma Amazon Prime.

Maradona morreu em 25 de novembro de 2020 por insuficiência respiratória. Há uma investigação aberta para buscar os responsáveis. O médico Leopoldo Luque e a psiquiatra Agustina Cosachov são os dois principais nomes indiciados por homicídio culposo.

O serviço de streaming tem apostado em produções esportivas que usam a expressão "baseada em fatos reais". A empresa já havia feito o mesmo com "El Presidente" sobre o escândalo do Fifagate, lançado em 2020.

A série sobre Maradona é melhor do que a dedicada à corrupção no futebol sul-americano. "El Presidente" é caricatural e repleta de personagens que na verdade não existiram.

Pelo menos em seus três primeiros episódios, "Maradona: Conquista de um Sonho" quer contar a história de Diego a partir de sua infância, em Villa Fiorito, no subúrbio de Buenos Aires, enquanto ele está internado em um hospital de Punta del Este, no Uruguai, em coma após ter sofrido uma overdose.

O acontecimento foi real, deixou o argentino à beira da morte e foi ainda mais dramático do que é retratado na abertura do primeiro episódio.

Guillermo Coppolla, então agente de Maradona e apresentado como um dos vilões na série da Amazon, telefonou para o médico Jorge Romero. Com excesso de peso e mergulhado no consumo descontrolado de cocaína, o ex-jogador foi dormir e não acordava.

Ao ouvir que Diego estava desacordado havia dois dias, Romero se alarmou.

"Então, ele não está dormindo, está em coma!", reagiu.

O astro foi levado para o hospital privado Cantegril. Transferido duas semanas depois para Buenos Aires, viajou em seguida para se tratar contra a dependência em Cuba.

Na versão romanceada, ele está na praia quando passa mal. A ponto de perder a consciência, a voz que representa o próprio protagonista se questiona: "Onde está Pelusa?", o apelido que recebeu quando criança, por causa da cabeleira farta, como se buscasse voltar ao passado.

Em uma de suas entrevistas (reais), ele já havia dito desejar voltar a ser o que era na pobreza de Villa Fiorito.

Soa como leve referência a Cidadão Kane, filme de Orson Welles, lançado em 1941. O personagem principal, antes de morrer, faz alusão a "Rosebud", um trenó barato que usava na infância.

Os cenários da série são fiéis aos da vida de Maradona. A reprodução da casa em que ele vivia no bairro da Paternal, próximo ao estádio do Argentinos Juniors, é perfeita. Mas a representação de Fiorito lembra mais uma fazenda brasileira do que o bairro onde o jogador nasceu.

Os atores que interpretam Diego (Nicolás Goldschmidt e Nazareno Casero) também são muito parecidos com o campeão mundial de 1986.

Em alguns momentos, o roteiro dá a Maradona um heroísmo que ele não teve. Como no episódio em que o garoto estava no Boca Juniors, em 1981, e os barras bravas do clube, liderados por José Barrita, El Abuelo, entraram na concentração para pressionar os atletas.

Na série, ele desafia um armado Barrita para defender seus companheiros. É uma versão exagerada da história contada pelo próprio jogador em sua autobiografia "Yo Soy el Diego", lançada em 2000, mas contestada por quase todos os outros que presenciaram a cena.

Para explicar a ausência do atacante, então com 17 anos, na lista final dos convocados para a Copa de 1978, o roteiro deixa no ar a interferência dos militares para que Beto Alonso, ídolo do River Plate, fosse chamado. Os dois disputavam a última vaga entre os 23 atletas da delegação.

É um antigo rumor referente àquele mundial: o desejo do almirante Carlos Alberto Lacoste, então um dos homens fortes do regime e maior autoridade na organização do torneio, de que Alonso estivesse entre os convocados. O militar, torcedor do River, depois chegaria à vice-presidência da Fifa.

Em determinados momentos, o seriado tenta colocar o craque em ascensão como alguém contrariado com a ditadura e opositor da Guerra das Malvinas, algo que não aconteceu na época e se tornou realidade apenas décadas depois.

Para valorizar o mito, os primeiros episódios são laudatórios a Maradona, em uma versão que talvez agradasse ao próprio Diego. ​

Quando o documentário "Diego Maradona", de Asif Kapadia, foi lançado em 2019, o homenageado ficou contrariado pelas cenas que mostravam suas fraquezas.

Maradona: Conquista de um Sonho

  • Quando Estreia nesta sexta (29)
  • Onde Amazon Prime
  • Elenco Juan Palomino e Nazareno Casero (como Diego Maradona), Julieta Cardinali (Claudia Villafañe), Mercedes Morán e Rita Cordese (Dona Tota), Jean Pierre Noher e Leonardo Sbaraglia (Guillermo Coppolla), Peter Lanzani (Jorge Cyterzpiller) e Claudio Rissi (Don Diego)
  • Direção Alejandro Aimetta
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