Descrição de chapéu The New York Times basquete

Atletas da NBA dizem ter perdido milhões de dólares em suposto golpe de corretor

Profissional do banco Morgan Stanley foi banido do mercado financeiro após denúncia de jogadores

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David W. Chen
The New York Times

Mais ou menos na época em que Lauren Holiday ajudou a seleção feminina de futebol dos Estados Unidos a vencer a Copa do Mundo em 2015, ela e seu marido, Jrue Holiday, jogador da NBA, visitaram o escritório de um corretor de títulos no sul da Califórnia. Ele tinha sido recomendado ao casal como um assessor prudente para a realização de investimentos de longo prazo.

Experiente? O corretor tinha trabalhado por duas décadas para empresas de primeira linha como os bancos Morgan Stanley, Wells Fargo e Merrill Lynch. Bem-relacionado? Ele disse que sua especialidade era assessorar atletas de todos os esportes e que tinha mais de 70 atletas e ex-atletas profissionais em sua lista de clientes.

Mas, em vez de seguir "uma estratégia de investimento entre conservadora e moderada", os Holiday afirmam que o corretor Darryl Cohen direcionou US$ 2,3 milhões (R$ 11,9 milhões) do dinheiro deles a "indivíduos e entidades dúbios" —e agora a maior parte dessa quantia foi perdida.

Jrue Holiday, do Milwaukee Bucks, durante partida contra o Dallas Mavericks - Kevin Jairaj - 23.dez.21/USA TODAY Sports

Outros atletas disseram ter passado por experiências semelhantes. Chandler Parsons e Courtney Lee, que também jogaram na NBA, disseram que Cohen e o Morgan Stanley desviaram US$ 5 milhões (R$ 25,8 milhões) e US$ 2 milhões (R$ 10,3 milhões) de seu dinheiro para investimentos inapropriados, e que a maior parte desse dinheiro desapareceu.

Por isso, Parsons, Lee e os Holiday apresentaram uma queixa a uma organização de autorregulamentação financeira, a Autoridade Regulatória do Setor Financeiro (Finra, na sigla em inglês), que fiscaliza as corretoras de valores.

"Sinto-me invadido e que fui vítima de exploração", afirmou Parsons em uma declaração encaminhada ao jornal The New York Times por Phil Aidikoff, um experiente advogado especializado em questões financeiras, de Beverly Hills, Califórnia, que representa os atletas mencionados e mais uma pessoa em queixas separadas apresentadas no ano passado.

Os casos dos atletas ainda estão a meses de distância de uma resolução por meio de acordo ou audiência de arbitragem, mas a Finra tomou medidas drásticas quanto a uma queixa separada, na semana passada, barrando Cohen de continuar trabalhando no mercado de valores mobiliários. Ao se recusar a cooperar com o inquérito da Finra sobre "uso indevido de fundos de clientes", a organização afirmou, Cohen havia "prejudicado uma investigação sobre delito de conduta potencialmente graves".

Representantes do Morgan Stanley se recusaram a comentar. Porém, em documentos encaminhados às autoridades regulatórias, a empresa informou ter demitido Cohen em março de 2021 em razão de "transações não informadas ao ou aprovadas pelo Morgan Stanley".

Contatado pelo celular, Cohen respondeu que ligaria de volta. Ele não respondeu a uma mensagem posterior, e seu advogado, Brandon Reif, não quis comentar.

Os casos da Finra tipicamente são confidenciais e a documentação sobre eles não fica disponível publicamente. Aidikoff, afirmando que processos judiciais eram prováveis, não atendeu aos pedidos de entrevistas com seus clientes sobre o caso. Mas o fato de que os atletas tenham decidido ir a público sublinha sua determinação de "garantir que a mesma coisa não aconteça a outras pessoas", disse Parsons, e de encorajar outras vítimas a se apresentarem.

Lee declarou em comunicado que acreditava que o Morgan Stanley colocaria os interesses de um cliente como ele, que investia com a empresa há muitos anos, em primeiro lugar. "Eu estava errado", ele declarou.

Os Holiday, conhecidos por seu envolvimento com filantropia, disseram: "Todos estamos expostos a exploração por pessoas como Darryl Cohen. Estamos decepcionados por uma companhia tão conhecida quanto o Morgan Stanley ter permitido que alguém como Cohen se colocasse em posição de transferir dinheiro das contas de clientes da maneira que ele fez".

Não faltam histórias sobre atletas famosos que foram enganados ou se envolveram em esquemas financeiros de alto risco. Um relatório da Ernst & Young do ano passado informou que atletas profissionais reportaram prejuízos de quase US$ 600 milhões relacionados a fraudes no período 2004-2019. "A incidência de fraude nos esportes parece estar tendendo a piorar", afirma o texto.

Mas Parsons, Lee e os Holiday são um caso diferente, disse Aidikoff, porque eles fizeram o que muitos investidores comuns fazem: recorreram a uma grande corretora e a instruíram a tomar decisões de baixo risco e longo prazo.

Jrue Holiday, 31, conquistou um título da NBA com o Milwaukee Bucks e uma medalha de ouro olímpica com a seleção de basquete dos Estados Unidos em Tóquio, no ano passado. Ele assinou uma extensão de contrato de quatro anos por US$ 134 milhões, em abril de 2021.

Holiday conheceu sua futura mulher, então Lauren Cheney, quando os dois eram alunos da Universidade da Califórnia. em Los Angeles, e a carreira dela no futebol levou a contratos de patrocínio com a Under Armour e a Chobani.

Parsons, 33, um arremessador preciso cujas melhores temporadas aconteceram no Houston Rockets e no Dallas Mavericks, se aposentou em janeiro, dois anos depois de um sério acidente de automóvel causado por um motorista embriagado. Seu último contrato, assinado em 2016, foi um acordo de quatro anos com valor de US$ 94 milhões, e ele investe em imóveis na região de Los Angeles.

Chandler Parsons (esq.) durante partida da NBA em 2016 - Soobum Im - 17.jan.16/USA TODAY Sports

Lee, 36, jogou pelos Mavericks, o oitavo time de sua carreira, em 2020, depois de assinar um contrato de quatro anos e US$ 48 milhões com o New York Knicks em 2016. Ele sofreu uma séria lesão no tornozelo em 2020, mas jogou golfe no ano passado em Thousand Oaks, Califórnia, com Parsons, Aaron Rodgers (o quarterback do Green Bay Packers) e outros.

Os atletas aparentemente obtiveram informações sobre Cohen de outras pessoas no mundo do basquete, entre as quais um ex-jogador da NBA que mais tarde se tornou assistente técnico, disse Aidikoff.

Cohen trabalhava em companhia de seu pai, Marc Cohen, na mesma agência do Morgan Stanley em Westlake Village, Califórnia. O pai dele não foi acusado de quaisquer violações e continua empregado pela firma, mostram os registros.

Os Holiday foram apresentados a Darryl Cohen na metade de 2015; Parsons o conheceu no final do mesmo ano, e Lee em algum momento de 2017, de acordo com as declarações deles à Finra.

Na metade de 2020, um consultor de negócios de Parsons percebeu alguns detalhes estranhos nos investimentos do atleta com o Morgan Stanley. Depois que Parsons contatou o escritório de Aidikoff, advogados descobriram que Cohen e o Morgan Stanley aparentemente tinham enviado cheques e transferências de dinheiro de contas de Parsons para entidades questionáveis, entre as quais uma suposta organização de caridade que construiu uma quadra de basquete no quintal da casa de Cohen.

Todos os atletas investiram em apólices de seguro de vida com base em informações enganosas fornecidas por Cohen, e usavam um contador recomendado por ele. Mas o contador na verdade era corretor de seguros, e a pessoa que assinava os documentos tributários dos atletas —pai do corretor de seguros— era um advogado que não os conhecia e nunca falou com eles.

Cohen foi alvo de algumas outras queixas, de acordo com os registros regulatórios. Em março de 2021, Nyjer Morgan, que jogou beisebol por quatro times da Major League, aceitou um acordo no valor de US$ 125 mil (R$ 645 mil) para encerrar um processo sobre uso impróprio de "uma linha de acesso a liquidez usada para emprestar fundos a entidades de negócios externas".

Um ex-cliente de Cohen, também atleta profissional aposentado, disse ao New York Times que havia decidido recorrer ao corretor por referências de amigos e depois de um jantar de vendas no qual Cohen lhe mostrou tabelas de resultados financeiros. Mas, um ano mais tarde, quando o cliente percebeu transações financeiras que lhe pareceram estranhas —e perdeu dezenas de milhares de dólares como resultado delas—, ele ficou alarmado e instruiu seu agente a encontrar outro corretor imediatamente.

"É doloroso e algo que você não esquece", disse o atleta, que falou sob a condição de que seu nome não fosse revelado, para evitar ter de reviver publicamente uma experiência dolorida.

Tradução de Paulo Migliacci

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