Tomate, famoso por choro na Copinha, quer mudar a vida dos pais

Goleiro do Andirá chamou a atenção pelas lágrimas após boa atuação e substituição

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São Paulo

Quando a partida entre Andirá-AC e Atlético-MG terminou, o goleiro Eduardo, de 18 anos, ainda estava com o rosto avermelhado de emoção, com um semblante que um dia lhe rendeu o apelido de Tomate.

Durante boa parte do segundo tempo, ele acompanhou o jogo do banco de reservas aos prantos. Ele foi substituído aos 17 minutos, quando houve o pênalti que definiria a derrota do time acreano por 1 a 0 —o momento em que ele saiu de campo e chorou viralizou nas redes sociais na quarta-feira (5).

O resultado decretou a eliminação da equipe do Acre ainda na primeira fase da Copa São Paulo de juniores, mas não seria o fim da linha para o sonho de Tomate e talvez nem do próprio Andirá.

Goleiro Tomate, do Andirá, durante partida contra o Atlético-MG pela Copinha
Goleiro Tomate, do Andirá, durante partida contra o Atlético-MG pela Copinha - Reprodução

A equipe da cidade de Rio Branco viajou a São Paulo com o objetivo de usar a Copinha para dar visibilidade aos garotos, na esperança de que um deles pudesse chamar a atenção de um clube grande. Além de dar continuidade à carreira o jogador, isso traria um retorno financeiro para o modesto time.

As lágrimas do jovem goleiro eram reflexo não só da substituição mas também dessa esperança.

"Eu senti uma dorzinha por ter saído, sim, mas a emoção foi por causa da bela atuação que eu tive, da partida que eu fiz. Eu vinha sendo bastante criticado por algumas pessoas e, graças a Deus, fui bem", contou o goleiro à Folha.

Enquanto o jovem ganhou fama da noite para o dia, conquistando mais de 500 mil seguidores nas redes sociais em 24 horas, o técnico Kinho Brito foi bastante criticado pela substituição. O treinador, porém, gravou um vídeo ao lado dos goleiros e disse que a entrada de Carlos estava combinada para dar chance aos dois atletas.

Tomate, que foi inscrito na Copinha como terceiro goleiro, confirmou a história e defendeu o comandante. Por pouco, porém, ele quase ficou fora do torneio, já que Brito não pretendia relacioná-lo. Ele só mudou de ideia depois de convencido pelo presidente do clube, Afonso Alves, aconselhado a levar o atleta pelo diretor de futebol Civaldo Nery, primo do jogador.

"Eu ajudei não porque é meu primo, ajudei porque ele é um menino que realmente precisava, tem muita força de vontade. O treinador chegou a cortá-lo duas vezes, mas a gente conseguiu ajudar", diz Nery.

Não foi só o lobby feito pelo diretor que fez Alves comprar a briga com o técnico. Como o Andirá não tem muitos recursos financeiros, o mandatário é único funcionário contratado e também acumula a função de preparador físico do elenco. Por isso, acompanha diariamente o empenho de cada jogador.

"Tirando ele [Afonso], todos nós somos voluntários. O Kinho [Brito] também não recebe nada, eu também sou voluntário. O presidente é o único funcionário, e a sede oficial do clube é na casa dele", conta o diretor.

Sem recursos para embarcar a São Paulo, o time contou com uma parceria com a cidade de Rio Branco para ter condição de alugar um ônibus. "Fizemos uma viagem de dois dias e duas noites, só parando fazer as refeições", explica o dirigente.

Após o sorteio feito pela Federação Paulista de Futebol, o Andirá teve a cidade de Lins definida como sua sede. Sensibilizada com a condição do time, a prefeitura do município ofereceu refeições aos atletas. Outras, diz Nery, foram pagas pelos cartolas: "Nós tivemos de comprar comida para alguns jogadores com dinheiro do próprio bolso".

A situação é recorrente no dia a dia dos garotos do time acreano. O próprio Tomate já precisou contar com a ajuda do primo dirigente para fazer suas refeições. "Muitas vezes, ele não tinha dinheiro para ir ao treino, e eu ia buscá-lo na casa dele, que fica a mais de 10 km do local em que a gente treina. Depois, eu o levava para comer na minha casa", lembra o diretor.

O goleiro vem de uma família humilde. A mãe é aposentada, e o pai trabalha vendendo iogurte. O futebol é para o atleta um meio pelo qual ele acredita que poderá dar uma vida melhor à família. "Eu espero que daqui para a frente possa dar o melhor para eles e também representar bem o meu estado."

O desejo dele é seguir os passos de um conterrâneo famoso, o goleiro Weverton, do Palmeiras. "Eu gosto muito dele, ainda não tive a chance de conhecê-lo, mas eu me inspiro nele", diz o jovem, antes de apontar as características do ídolo. "Ele é muito seguro em campo, sabe jogar com os pés, e eu procuro ser assim também."

A chance de começar a trilhar uma carreira vitoriosa está no horizonte. Tomate deverá ter em março um período de testes no Atlético-MG, que gostou de seu desempenho e demonstrou interesse..

"A esperança que a gente tem é vender um jogador, fazer um caixa para o clube e melhorar a condição do Andirá. Hoje, o clube vive do apoio de algumas pessoas. O campo que a gente usa, por exemplo, era de um time que faliu, a gente aluga com a ajuda de alguns parceiros", afirma Nery.

De acordo com o cartola, porém, apesar do convite para o teste, a equipe mineira ainda não fez uma proposta ao Andirá.

Antes do período de treinos, Tomate ainda vai disputar seu último nesta edição da Copinha, no sábado (8), contra o Desportivo Aliança, de Alagoas. Sem chance de classificação, a equipe acreana vai apenas cumprir tabela, mas o arqueiro poderá mostrar serviço a quem estiver de olho.

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