Campeão olímpico se esconde em garagem e tenta fugir de Kiev

Oleksandr Abramenko se abrigou com sua família logo após disputar as Olimpíadas de Inverno

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John Branch
Nova York | The New York Times

Há 20 dias, Oleksandr Abramenko estava na China, celebrando sua medalha de prata –a única conquistada pela Ucrânia nas Olimpíadas de Inverno de Pequim. Em 2018, em Pyeongchang, foi ouro.

Abramenko, um dos mais talentosos atletas em manobras aéreas no esqui estilo livre, participante de cinco edições olímpicas e porta-bandeira de sua delegação na cerimônia de abertura em Pequim, atraiu mais atenção depois do evento, quando a fotografia de um abraço entre ele e um rival russo circulou amplamente.

Na noite de sexta-feira (4), em Kiev, Abramenko, 33, estava na garagem de seu edifício, com sua mulher, Alexandra, e Dmitri, 2, o filho do casal. Tentavam se proteger na guerra travada em seu país.

Oleksandr Abramenko, medalhista de prata nos Jogos de Inverno, esconde-se com a família em uma garagem de Kiev
Oleksandr Abramenko e sua família, escondidos em Kiev - Oleksandr Abramenko

Milhares de pessoas estavam tentando fugir da cidade, o que resultou em grandes multidões e caos na principal estação ferroviária da capital ucraniana, enquanto as forças armadas da Ucrânia informavam que o principal objetivo do exército russo era cercar a cidade de Kiev.

Em uma conversa via mensagens de texto, Abramenko pediu que alguém tirasse uma foto de sua família. Eles estavam agasalhados contra o frio e sentados em um colchão. Dmitri tinha uma chupeta na boca.

Era a sétima noite em que a família dormia na garagem, acreditando que estava mais segura lá do que em seu apartamento no 20º andar, não muito distante do principal aeroporto da cidade.

"Passamos a noite na garagem subterrânea, dentro do carro, porque o alerta de ataque aéreo estava soando constantemente", escreveu Abramenko em uma de suas mensagens. "Dormir no apartamento era assustador demais. Eu mesmo via da janela como os sistemas de defesa aérea estavam trabalhando contra os mísseis inimigos, e explosões fortes eram audíveis."

Na sexta-feira, em meio à corrida para abandonar Kiev, Abramenko sabia que era hora de partir, a caminho de um futuro desconhecido. A família planejava deixar a cidade de carro no sábado (5), viajando para o oeste da Ucrânia, perto das fronteiras com a Eslováquia e a Hungria. Em condições normais, uma viagem como essa levaria ao menos dez horas.

"Eu planejo viajar para a casa de meu treinador, Enver Ablaev, que vive em Mukachevo, na região da Transcarpátia", disse Abramenko. "Vou de carro, levando coisas essenciais comigo, comida e minhas medalhas olímpicas."

Além da medalha de prata conquistada recentemente, Abramenko ficou com o ouro nas Olimpíadas de Inverno de 2018.

Abramenko exibe a medalha de prata obtida em Pequim - Lisi Niesner - 17.fev.2022/Reuters

O pequeno mundo do esqui freestyle está procurando oferecer algum conforto ao colega. Atletas da Suíça, entre os quais Andreas Isoz, um antigo competidor olímpico, estão arrecadando dinheiro e planejavam viajar no final de semana a Mukachevo ou o mais perto que pudessem chegar da fronteira ucraniana, para distribuir suprimentos.

Abramenko não está certo sobre o que o futuro imediato pode trazer. Ele está preocupado com seus pais, que vivem em Mikolaiv, uma cidade portuária no Mar Negro, onde o atleta cresceu. A cidade fica entre Kherson, ocupada pelos russos, e Odessa, alvo importante para a Rússia.

Tradução de Paulo Migliacci

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