Descrição de chapéu LGBTQIA+

Patinação terá primeira pessoa abertamente não binária dos Jogos de Inverno

LeDuc atua em dupla com mulher e dispensa tradição 'Romeu e Julieta' da modalidade

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Rachel Savage
Londres | Reuters

Quando Timothy LeDuc, 31, entrar no rinque em Pequim como a primeira pessoa competidora olímpica de inverno abertamente não binária, o objetivo será desafiar os estereótipos de gênero e abrir caminho a outros esportistas que não desejam se definir nem como homens nem como mulheres.

LeDuc, dos Estados Unidos, que usa pronomes neutros para se designar, deseja deixar de lado o conceito tradicional de que todas as duplas da patinação artística contam histórias de "Romeu e Julieta". Em lugar disso, busca uma exibição de igualdade e força com sua parceira olímpica Ashley Cain-Gribble, 26.

"Minha esperança agora é a de que ser uma pessoa abertamente não binária, e ter franqueza quanto a isso, talvez abra caminho para outros atletas não binários e queer que competem em duplas na patinação", disse.

Timothy LeDuc compete ao lado de Ashley Cain-Gribble - John David Mercer - 8.jan.22/USA Today Sports

Um número recorde de atletas LGBTQIA+ competirá nos Jogos Olímpicos de Inverno, de acordo com o site Outsports, um serviço de notícias LGBTQIA+, depois do recorde estabelecido nas Olimpíada de verão em 2021.

Tóquio também viu os primeiros atletas olímpicos transgênero ou não binários, entre os quais Quinn, da equipe de futebol do Canadá, que usa apenas um nome, e Alana Smith, do skate, que ouviu pronomes incorretos na boca dos narradores na transmissão dos Jogos.

"Não me preocupo com a percepção das pessoas a meu respeito, ou que elas me designem incorretamente em termos de gênero", disse LeDuc.

"Espero que, com abertura e autenticidade, eu ajude a levar o diálogo adiante e as pessoas a compreender melhor que alguém pode ser um atleta maravilhoso e ainda assim viver fora do mundo binário".

Sensação de poder

A proximidade entre LeDuc e Cain-Gribble era aparente mesmo que tenham conduzido suas entrevistas de locais separados, porque estavam desfrutando de um período de repouso depois de conquistar seu segundo título nacional americano neste mês.

Crain-Gribble usava um agasalho branco da equipe olímpica dos Estados Unidos, e LeDuc, uma blusa preta com gola em V e maquiagem cintilante nos olhos.

"Timothy esteve sempre presente para me apoiar, e me apoiou em cada parte de minha jornada e de minha vida. Por isso, sempre estarei presente para apoiar sua jornada", disse Cain-Gribble.

"Nós já tínhamos deixado de seguir uma narrativa padrão de masculino e feminino, no gelo", disse LeDuc.

"E não tinha coisa alguma a ver com Ashley ser casada com outra pessoa... ou com eu ser gay. Tinha tudo a ver com nós dois sermos atletas muito fortes e maravilhosos, e que não queríamos diminuir o talento maravilhoso de qualquer um de nós dois no gelo."

Em um de seus números, Cain-Gribble usa um collant longo que lhe cobre as pernas, um traje incomum para uma patinadora artística.

"Se eu usar vestido, será porque quero, não porque alguém deseja que eu pareça mais feminina", disse a patinadora. "Eu me sinto realmente poderosa usando um collant de corpo inteiro."

Ashley se sente bem competindo de collant de corpo inteiro - Jonathan Nackstrand - 23.mar.21/AFP

LeDuc explicou que Cain-Gribble costumava sofrer "constrangimentos" por ser mais alta do que a maioria das patinadoras artísticas, e por isso nunca era vista como provável vencedora. E LeDuc tinha de manter o silêncio.

Aos 18 anos, também teve de combater tentativas de colegas cristãos que desejavam que passasse por uma terapia de conversão gay. Agora, LeDuc elogia os membros de sua família por terem aprendido a aceitar sua identidade.

"Houve momentos difíceis logo que me assumi, e pessoas que achavam que rezar poderia me fazer deixar de ser gay", disse.

"Mas não há elogios que bastem para dizer quanto minha família é maravilhosa. Mudaram completamente de posição. Agora meus pais marcham comigo em paradas do orgulho gay e trans", acrescentou.

A dupla ocupa a sétima posição no ranking mundial, atrás de patinadores russos, chineses e canadenses, mas quer terminar em uma das cinco primeiras posições em Pequim.

"Esse é um sonho que tive a vida inteira", afirmou Cain-Gribble. "É a primeira vez que não precisamos batalhar por uma vaga ou disputar a classificatória para uma competição. Poderemos chegar lá e patinar, só isso."

Tradução de Paulo Migliacci

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