Quatro anos após cogitar o fim, Red Bull tem time na final da Sul-Americana

Projeto brasileiro da empresa parecia não ter futuro, até assumir o Bragantino

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São Paulo

O ano era 2018 e a Red Bull, a multinacional de energéticos, considerava a possibilidade de encerrar sua operação no futebol brasileiro. O Red Bull Brasil, 11 anos após a fundação, parecia não ir a lugar algum.

O time não havia conquistado títulos relevantes. Com sede em Campinas, tinha a concorrência de Guarani e Ponte Preta, instituições centenárias da cidade, e não cativava torcedores. Fazia partidas como mandante sempre para arquibancadas semidesertas. Não estava em nenhuma divisão nacional.

Havia a questão cultural também. A matriz se queixava de investimentos feitos em jogadores veteranos quando a filosofia deveria ser contratar jovens que pudessem ser vendidos depois. A filial rebatia que atletas de mais idade eram fundamentais para compor o elenco.

Quase quatro anos depois, o Red Bull Brasil se chama Red Bull Bragantino e pode estar no caminho de se transformar em uma força do futebol na América do Sul.

Neste sábado (20), às 17h, no estádio Centenário, em Montevidéu, a equipe paulista decide o título da Copa Sul-Americana contra o Athletico. Os paranaenses buscam seu segundo título no torneio.

Jogadores do Bragantino comemoram gol contra o Libertad, em jogo da Sul-Americana
Jogadores do Bragantino comemoram gol contra o Libertad, em jogo da Sul-Americana - Carla Carniel - 22.set.2021/Reuters

Antes patinho feio do conglomerado, o Red Bull Bragantino é o primeiro clube de futebol da empresa a chegar a uma final continental.

A partida terá transmissão da Conmebol TV, canal pago disponível nas operadoras Sky, Claro/Net e DirecTV por R$ 39,90 ao mês. Também será possível assisti-la pelas plataformas online dessas empresas.

Tudo mudou quando a multinacional firmou parceria com o Bragantino, em 2019, e se transferiu para Bragança Paulista (93 km de São Paulo). O gasto para assumir a agremiação, então dominada pela família Chedid há décadas, foi de R$ 45 milhões.

Do dia para a noite, a Red Bull passou a ter um time na Série B do Campeonato Brasileiro. No primeiro ano da parceria, mesmo que de maneira não oficial e ainda chamado apenas de Bragantino, conseguiu o acesso para a elite nacional. A denominação Red Bull Bragantino passou a valer no início de 2020.

"Sempre que a gente joga, alguém pergunta sobre o Red Bull Bragantino porque sabem o quanto é bom. É um projeto diferente de todos os outros do Brasil. É um time em que existe paciência para os jogadores crescerem. Aconteceu comigo, aconteceu com o Claudinho. Os atletas que estão fora veem o sucesso do projeto", afirma o zagueiro Léo Ortiz, atual capitão da equipe.

Ele foi um dos três nomes do clube convocados para a seleção brasileira desde o início do acordo com o Bragantino. O mesmo aconteceu com o atacante Artur e o meia-atacante Claudinho. Este último vendido por 15 milhões de euros (R$ 95 milhões em valores atuais) para o Zenit, da Rússia, neste ano.

Os três são exemplos de sucesso no que se tornou a estratégia de mercado. Identificar jogadores que tiveram passagens ou estão em grandes clubes, mas não são aproveitados, e dar chance para eles crescerem. Léo Ortiz foi revelado pelo Internacional. Claudinho passou pela base de Santos e Corinthians e atuou na Ponte Preta. Artur era do Palmeiras.

"O Red Bull montou uma estrutura em que todo jogador deseja atuar e pode brigar por títulos", disse Claudinho, antes das Olimpíadas de Tóquio-2020, onde fez parte da equipe brasileira medalhista de ouro.

A multinacional se tornou conhecida, além da bebida energética, pelos empreendimentos esportivos.

No futebol, tem também o Red Bull Salzburg (AUT) e o RB Leipzig (ALE), ambos na Champions League, o New York Red Bulls (EUA) e o Red Bull Gana (GAN). Mantém ativo o Red Bull Brasil, em Campinas, para formar novos atletas ou manter em atividade os que não atuam no Bragantino. Da mesma forma, na Áustria, o FC Liefering, da segunda divisão, serve como elenco reserva do Salzburg.

O que foi planejado a partir da compra do clube do interior paulista, até agora, deu certo. O projeto era subir para a Série A em 2019 e, na temporada seguinte, se classificar para a Sul-Americana. Com o título no Uruguai, a vaga na próxima Libertadores estará assegurada. O mesmo pode acontecer caso termine entre os seis primeiros no Brasileiro –hoje está em 4º.

Isso só é menos do que previu Ralf Rangnick, então diretor de futebol do projeto da empresa (hoje no Lokomotiv Moscou, da Rússia). Ao visitar o Brasil em 2019, quando o Bragantino disputava a Série B, ele assistiu a jogos da primeira divisão do país e comentou para outros dirigentes que, na temporada seguinte, o time poderia ser campeão brasileiro.

A resposta foi que era melhor ir com calma. Um passo de cada vez.

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