Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Demissão de Mohamed mostra que instabilidade também atinge técnicos estrangeiros

Atlético dispensou o treinador; estudo mostra pouco tempo de trabalho para os profissionais

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São Paulo

Durou pouco mais de seis meses a experiência de Antonio "Turco" Mohamed no Brasil. Contratado em janeiro deste ano com a missão de fazer um dos times mais caros do país mostrar bom futebol e conquistar títulos, ele foi demitido pelo Atlético Mineiro nesta sexta-feira (22), um dia após o empate em 1 a 1 com o Cuiabá, fora de casa, pelo Campeonato Brasileiro.

"Não estamos funcionando como equipe. Há vários aspectos do jogo que precisamos melhorar", constatou ele após o resultado no Mato Grosso.

Antonio Mohamed dirige o Atlético em partida contra o Independiente del Valle, pela Libertadores
Antonio Mohamed dirige o Atlético em partida contra o Independiente del Valle, pela Libertadores - Douglas Magno-19.mai.22/AFP

O argentino com passagens de sucesso pelo México aprendeu o que os profissionais do país já sabem faz tempo. Em poucos países há tão pouca paciência com treinadores quanto no Brasil.

O CIES Football Observatory, grupo de estudos que funciona dentro do Centro Internacional de Estudos do Esporte, na Suíça, produziu relatório com dados de 126 ligas ao redor do mundo para descobrir onde há mais e menos tempo para o técnico trabalhar.

Com informações coletadas até 1º de março deste ano, o estudo colocou a Série A do Brasileiro em 118º lugar, com duração média de trabalho de 120 dias para cada treinador. A Série B ficou em 120º (104 dias).

A liga mais "paciente" com os técnicos é a elite da Irlanda do Norte, com média de 1.066 dias.

Em seus seis meses em Belo Horizonte, Mohamed conquistou o Campeonato Mineiro e a Supercopa do Brasil. Seu aproveitamento foi de 69% dos pontos disputados, com 27 vitórias em 45 jogos.

Não são números ruins, mas o Atlético tenta manter o título nacional (está em terceiro, a quatro pontos do líder Palmeiras), foi eliminado pelo Flamengo jogando mal na Copa do Brasil e enfrenta o clube de Palestra Itália pelas quartas de final da Libertadores. Esta, a competição mais importante de todas.

"O futebol brasileiro é muito emocional. É por isso que vocês mandam tantos técnicos embora. É porque é com emoção", analisou Abel Ferreira já em 2021, ao constatar o vaivém de nomes nos clubes do país.

E Ferreira é quem deu mais certo entre todos os treinadores do exterior. Conquistou duas Libertadores, uma Copa do Brasil, um Paulista e uma Recopa Sul-Americana.

O mais cotado para substituir Mohamed, no momento, é Renato Gaúcho. Isso serve para reforçar a visão de que quando têm experiências consideradas ruins com estrangeiros, os clubes apostam em nomes nacionais.

Quando a Série A teve início, em 9 de abril, nove equipes tinham técnicos nascidos no exterior: Atlético-MG, Palmeiras, Corinthians, Internacional, Santos, Coritiba, Fortaleza, Botafogo e Flamengo.

O Flamengo trocou o português Paulo Sousa por Dorival Júnor. O Internacional demitiu Cacique Medina e contratou Mano Menezes. O Santos substituiu Fabián Bustos por Lisca.

"Cada vez que troco um técnico, é sinal de erro no planejamento", confessou o presidente do Santos, Andreas Rueda.

Desde que assumiu o cargo, no início de 2021, o time tem média de uma mudança de comando a cada quatro meses.

"Para mim, seria um fato normal [técnicos estrangeiros no Brasil] desde que os brasileiros também tivessem oportunidades nos países de origem desses treinadores, o que não acontece Quando falam que não temos mercado de trabalho no exterior, é que não podemos entrar em países da Europa", queixou-se Dorival Júnior, em entrevista ao Lance!

Além da questão da validação na Europa dos certificados emitidos pela CBF, o mercado europeu costuma procurar nomes argentinos quando olha para profissionais sul-americanos. O último brasileiro a fazer sucesso no Velho Continente foi Carlos Alberto Silva (1939-2017), bicampeão português com o Porto (1992-1993).

O país não tem um técnico em um grande europeu desde que Vanderlei Luxemburgo foi demitido pelo Real Madrid, em 2005.

Clubes que começaram o Brasileiro com técnicos estrangeiros

Atlético Mineiro
Time tinha o argentino Antonio Mohamed como técnico. Ele foi demitido nesta sexta-feira (22).

Internacional
O uruguaio Alexandre "Cacique" Medina foi desligado do clube após um mês do início do Brasileiro e substituído por Mano Menezes

Flamengo
Sem jamais conseguir conquistar a confiança da torcida ou dos jogadores, o português Paulo Sousa caiu em junho. Em seu lugar, entrou Dorival Júnior

Santos
Com elenco limitado nas mãos, o argentino Fabián Bustos não conseguiu fazer o time jogar bem e acabou mandado embora no início deste mês. O Santos teve Marcelo Fernandes como interino e contratou Lisca.

Palmeiras
O português Abel Ferreira comanda a equipe desde o final de 2020 e já conquistou duas Libertadores, uma Copa do Brasil, um Paulista e uma Recopa Sul-Americana.

Corinthians
Depois de demitir Sylvinho, Corinthians importou o português Vitor Pereira no final de fevereiro. Time briga nas primeiras posições do Brasileiro, está nas quartas de final da Libertadores e da Copa do Brasil.

Fortaleza
Contratado em junho de 2021, o argentino Juan Pablo Vojvoda levou o Fortaleza às oitavas de final da Libertadores, ganhou dois estaduais e uma Copa do Nordeste.

Botafogo
O português Luis Castro chegou em março deste ano para ser o primeiro treinador do projeto de SAF do Botafogo.

Coritiba
O paraguaio Gustavo Morínigo assumiu o Coritiba em janeiro de 2021. Além de recolocar a equipe na elite do país, conquistou o Paranaense deste ano.

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