Antes de viajar ao México para a Copa do Mundo de 1970, a Bulgária procurou adaptar sua preparação à altitude que encontraria no país-sede do Mundial. Contudo, os responsáveis por organizar o período preparatório –todos do Partido Comunista Búlgaro– levaram em conta apenas a altura, mas não o clima.
Localizada na montanha de Rila, sul do país, a base de esportes de inverno de Belmeken (a 2.000 metros do nível do mar) foi o local escolhido para receber os jogadores que defenderiam a equipe nacional na América. Tinha quase os 2.600 metros que encontrariam em Toluca. E as semelhanças param por aí.
"Enquanto na montanha da Bulgária estava um frio de rachar, no México tivemos que jogar sob um sol escaldante e lidar com o fator umidade. Essa diferença crucial teria enorme peso no nosso desempenho naquela Copa", disse o zagueiro Dimitar Penev.
"Em Belmeken havia neve, e tínhamos de realizar atividades físicas na montanha usando equipamentos de esqui. Mas metade de nossa equipe não sabia esquiar. Um dos nossos companheiros de equipe, o Aleksandar Shalamanov, além de muito habilidoso no futebol, também tinha participado das Olimpíadas de Inverno de 1960. Então, acho que ele se divertiu bastante", completou Penev.
Aleksandar Shalamanov é considerado um dos grandes jogadores da história do futebol búlgaro. Revelado no CSKA Sofia em 1962, transferiu-se no mesmo ano ao Slavia Sofia, onde teve carreira de sucesso. Pelo clube, atuou em 262 partidas ao longo de 12 anos e conquistou três Copas da Bulgária. Nas temporadas 1963 e 1966, foi eleito o melhor futebolista do país.
Pela seleção, disputou 42 jogos e esteve nas Copas do Mundo de 1966 e 1970. Na primeira, disputada na Inglaterra, enfrentou o Brasil na fase de grupos –vitória brasileira por 2 a 0, gols de Pelé e Garrincha, no último jogo em que atuaram juntos.
"Eu era rápido, ágil e técnico. E ainda por cima jogava limpo", disse o lateral direito em entrevista ao site Blitz, em 2014.
"No geral, essas qualidades me permitiram enfrentar com êxito os melhores atacantes do planeta, como o italiano [Pierino] Prati, o português [António] Simões e especialmente Jairzinho, do Brasil, em 1966. Poucos talvez lembrem, mas no Mundial seguinte, no México, Jairzinho foi o melhor da Copa."
Em eleição popular realizada por um jornal da Bulgária para definir a melhor equipe nacional de todos os tempos, ele integrou o time ideal ao lado de nomes como Trifon Ivanov e Hristo Stoichkov, semifinalistas do Mundial em 1994.
Apesar da trajetória exitosa no futebol, a carreira de Shalamanov como esportista de elite não começou nos gramados. Foi na neve, ambiente em que se divertiu na preparação para a Copa no México, que o multiatleta se destacou primeiro.
Bicampeão nacional no slalom e campeão no slalom gigante, garantiu classificação aos Jogos Olímpicos de Inverno de 1960, em Squaw Valley (Califórnia), nos Estados Unidos.
No downhill, modalidade de velocidade que consiste em descer a montanha, terminou a prova na 47ª colocação. Já no slalom gigante, que reúne técnica e velocidade, ficou em 37º. Em sua terceira modalidade em Squaw Valley, o slalom, prova mais técnica do esqui alpino, foi desclassificado.
Aleksandar Shalamanov só foi abandonar o esqui definitivamente em 1965, época na qual já atuava como jogador profissional de futebol.
A paixão pelos esportes de inverno, porém, foi deixada como herança. Seu filho Stefan conseguiu classificação para os Jogos de Calgary-1988, também no esqui alpino. Terminou o slalom na 23ª colocação. Também disputou o slalom gigante, mas não encerrou a prova.
Após pendurar as chuteiras, seu pai continuou dedicado ao esporte que o levou a duas Copas do Mundo. No início da década de 1980, trabalhou como assistente técnico no Slavia Sofia e assumiu como técnico principal em 1983, função que ocupou até o ano seguinte e pela única vez em sua carreira.
O histórico lateral direito e atleta olímpico búlgaro morreu no dia 25 de outubro de 2021, aos 80 anos. Como forma de homenageá-lo, o Slavia renomeou o seu estádio, que passou a se chamar Alexander Shalamanov.
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