Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Rússia vê debandada de jogadores estrangeiros após ataque à Ucrânia

Brasileiros estão entre os atletas que vão deixando o país governado por Putin

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São Paulo

Uma semana depois de a Rússia ter iniciado uma guerra contra a Ucrânia, o zagueiro Pablo, 30, tomou a decisão de deixar o país governado por Vladimir Putin.

Contratado pelo Lokomotiv Moscou em janeiro de 2021, o defensor, com passagem pelo Corinthians e pelo futebol da França, passou a ver como um risco sua continuidade no país em meio a sanções que possam afetar diretamente a capacidade financeira dos clubes.

O jogador não descarta que, com o desenrolar do conflito armado, a própria Rússia passe a ser atacada por forças rivais. Por isso, ele entrou em acordo com o clube para rescindir seu contrato.

Pablo não está sozinho em seu movimento. Desde que Putin decidiu invadir a Ucrânia, no último dia 24, um clima de insegurança e incertezas passou a afetar atletas que atuam no futebol russo, sobretudo os estrangeiros.

Zagueiro Pablo durante partida pelo Lokomotiv, da Rússia
Zagueiro Pablo durante partida pelo Lokomotiv, da Rússia - Kirill Kudryavtsev - 21.out.21/AFP

A guerra em solo ucraniano fez a Rússia ser alvo de várias sanções, incluindo econômicas e esportivas. A Fifa e a Uefa, por exemplo, anunciaram a suspensão da seleção nacional e dos clubes do país de todas as competições internacionais, como as Eliminatórias da Copa do Mundo e a Liga Europa. As punições são por tempo indeterminado.

A União Russa de Futebol (RFS) criticou as decisões das entidades e disse que elas não possuem bases legais. A federação prometeu entrar com uma ação na CAS (Corte Arbitral do Esporte). "A Fifa e a Uefa não consideraram outras opções possíveis, exceto a exclusão completa dos times russos", afirmou a RFS.

Enquanto isso, federações de outros países começam a agir para tentar receber os jogadores estrangeiros que desejam deixar a Rússia por conta dessa situação. De acordo com o jornal The Guardian, a federação polonesa já enviou à Fifa uma carta na qual solicita a abertura da janela de transferência do futebol russo de forma emergencial.

O jornal croata Jutarnji Lis afirma que a entidade máxima do futebol mundial deverá se pronunciar em até dez dias sobre a solicitação.

Atualmente, 16 brasileiros atuam em território russo. No total, são 132 estrangeiros na primeira divisão, segundo o site oGol, especializado em registros de atletas.

Atendendo a um pedido dos próprios jogadores, o Krasnodar informou a suspensão do contrato de todos os estrangeiros do clube. Em nota, o time infirmou que "os atletas vão treinar por conta própria enquanto seus contratos são válidos". Entre eles estão os brasileiros Kaio, 26, e Wanderson, 27.

"Não tem sido fácil, mas o clube entendeu o pleito dos jogadores e liberou alguns atletas para um possível empréstimo. Nós conversamos bastante e entendemos que é o melhor caminho neste momento", afirmou o meia Wanderson, que é natural de São Luís e deixou o Brasil sem ter atuado na base de um clube do país.

O atleta, que começou a carreira nas categorias menores do Ajax, da Holanda, deseja agora atuar no futebol brasileiro. "Eu estou muito motivado para isso."

Além deles, o paraguaio Júnior Alonso, ex-Atlético-MG, o norueguês Eric Bootheim, o equatoriano Christian Ramirez, o colombiano John Cordoba, o sueco Victor Klasson e o francês Remy Cabella foram liberados.

O Krasnodar também confirmou que o técnico alemão Daniel Farke e sua comissão técnica rescindiram os seus contratos com o clube, em comum acordo, antes mesmo de estrearem.

Na contramão do alemão, o técnico italiano Paolo Vanoli, do Spartak, contratado em 2021, afirmou que vai ficar no país "até o último momento, enquanto houver possibilidade", pois ele acredita que "o futebol envia uma mensagem ao mundo".

Além do afastamento de torneios importantes, que são a principal vitrine para os jogadores conseguirem transferências para mercados mais importantes, a capacidade financeira dos times russos também virou um motivo de preocupação.

As principais agremiações do país são controladas por oligarcas bilionários, que, além de alvos de sanções econômicas ocidentais, estão vendo suas fortunas afetadas pela desvalorização do rublo, a moeda da Rússia. Dia após dia, a unidade financeira do país controlado por Putin vem perdendo seu valor.

O bilionário Leonid Fedun, por exemplo, dono do Spartak, o maior campeão russo, com dez títulos nacionais, já perdeu quase 80% de seu dinheiro desde o início da guerra na Ucrânia.

O 22º homem mais rico da Rússia, que é também o vice-presidente da petrolífera LUKoil e tinha sua fortuna estimada em US$ 5,72 bilhões (R$ 28,7 bilhões), disse ao canal Match TV que, mesmo com a perda, vai continuar a financiar o clube.

​​CSKA, Zenit, Lokomotiv e Rubin, que completam a lista dos cinco maiores campeões do país, também estão entre as equipes controladas por oligarcas bilionários ligados a Putin ou por empresas estatais.

Para Jim Riorda, professor emérito da Universidade de Surrey, na Inglaterra, "alguns oligarcas bilionários veem no futebol uma espécie de véu, como uma forma de limpar suas imensas riquezas". O pesquisador é autor do artigo "Pela Rússia, pelo dinheiro e pelo poder", no qual analisa as ligações de Vladimir Putin com os bilionários russos que controlam equipes de futebol do país.

É justamente por essas ligações que o futuro dessas equipes no cenário internacional está indefinido e a debandada dos atletas estrangeiros parece inevitável.

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