Descrição de chapéu Libertadores

Uruguaio e argentino resistem como técnicos estrangeiros com mais títulos no Brasil

Abel Ferreira persegue Felix Magno e Juan Celly, que deixaram sua marca no século passado

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São Paulo

Em 24 de fevereiro de 1980, o Jornal de Sergipe publicou a seguinte manchete: Itabaiana ensinou futebol ao tricampeão brasileiro. A equipe nordestina havia derrotado o Internacional, vencedor da Série A em 1975, 1976 e 1979, por 2 a 1, no Beira-Rio. Era um feito.

"É um time de verdadeiros machos", elogiou o técnico, o argentino Juan Celly.

Juan Celly (à dir.) durante trabalho no futebol sergipano
Juan Celly (à dir.) durante trabalho no futebol sergipano - Divulgação

Quando isso aconteceu, o uruguaio Felix Magno, um oráculo do futebol em Porto Alegre, já estava aposentado. O ex-jogador e treinador uruguaio morreria no ano seguinte, como um dos maiores técnicos da história do Coritiba.

Ao estrear no Campeonato Brasileiro neste sábado (9), contra o Ceará, Abel Ferreira buscará uma sequência no Palmeiras que pode levá-lo a igualar Magno e superar Celly, os dois técnicos estrangeiros com mais títulos no futebol nacional —contando estaduais de primeira divisão, torneios nacionais e internacionais.

"Eu sou um cigano do futebol que se estabeleceu no Brasil", disse Magno, em entrevista pouco antes de morrer.

Nascido em Las Piedras, no Uruguai, ele chegou ao Brasil em 1926, aos 18 anos. Atuou em oito times da região Sul do país, mas foi como técnico que deixou sua marca. Foi pentacampeão paranaense pelo Coritiba (1951, 1954, 1956, 1957 e 1959), duas vezes vencedor do Mineiro pelo Atlético (1946 e 1947) e triunfou no Catarinense pelo Avaí (1943).

Algumas publicações o creditam também com o título de Santa Catarina do ano seguinte, mas isso não aconteceu. "Na conquista de 1944, o treinador do Avaí era João Rosa", diz Spyros Diamantaras, historiador do clube.

Felix Magno com faixa de campeão paranaense pelo Coritiba
Felix Magno com faixa de campeão paranaense pelo Coritiba - @Coritiba no Twitter

Seus oito troféus representam um a mais do que os levantados por Juan Celly. Argentino nascido em Santo Tomé, província de Corrientes, fez carreira como técnico no futebol nordestino, especialmente em Sergipe. Pelo Itabaiana, foi campeão estadual em 1973, 1978, 1979 e 1980. Levantou a taça pelo Confiança em 1990. Fez parte da vitória do Sergipe em 1964 e 1982, esta última dividida com o Itabaiana.

Tal qual Abel Ferreira, Celly afirmava estar preocupado com a qualidade do futebol local e sugeria mudanças. O atual comandante do Palmeiras já se mostrou contrariado com alguns aspectos do esporte no país. Como o calendário, por exemplo.

Em entrevista à Gazeta de Sergipe, em 1964, Celly sugeriu a divisão do Campeonato Sergipano entre equipes do interior e da capital. Seriam dois torneios diferentes, inspirados no que foi feito por décadas na Argentina, onde havia o torneio metropolitano, entre os times da região de Buenos Aires, e os do interior.

"No final, em melhor de três, seria conhecido o campeão. Acrescenta ainda, está faltando valores, renovação. Com atração de outros centros não somente seria a evolução do futebol sergipano como um meio de arrastar o torcedor para as praças de esportes, obtendo assim melhores rendas", diz o texto da reportagem, falando sobre a competição estadual.

Abel Ferreira tem cinco títulos conquistados no país: Copa do Brasil de 2020, Libertadores de 2020 e 2021, Recopa Sul-Americana de 2022 e Paulista de 2022.

Na teoria, tem a possibilidade de ganhar mais três até dezembro: Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores. Isso o faria chegar a oito. Não há data ainda para realização do Mundial de Clubes, competição disputada pelo melhor sul-americano.

"Eu não sei como o time vai estar na metade da temporada. Nossas prioridades foram o Mundial e a Recopa. Nós preparamos esses jogadores, desde o início, com muita intensidade. Temo, fruto da densidade competitiva, dessas viagens que vamos fazer, extremamente desgastantes, o pouco tempo de repouso. Não sei como vamos aguentar, mas vamos fazer tudo o que for possível", disse o português depois de conquistar o título paulista com goleada por 4 a 0 sobre o São Paulo.

Segundo o técnico, o Palmeiras foi preparado para atingir o ápice físico no Mundial de Clubes, em fevereiro, quando foi derrotado pelo Chelsea.

Treino do Palmeiras em agosto de 1948. Time era comandado por Felix Magno
Treino do Palmeiras em agosto de 1948. Time era comandado por Felix Magno - Folhapress

É possível ressaltar que na lista de vitórias de Abel constam torneios nacionais e internacionais, na teoria mais difíceis que os estaduais obtidos por Magno e Celly. Mas os técnicos uruguaio e argentino também superaram dificuldades, como o nível de profissionalismo do futebol nas décadas passadas, algo que o português não enfrenta no Palestra Itália.

"Futebol está no meu sangue, então, nem o considero profissão. É um hobby", disse ao Jornal do Dia, do Rio Grande do Sul, em 1957, Felix Magno, ainda o maior vencedor estrangeiro no Brasil.

Juan Celly (1930-2015)

Argentino de Santo Tomé, na província de Corrientes, fez carreira como técnico em clubes do Nordeste e obteve sucesso em Sergipe. Foram sete títulos estaduais, entre triunfos conquistados pelo Itabaiana, pelo Confiança e pelo Sergipe. Como ocorre agora com o português Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, gostava de sugerir mudanças na estrutura das competições brasileiras.

Felix Magno (1909-1981)

Nascido em Las Piedras, no Uruguai, chegou ao Brasil aos 18 anos e atuou por oito times da região Sul. Foi como técnico, porém, que ganhou destaque. Conquistou o Campeonato Paranaense com o Coritiba cinco vezes na década de 1950. Foi ainda bicampeão mineiro pelo Atlético e conquistou uma edição do Campeonato Catarinense como comandante do Avaí.

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