Descrição de chapéu Boxe

Primeiro medalhista do boxe brasileiro acusa COI de racismo estrutural

Servílio de Oliveira, bronze em 1968, diz que retirada do esporte dos Jogos prejudica atletas negros

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Salvador

Prestes a completar 74 anos, Servílio de Oliveira ainda luta. Primeiro medalhista olímpico do boxe brasileiro, ele não tem muita paciência para discutir os motivos que levaram o COI (Comitê Olímpico Internacional) a excluir a modalidade do programa olímpico a partir dos Jogos de 2028, em Los Angeles.

Para o pugilista que conquistou o bronze nos Jogos do México, em 1968, trata-se de racismo.

"Ao tirar o boxe, o COI pune o atleta. E quem pratica o esporte são as pessoas menos favorecidas e negros. É racismo estrutural", diz o ex-atleta à Folha.

A decisão ocorreu meses após o Brasil ter obtido seu melhor resultado na história da competição. No masculino, conquistou uma medalha de ouro (Hebert Conceição) e uma de bronze (Abner Teixiera). No feminino, foi prata com Beatriz Ferreira.

O ex-pugilista Servílio de Oliveira mostra a medalha olímpica que conquistou nos Jogos Olímpicos da Cidade do México em 1968
Servílio exibe sua medalha dos Jogos de 1968 - Rodolfo Stipp Martino - 19.out.18/Folhapress

A medida não é definitiva, e a IBA (Internacional Boxe Association) pode apresentar apelação.

"Eu espero que isso mude, tem até 2023 para entrar com o recurso", completa Servílio.

Durante 34 anos, ele foi o único medalhista do país na modalidade. Isso mudou apenas em 2012, quando Esquiva Falcão foi prata e Yamaguchi Falcão e Adriana Araújo ficaram com o bronze em Londres.

Um dos motivos para a retirada inicial do boxe do programa olímpico foram denúncias de irregularidades na IBA.

"Se a IBA fez falcatrua, tem de punir a entidade, não a modalidade. Para mim, isso é uma tremenda gafe do COI. Trata-se de um esporte milenar [na história das Olimpíadas]", defende Servílio.

Mas essa não é sua única batalha atual. Ele briga também com a Fundação Palmares, que em 2020 retirou seu nome da lista de homenageados da entidade criada para combater o racismo e valorizar os feitos de brasileiros negros. O órgão, ligado ao governo federal, definiu que apenas poderiam ser celebradas pessoas já mortas.

Em maio do ano passado, Servílio obteve uma decisão favorável para que fosse recolocado entre os homenageados e recebesse indenização de R$ 10 mil. A entidade recorreu.

"É frustrante. Fico decepcionado. Um negro, como eu, a serviço do sistema", lamentou, referindo-se a Sérgio Camargo, presidente da fundação.

Neste sábado (19), Servílio de Oliveira será um dos atletas conduzidos ao hall da fama do esporte brasileiro, criado pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil), durante congresso da entidade, em Salvador.

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