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Melhor momento da vida impulsiona Filipe Toledo em luta por título mundial

Paulista supera fase depressiva e se aproxima de seu grande objetivo no surfe

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São Paulo

O inquestionável talento de Filipe Toledo esbarrou algumas vezes em um problema: Filipe Toledo.

A carreira do paulista de 27 anos já o credencia como um dos grandes surfistas brasileiros da história, mas foi só quando conseguiu um controle maior sobre a própria mente que ele pôde atingir todo o seu potencial. "Em paz", como define, vive hoje "o melhor momento" de sua vida e também "o auge" da carreira.

"A gente vê pelos resultados. Eu reparei que é quando estou confortável que os resultados aparecem", resumiu o líder disparado do Mundial, em entrevista à Folha. "É estar bem comigo mesmo, antes de mais nada. E, cara, tem trazido resultados muito bons para mim. Tenho estado tranquilo e bem confortável."

Filipe Toledo celebra o título da etapa de Saquarema do Mundial; triunfo lhe deu ampla vantagem na primeira colocação - Thiago Diz - 28.jun.22/World Surf League

Houve períodos em que não foi assim. Aspirante ao título da temporada 2015 –chegou à etapa final com chance real–, teve de se contentar com o décimo lugar nos dois anos seguintes. Em 2017, ficou marcado por um momento de fúria contra os juízes e chegou a ser suspenso pela WSL (Liga Mundial de Surfe). Depois, veio a depressão.

"Passei por momentos realmente difíceis, 2019 foi um ano bem complicado para mim, psicologicamente, emocionalmente. E percebi que falar sobre a situação com alguém, um profissional, é fundamental. Foi o que me ajudou e hoje me ajuda a identificar quando vejo que posso estar voltando para um comportamento ruim, triste, depressivo. Hoje, sei manobrar isso e passar por cima dessa situação", afirmou.

Um dos motivos para a infelicidade no circuito era a frequente distância dos filhos, Mahina, hoje com cinco anos, e Koa, com quatro. A mulher, Ananda, atualmente com 28 anos, procurou ajudá-lo e o fez, dentro de suas possibilidades. "Se não fosse ela, não sei o que aconteceria. Mas chegou o momento em que ela já não tinha os recursos, porque não é uma profissional da área. Aí, comecei a falar com um profissional."

O semblante de Filipe já era outro na temporada passada. Acompanhado em algumas etapas da mulher, dos filhos e do pai –o ex-surfista Ricardo Toledo, 54–, passou boa parte do campeonato sorrindo. Ganhou duas etapas, avançou até a decisiva, em San Clemente, nos Estados Unidos, e foi derrotado por um inspirado Gabriel Medina.

Terminada a bateria derradeira, o tricampeão mundial colou o rosto no do vice e avisou: "Sua hora vai chegar".

De lá para cá, Toledo dominou o campeonato. Medina se ausentou da primeira metade da competição de 2022 –justamente para cuidar da saúde mental, assunto sobre o qual conversou brevemente com Filipe– e, quando voltou, não conseguiu entrar na briga pelo título. Que já teria um dono, ou quase isso, fosse a competição realizada em sistema do tipo pontos corridos.

Filipe Toledo executa uma de suas manobras aéreas - Alexandre Peña - 17.jun.22/Xinhua

O surfista de Ubatuba chegou à final de cinco das oito etapas realizadas até aqui. Com 50.040 pontos, tem vantagem bem confortável sobre o segundo colocado, o australiano Jack Robinson, que soma 40.225. Mas, desde 2021, a liga adotou um sistema de disputa no qual os cinco primeiros colocados batalham pelo troféu em um dia.

No último ano, isso permitiu que Filipe, terceiro do ranking, brigasse pelo Mundial com Medina, que liderou com folga até a jornada derradeira. Desta vez, será Toledo quem aguardará um desafiante –o primeiro entra na etapa já na final, que ocorrerá novamente nas ondas de Lower Trestles, em San Clemente, onde vive Toledo.

Sua frente no ranking é tão boa que a primeira colocação é quase certa ao fim das dez pernas classificatórias do circuito. Isso permitiria ao brasileiro abrir mão de entrar no torneio de Jeffreys Bay, na África do Sul, ou no do Taiti, na Polinésia Francesa. Não é esse o plano.

"Acho que agora não é hora de tirar o pé. É hora de manter o ritmo, o foco de treinamento, ir com tudo e chegar a Trestles como número um, para ter teoricamente uma vantagem. Não acho que poupar seria algo ideal. Óbvio que talvez [tenha uma preocupação] em relação a lesão e tal, mas é difícil a gente prever isso. O foco é vencer e chegar como número um", explicou.

Para isso, Toledo tem um trunfo: "Vivo o melhor momento da minha vida".

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