Covid-19 volta a adiar jogos nos EUA, mas ligas ainda não falam em parar

Alta de novos casos de coronavírus já aumenta restrições nos esportes do país

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Emmanuel Morgan Ken Belson
The New York Times

Diante de uma alta alarmante no número de atletas profissionais que apresentaram resultados positivos em exames de coronavírus, o que acompanha a tendência da população geral dos Estados Unidos, a NBA anunciou no domingo (19) que adiaria cinco jogos, elevando a sete o número total de adiamentos causados pelo coronavírus até agora nesta temporada.

Também no domingo, a NHL (liga de hóquei no gelo) anunciou que "devido a preocupações com relação a tendências transnacionais e dada a natureza fluida das restrições federais a viagens", 21 jogos marcados para entre a segunda (13) e a quinta-feira (16), que oporiam times canadenses a times americanos, seriam adiados. Eles devem ser retomados a partir de 27 de dezembro.

E a NFL (liga de futebol americano) e a Associação de Jogadores da NFL no sábado mudaram seus protocolos de exame, o quarto ajuste de padrões em uma semana.

A partida entre Toronto Raptors e Golden State Warriors, disputada em Toronto, no Canadá, já contou com restrição de público após a alta nos casos de coronavírus
A partida entre Toronto Raptors e Golden State Warriors, disputada em Toronto, no Canadá, já contou com restrição de público após a alta nos casos de coronavírus - John E. Sokolowski - 18.dez.2021/USA Today Sports

Esses foram apenas os mais recentes ajustes nos calendários e nas regras de saúde que as ligas profissionais adotaram, de preferência a suspender suas temporadas. Com alto nível de vacinação entre os jogadores e funcionários, tanto a NFL quanto a NBA (liga de basquete) em geral reduziram a escala dos exames de Covid-19, o que se alinha a orientações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.

De acordo com o CDC, indivíduos vacinados não precisam passar por exames a menos que sejam expostos a contágio ou apresentem sintomas, uma orientação que as ligas profissionais parecem ter adotado, depois de terem promovido exames mais frequentes anteriormente.

Em memorando enviado aos 32 times da NFL no sábado, Roger Goodell, o comissário da liga, disse que os jogadores receberiam kits de exame que poderiam usar em casa para ajudá-los a "identificar e informar possível contágio antes de se deslocarem para as instalações de seus times".

Os jogadores vacinados da NFL que são assintomáticos estarão sujeitos a exames "estratégicos e direcionados", enquanto os jogadores que reportem sintomas de contágio serão examinados "de imediato".

A estratégia adotada pela NFL para os exames espelha a de outras ligas de esportes profissionais, embora a NBA e a NHL tenham instituído medidas temporárias de exame diário para os jogadores, independentemente de sua situação de vacinação, em meio à disparada atual de contágios alimentada pela variante ômicron. Os jogadores da NBA passarão por exames diários durante duas semanas, a partir de 26 de dezembro, e os da NHL começarão a ser examinados no sábado, e passarão por exames diários até pelo menos o dia 1º de janeiro.

"Eu não descreveria a ideia como suspender os exames dos jogadores vacinados", disse o médico Allen Sills, vice-presidente de medicina da NFL, no sábado, em uma conversa com jornalistas. "Estamos tentando conduzir exames de maneira mais inteligente e estratégica".

A decisão de confiar em sintomas reportados pelos jogadores atingidos despertou novas questões sobre se os jogadores vão informar possíveis contágios e encarar a perspectiva de passar um ou mais jogos fora do time caso apresentem exames positivos.

Práticas semelhantes funcionaram em outros setores da sociedade, disse o médico Amesh Adalja, pesquisador sênior do Centro John Hopkins de Segurança na Saúde, na Escola Bloomberg de Saúde Pública. Os hospitais, por exemplo, confiam em que seus profissionais respeitem um código de honra e em geral não conduzem exames semanais de seus empregados, acompanhando as orientações do CDC. Adalja disse que as ligas de esportes podem adotar outras medidas, como exames conduzidos de surpresa ou avaliação de sintomas, para estender os demais exames.

"Creio que os jogadores e o pessoal das comissões técnicas da NFL precisem ser profissionais e saber que não desejam colocar outras pessoas em risco", disse Adalja. "Se estiverem doentes, eles não deveriam jogar, mas isso obviamente vai depender da honestidade das pessoas do esporte."

O sindicato dos jogadores pressionou por exames diários para todos os jogadores, como a liga exigia em 2020, e JC Tretter, seu presidente, escreveu em setembro de 2021, em uma mensagem no site do sindicato, que limitar o protocolo a exames semanais de jogadores vacinados permitiria a transmissão do vírus dentro das instalações dos times por uma janela perigosamente longa.

O memorando que Goodell divulgou no sábado veio depois de uma série de mudanças de protocolo quanto à Covid-19 adotadas pela NFL em uma semana que viu o adiamento de três das partidas do final de semana, os primeiros adiamentos da temporada.

Na segunda-feira (13), a liga registrou um recorde de exames positivos entre seus jogadores, e passou a exigir doses de reforço obrigatórias da vacina para os funcionários que trabalhem em contato direto com jogadores.

Na quinta-feira, depois de mais de 100 exames positivos de Covid entre jogadores até ali na semana, a liga voltou a exigir o uso obrigatório de máscaras nas instalações dos times e adotou restrições para reuniões presenciais. Mais de 130 jogadores foram colocados nas listas de reserva por Covid-19 das equipes na semana, entre os quais 10 cada para o Los Angeles Rams, Cleveland Browns e Washington Football Team.

Com a disparada no número de casos ameaçando as partidas marcadas para o final de semana, a NFL também mudou suas políticas a fim de permitir opções que reativassem com mais rapidez jogadores plenamente vacinados identificados em exames positivos, desde que eles estejam assintomáticos por pelo menos 24 horas. Agora, esses jogadores podem retornar da quarentena apenas um dia depois de seu teste inicial positivo.

No sábado, a NHL anunciou protocolos reforçados que incluem exames diários para todos os integrantes das delegações viajantes de um time. Jogadores e integrantes de comissões técnicas estão proibidos de comer em restaurantes e bares de ambiente fechado e são encorajados a usar máscaras em ambientes fechados.

Uma declaração conjunta da liga e do sindicato de seus jogadores, divulgada no domingo, afirmava que, depois de reuniões com especialistas médicos, a temporada vai continuar em meio aos adiamentos; até agora, 39 jogos terão de ser remarcados. A necessidade de suspender os jogos de times inteiros temporariamente vai continuar a ser tomada em base de caso a caso.

Os casos de coronavírus subiram a despeito do alto nível de vacinação entre os atletas dos esportes profissionais. Cerca de 95% dos jogadores da NFL foram vacinados, de acordo com a liga. Isso excede em muito a média nacional dos Estados Unidos, onde 72% das pessoas com mais de 18 anos foram vacinadas. Mas fica ligeiramente abaixo de outros esportes.

Na NHL, apenas um jogador não se vacinou, e na NBA o índice de vacinação entre os jogadores é de 97%. Por conta do índice elevado de vacinação, disse Adalja, exames diários não são necessários entre os vacinados. Esse tipo de vigilância apanha "casos que não são muito significativos clinicamente", já que os contagiados em geral são assintomáticos ou mostram sintomas muito amenos.

"Teremos casos de Covid na NFL dentro de 20 anos —vão continuar a ocorrer", disse Adalja. "Acho que precisamos pensar sobre o que estamos tentando realizar."

Adalja antecipa que o vírus se torne endêmico e recomenda que as autoridades de saúde em cada arena dediquem seus esforços a navegar uma realidade na qual o vírus se tornará parte da vida cotidiana. Ele acrescenta que, em uma situação como essa, exames diários não seriam valiosos.

A NFL não impôs vacinação obrigatória aos jogadores, mas relaxou suas restrições e protocolos quanto à Covid-19 antes do início da temporada para aqueles que se vacinassem, suspendendo regras como o uso de máscaras e reduzindo a frequência dos exames compulsórios.

Mas com a subida no número de casos, o futebol americano profissional voltou a impor muitas das medidas adotadas em 2020 para ajudar a liga a concluir sua temporada regular e pós-temporada de acordo com o cronograma; a única diferença são os exames diários obrigatórios.

Tradução de Paulo Migliacci

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