Copa do Mundo terá mulheres na arbitragem pela primeira vez

Fifa seleciona três juízas e outras três assistentes para o Mundial masculino

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Tariq Panja
The New York Times

A Copa do Mundo do Qatar sempre esteve destinada a registrar muitos feitos inéditos: a primeira a ser jogada no Oriente Médio, a primeira a ser disputada em novembro e dezembro. E, agora, será também a primeira Copa do Mundo masculina a ter um jogo apitado por uma mulher.

Na quinta-feira (19), a Fifa apontou três mulheres como parte do grupo de 36 árbitros selecionados para apitar no torneio, e outras três para o grupo de assistentes que trabalharão como bandeirinhas. A mais provável candidata para o posto de primeira mulher a apitar uma partida de Copa do Mundo é Stephanie Frappart, da França, que já derrubou diversas barreiras no futebol europeu.

Frappart também foi escolhida para fazer parte das equipes de arbitragem da Eurocopa, no ano passado, mas ficou limitada a trabalhar como quarta árbitra, uma função que a posiciona entre os bancos de reservas dos dois times.

A francesa Stéphanie Frappart é uma das juízas selecionadas - Sylvain Thomas - 12.fev.22/AFP

Ao anunciar suas escolhas para a arbitragem, a Fifa está posicionada para ir um passo além. Além de Frappart, foram selecionadas como potenciais árbitras a japonesa Yoshimi Yamashita e Salima Mukansanga, de Ruanda. Elas, e os demais árbitros escolhidos para a Copa do Mundo, participarão de seminários de preparação para o torneio, que envolverá 32 seleções.

"Isso conclui um longo processo que começou diversos anos atrás com a indicação de árbitras para competições juvenis e de veteranos da Fifa", disse Pierluigi Collina, presidente da Comissão de Arbitragem da Fifa. "Dessa maneira, enfatizamos claramente que aquilo que nos importa é a qualidade, não o gênero."

Mulheres das Américas foram selecionadas para participar do torneio como bandeirinhas: a norte-americana Kathryn Nesbitt, a mexicana Karen Díaz e a brasileira Neuza Back.

Para a Fifa, o esforço para incluir mulheres, nos gramados e fora deles, tornou-se cada vez mais urgente devido ao questionamento quanto à maneira pela qual a organização administra o esporte, e diante do crescente interesse mundial pelo futebol feminino.

O dinheiro investido no desenvolvimento de jogadoras e árbitras cresceu muito. Isso, de acordo com Collina, deve ajudar a fazer da seleção de árbitras mulheres e sua presença apitando partidas um assunto de discussão menos frequente do que é o caso hoje.

"Eu esperaria que, no futuro, a seleção de mulheres como árbitras para torneios de elite masculinos seja percebida como normal e deixe de causar sensação", afirmou. "Elas merecem estar na Copa do Mundo da Fifa porque desempenham constantemente em alto nível, e esse é o fator importante para nós."

Por enquanto, ainda há desafios e problemas. Frappart recebeu mensagens abusivas antes e depois de arbitrar uma partida da Copa da França, que foi decidida em batida de pênalti. Ela disse que evita as redes e raramente lê reportagens sobre futebol.

"Pessoalmente, meu foco é aquilo que ocorre no campo, e não presto atenção a controvérsias e discussões sobre meu desempenho", afirmou.

Neuza Back é uma das assistentes escolhidas para a Copa - Karim Jaafar - 7.fev.21/AFP

Que a oportunidade de que árbitras apitem pela primeira vez uma partida de Copa do Mundo surja em um país conservador do Golfo Pérsico como o Qatar só torna a situação mais intrigante. Alguns estabelecimentos e restaurantes do minúsculo emirado promovem a separação entre homens e mulheres; os homens não podem entrar nas áreas reservadas a mulheres e famílias. Os estádios, porém, operarão de modo aberto, sem restrições desse tipo.

A Fifa vem se tornando mais inovadora quando o assunto é a arbitragem de seu torneio multibilionário. As duas últimas edições da Copa do Mundo empregaram tecnologia para determinar se a bola passou da linha do gol. Na última Copa, na Rússia, a Fifa adotou um sistema de assistência por vídeo à arbitragem (VAR).

O VAR também foi usado na mais recente Copa do Mundo feminina, na França, em 2019, mas sua utilização, em grande parte por causa do custo, ainda não se generalizou no esporte. Por esse motivo, a Fifa disse que as equipes de controle do sistema de apoio por vídeo chegarão principalmente da Europa e da América do Sul.

Selecionar os árbitros para o torneio foi dificultado pela pandemia, e é também por isso que a Fifa anunciou sua seleção de árbitros mais tarde do que costuma.

"Queremos trabalhar ainda mais com aqueles que foram apontados para a Copa do Mundo da Fifa, monitorando-os nos próximos meses", disse Collina, que apitou uma final de Copa do Mundo. "A mensagem é clara: não relaxe agora que foi escolhido, continue trabalhando com afinco e se preparando com muita seriedade para a Copa do Mundo."

Pierluigi Collina cobra boa forma física dos árbitros - Carl Recine - 1º.abr.22/Reuters

A Fifa quer que os árbitros tenham um condicionamento físico que permita que acompanhem os jogadores, cada vez mais bem preparados fisicamente. Para isso, a organização anunciou que montará um plano de condicionamento para cada árbitro desembarcar no Qatar no auge da forma.

"Todos os membros das equipes de arbitragem serão monitorados cuidadosamente nos próximos meses, e uma avaliação final sobre os aspectos físicos, técnicos e médicos será realizada pouco antes da Copa do Mundo", disse Massimo Busacca, diretor de arbitragem da Fifa.

Mas, apesar de todo esse trabalho, o destino de um árbitro pode ser definido por um erro.

"Não temos como eliminar todos os erros, mas faremos todo o possível para reduzi-los", disse Busacca.

Tradução de Paulo Migliacci

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