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Projeto estimula crianças no tênis e aproxima meninas de inspirações

Liga Tênis 10 tem proposta inclusiva para o esporte a partir da realização de torneios

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São Paulo

Quando Bruna Assemany, 35, pensava em ser tenista profissional, sua referência era "apenas" Gustavo Kuerten. Além do cabelo cacheado em comum, fazia sentido que o tricampeão de Roland Garros ocupasse esse papel na época. Mas ela sentia falta de também ter mulheres como inspiração.

Hoje, Bruna trabalha para que as meninas com o sonho de se tornarem tenistas tenham mais estímulos no esporte, por meio do contato com atletas que chegaram lá e do incentivo à participação em campeonatos.

Formada em educação física e professora de tênis, ela começou a estudar em 2007 métodos de treinamento em diferentes países. Na época, participou de uma conferência da Federação Internacional de Tênis, que lançava a campanha global Play and Stay (jogue e fique), para discutir a promoção do esporte na infância de forma saudável e duradoura.

Meninas ao redor de Bruna, que segura o celular em uma chamada com Ingrid
Bruna Assemany e integrantes da Liga Tênis 10 conversam com Ingrid Martins, tenista profissional apoiada pelo projeto - Ricardo Borges/Folhapress

Como resultado desses aprendizados, em 2015 Bruna criou no Rio de Janeiro a Liga Tênis 10, uma proposta abrangente de fomento ao esporte, empreendedorismo, democratização do acesso e capacitação de treinadores. O objetivo principal é promover torneios e outros eventos exclusivos para crianças de 5 a 12 anos de qualquer nível técnico.

Uma das primeiras percepções que ela teve ao estudar o mercado do esporte foi que no Brasil há poucos praticantes dessa faixa etária inscritos em campeonatos, o que na sua visão deixa o país para trás logo de cara na formação de atletas.

"Entendi que a maioria dos lugares incentiva só os melhores a competir. A Liga surgiu para promover torneios e plantar essa sementinha da competição. Sempre tinham menos meninas do que meninos participando, então fui vendo como buscá-las para que tivessem mais conexão com o esporte", afirma a criadora do projeto.

Foram 28 torneios realizados em cidades brasileiras até aqui; 10% das vagas são destinadas a alunos de projetos sociais, que recebem isenção da taxa de inscrição. O modelo de organização de campeonatos também já foi exportado para Áustria e Eslovênia.

Apesar de o projeto não ser voltado exclusivamente para meninas, algumas ações reforçam a proposta de Bruna de olhar com atenção para elas. Em 2019, levou a britânica Judy Murray, mãe e primeira treinadora dos filhos Andy e Jamie, para palestrar em um evento da Liga. No mesmo ano, começou a apoiar a tenista profissional Ingrid Martins, 25.

Em fevereiro de 2021, Luisa Stefani passou a ser a segunda tenista profissional apoiada pela Liga Tênis 10 e estreitou sua relação com o projeto. Ela era àquela altura a 31ª colocada do ranking de duplas, após boa evolução em 2019 e 2020, mas os maiores feitos ainda estavam por vir.

A temporada se mostrou especial para as principais brasileiras do circuito, com a inédita medalha olímpica conquistada por Luisa e Laura Pigossi em Tóquio, a entrada de Luisa no top 10 do ranking e o retorno de Bia Haddad para o top 100 da lista de simples (fechou o ano como 82ª).

Com o papel de destaque que ganhou e disposta a compartilhar suas vivências, Luisa tornou-se a principal entre as referências tão buscadas para o tênis brasileiro. A duplista ainda não pôde estar pessoalmente com as crianças da Liga, mas a troca de mensagens de apoio e incentivo já criou uma conexão entre elas.

"O mais importante são as próximas gerações, fazer crescer o tênis feminino. É uma meta, um sonho que sempre tive", Luisa afirmou à Folha em agosto. Após sofrer uma grave lesão no joelho durante a semifinal do US Open, ela deverá ficar afastada das quadras até meados de 2022.

Julia Schemidt, 12, conta que se sente apoiada por Luisa e por Ingrid e também as apoia. Ela começou a jogar os torneios da Liga aos 7 anos e atualmente é a primeira colocada de sua idade no ranking estadual do Rio de Janeiro. Além das brasileiras, também admira e se espelha na romena Simona Halep e em Andy Murray.

"A Luisa segue a Julia no Instagram, e esse simples ato faz com que ela fique tão motivada de estar vivendo isso, trocar essas experiências. A Ingrid comenta ‘boa, Julinha, vamos, isso é muito incentivador", afirma a mãe da atleta, Roberta Schemidt, 41.

O evento com Judy Murray serviu para que Julia aprendesse coisas novas em quadra e também para que Roberta, que é psicóloga, ouvisse palavras valiosas de alguém com propriedade no assunto.

"Você escuta uma mãe de filhos que chegaram aonde eles chegaram falando das dificuldades, dos custos, de ver até onde aquilo está fazendo bem para a criança. Como mãe, é muito legal saber que está no caminho certo. Aqui em casa não tem obrigação de ranking ou de ganhar, apenas de se dedicar ao máximo. É isso que quero dar de presente para a Julia através do tênis", diz Roberta.

Bruna explica que o estímulo da Liga à participação em campeonatos não significa que o foco esteja apenas em ganhar ou perder o jogo, mas num processo de construção das emoções da criança dentro e fora de quadra.

Um dos pontos destacados por Julia é que o formato dos torneios não prevê eliminação após uma derrota. Cada tenista faz pelo menos duas partidas, para que tente usar no jogo seguinte o que aprendeu da partida anterior.

Julia rebate uma bola no fundo de quadra
Julia Schemidt começou aos 7 anos nos torneios da Liga e hoje, aos 12, se destaca no Rio de Janeiro - Ricardo Borges/Folhapress

Apesar dos resultados promissores, ela ainda não sabe se seguirá no tênis até a vida adulta. Atualmente, o plano é ser médica.

Para Bruna, o mais importante é ver as sementes plantadas. "As meninas são construídas a cada dia com as referências que vão se criando. Quando eu ia jogar, era chamada de 'moleca', o que era visto como algo ruim, mas as meninas que hoje estão jogando tênis, ou andando de skate, não são mais vistas dessa forma."

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