Suíça, de novo no caminho do Brasil na Copa, foge dos estereótipos

Historicamente vista como defensiva e fraca, disputou todos os Mundiais desde 2006

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São Paulo

Quando Ángel Di María enfim superou o goleiro Diego Benaglio nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2014, o locutor argentino não se conteve e gritou:

"Vá trabalhar em um banco, Benaglio!"

Em um dos jogos mais emocionantes daquele mundial, no Brasil, a seleção de Lionel Messi derrotou a Suíça por 1 a 0 com um gol no último minuto da prorrogação. Antes do apito final, os suíços acertaram uma bola na trave da Argentina e quase levaram o confronto para os pênaltis.

Na cultura do futebol, especialmente na América do Sul, a Suíça, segunda adversária brasileira no torneio do Qatar deste ano, é um alvo fácil. País rico, pequeno, frio, conhecido pela neutralidade política e centro financeiro mundial, ele tem –mesmo que isso não seja reconhecido– ganhado relevância em campo.

Brasil e Suíça se enfrentarão no dia 28 de novembro, uma segunda-feira, no estádio Ras Abu Aboud, em Doha.

O meia-atacante Xherdan Shaqiri durante amistoso contra a Inglaterra, em Wembley
O meia-atacante Xherdan Shaqiri durante amistoso contra a Inglaterra, em Wembley - Adrian Dennis - 26.mar.2022/AFP

A seleção esteve presente em todas as Copas desde 2006. Sempre se classificou para as oitavas de final, menos em 2010, quando caiu na fase de grupos. Mas, no caminho, derrotou a Espanha, que seria, seis jogos depois, campeã do mundo.

Os estereótipos da nação fazem com que os feitos no futebol possam não ser valorizados. Em 2006, foi eliminada nos pênaltis pela Ucrânia. Despediu-se do torneio na Alemanha sem sofrer gols, o que reforçou a imagem do esquema defensivo, do ferrolho. Referência à tática utilizada pela equipe em 1938, há 84 anos, considerada a primeira retranca da história.

Mas foi o torneio em que a Suíça, conhecida pela neutralidade, eliminou a Alemanha nazista marcando quatro gols na partida de desempate. Chegou às quartas de final, igualando o seu melhor resultado na competição. Quatro anos antes também esteve a 90 minutos da semifinal.

O país que passou a ser quase sinônimo de estilo defensivo protagonizou o confronto com mais gols na história das Copas do Mundo. Em 1954, foi eliminado também nas quartas pela Áustria, em derrota por 7 a 5.

Será a terceira vez que a Suíça estará no caminho do Brasil e está invicta. Foi o único jogo que a equipe sul-americana não venceu antes da decisão contra o Uruguai em 1950: empate por 2 a 2 no Pacaembu. Na Rússia, em 2018, as seleções ficaram no 1 a 1, também pela fase de grupos.

Assim como já aconteceu em outros torneios, a seleção deverá levar ao Qatar um elenco multiétnico. O nome ofensivo ainda mais conhecido é Xherdan Shaqiri. Nascido na antiga Iugoslávia, no território hoje pertencente a Kosovo, ele é filho de pais albaneses e poderia representar qualquer um desses países.

Ao ganhar de virada da Sérvia por 2 a 1, no Mundial de 2018, fez símbolo da águia negra de duas cabeças presente na bandeira da Albânia, origem da maioria do povo kosovar. O gesto causou polêmica. Foi repetido na mesma partida pelo capitão Granit Xhaka, nascido na Basileia, mas filho de albaneses.

Mesmo o técnico Murat Yakin, ex-zagueiro de carreira discreta, tem ascendência turca.

Isso não é novidade. Em seleções anteriores, já acontecia. Um dos maiores meias da história do país, Ciriaco Sforza, é filho de pais italianos criado na parte alemã da Suíça. Ele participou do que é considerada a geração de ouro do futebol nacional que tinha os atacantes Stéphane Chapuisat e Adrian Knup e disputou a Copa do Mundo de 1994.

A base da Suiça que vai ao Qatar deverá ser formada pela seleção que disputou a Eurocopa de 2020. A mesma que eliminou nas oitavas de final a campeã do mundo França, nos pênaltis, após empatar por 3 a 3 um jogo em que perdia por 3 a 1.

A liga nacional é inexpressiva no cenário europeu e tem sido dominada nos últimos anos pelo Young Boys, atual tetracampeão. É a equipe que obteve o melhor resultado no continente. Foi semifinalista da Copa da Europa em 1959, torneio que em 1992 se transformaria na Champions League. Na competição da atual temporada, o clube terminou em último no seu grupo e acabou eliminado.

O maior vencedor local é o Grasshopers, campeão 26 vezes.

A Suíça entrou nas Eliminatórias como segunda força de sua chave, mas ficou com a única vaga de forma direta e empurrou a Itália para a repescagem, onde foi eliminada pela Macedônia do Norte. Na última rodada, goleou a Bulgária por 4 a 0 e contou com o empate italiano com a Irlanda do Norte para terminar na primeira colocação.

Para conseguir a classificação, a Suíça manteve sob o comando de Murat Yakin o mesmo estilo de jogo do seu antecessor, Vladimir Petkovic, uma variação entre o 4-3-3 e 4-2-3-1, com Granit Xhaka na função de volante que também chega ao ataque para finalizar.

Em Haris Seferovic a seleção tem um atacante que sabe fazer gols, mesmo que seja para entrar durante as partidas. A referência ofensiva ainda é Shaqiri, atualmente no Chicago Fire, da MLS (Major League Soccer). Yann Sommer é considerado um dos melhores goleiros do Campeonato Alemão. Em oito partidas nas Eliminatórias, a Suíça sofreu apenas dois gols.

SUÍÇA

Continente: Europa
Capital: Berna
Área: 41.285 km²
População: 8,6 milhões
Principais conquistas no futebol: quartas de final das Copas de 1934, 1938 e 1954
Maior artilheiro: Alexander Frei (42 gols)

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