Descrição de chapéu Libertadores

Excluídos de jogo concorrido, torcedores frequentes de Itaquera se revoltam

Setor popular do estádio do Corinthians teve maioria de flamenguistas na Libertadores

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São Paulo

Carlos de Comi, 34, vai a Itaquera em quase todos os jogos do Corinthians. Encontra amigos no que chama de "bar da tia", perto da estação Artur Alvim do metrô, e ruma para o setor sul do estádio alvinegro.

Na noite de terça-feira (2), no importante duelo com o Flamengo, pelas quartas de final da Copa Libertadores, ele não pôde fazer isso. Boa parte dos ingressos da área mais popular da Neo Química Arena foi destinada aos visitantes. O restante durou cerca de um minuto no sistema de venda online para sócios-torcedores.

A alternativa para Comi e muitos outros em situação semelhante era reservar o bilhete de outro setor. Pela presença no sul, indisponível, teria pagado R$ 38,50. O próximo na escala seria o leste superior, de R$ 150 –já com o desconto de 25% de sócio-torcedor.

"Por esse acordo que a diretoria resolveu fazer, sobrou pouco dos ingressos populares, e eu não consegui. Só teria a partir de 150 reais. Aí, fica inviável para um trabalhador pagar, fora o gasto com transporte, comida, bebida...", afirmou o consultor tributário.

Carlos de Comi, 34, torcedor do Corinthians
Carlinhos posa no setor sul do estádio de Itaquera; na noite de terça-feira, na Copa Libertadores, o espaço foi dos torcedores do Flamengo - Arquivo pessoal

O acordo referido por ele foi o realizado entre o presidente do Corinthians, Duilio Monteiro Alves, e o do Flamengo, Rodolfo Landim, para que houvesse 4.000 visitantes em Itaquera, 4.000 no Maracanã. Os termos incomodaram vários alvinegros, porque o estádio carioca, com capacidade atual perto dos 69 mil espectadores, é bem maior do que a arena da zona leste paulistana, que comporta cerca de 45 mil.

Os corintianos reclamam que não houve proporcionalidade. E lembram que o setor destinado aos flamenguistas é pertinho do campo, atrás do gol, onde é possível exercer maior pressão. No Maracanã, os forasteiros ficam distantes do gramado, no alto, e na direção da bandeirinha de escanteio.

"A gente disponibilizou dois terços do setor popular e não teve compensação. O percentual é quase o dobro, a gente cedeu o dobro. É um absurdo!", esbravejou Carlinhos, como é conhecido no "bar da tia". "Fora que no Maracanã a gente fica longe. Aqui, a gente ofereceu os nossos melhores 4.000 ingressos."

A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) não estabelece em seu regulamento uma quantia mínima para visitantes. Há um acordo tácito para que haja ao menos 1.000 entradas disponíveis para a torcida de fora, embora a carga mais comum tenha sido de 2.000. Tivesse dado 2.000, o Corinthians teria recebido 2.000. Chegou-se ao número de 4.000.

Rubros-negros festejam no setor sul, geralmente ocupado por sócios-torcedores do Corinthians; as organizadas alvinegras não se incomodaram porque ficam no norte - Carla Carniel/Reuters

O clube preto e branco defendeu a solução adotada, dizendo que ela vai permitir a presença de mais de seus torcedores na partida de volta. "Temos certeza de que ter a Fiel em peso no segundo e decisivo jogo no Maracanã fará toda a diferença", publicou, nas redes sociais.

O problema é que a agremiação não explicou aos torcedores como será feita a distribuição dos 4.000 bilhetes disponíveis para o embate do Rio de Janeiro, na próxima semana. Ao menos não aos torcedores comuns ou aos sócios-torcedores.

A carga, como se sabe, é em grande parte remetida às torcidas organizadas. Conselheiros e sócios do clube social são agraciados. O torcedor que não é associado a nenhuma uniformizada –mesmo que seja sócio-torcedor e tenha trocentos pontos acumulados no sistema, por sua assiduidade– não é contemplado.

Na manhã de terça, houve fila no congestionado site de ingressos do Flamengo. Sem nenhuma informação do Corinthians, alvinegros se cadastraram na página rubro-negra, que avisava, desde a semana passada: "Disponível para seu perfil no dia 2, às 10h".

O site chegou a apontar fila superior a 5.000 pessoas –incluídos, claro, flamenguistas. Mas quem conseguia acessar o sistema não encontrava entradas para o setor dos visitantes. Por um motivo simples, não comunicado pelo Corinthians: elas não seriam comercializadas ali.

"Não há nenhum respeito pelo torcedor!", reclamou o advogado Henrique Moura, 34, frustrado nas tentativas de conseguir seu bilhete. "Todas as movimentações parecem ter o condão de evitar a ida ao estádio. É um jogo no meio da semana, em outro estado, que está agendado há um mês. Qual é a razão de a venda não ter sido estruturada?"

Ela pode até ter sido estruturada, mas não houve comunicação ao grande público. Foi arquitetada com o consentimento das organizadas –que não perderam espaço em Itaquera e asseguraram o seu no Maracanã–, porém não se fez nenhuma questão de contemplar pessoas como Henrique e Carlinhos.

Duilio Monteiro Alves, presidente do Corinthians, durante entrevista no CT do Parque Ecológico
Duilio Monteiro Alves ficou satisfeito com o acordo - Ag. Corinthians

Questionado, o Corinthians afirmou, por meio de seu departamento de comunicação, que "o presidente já deu todas as explicações". Houve, então, nova indagação, específica, a respeito da destinação dos 4.000 ingressos do Maracanã. Não houve resposta.

O esperado confronto começou na noite de terça. Carlinhos não esteve em seu lugar habitual no setor sul de Itaquera.

"A ansiedade do jogo me levou, né?", contou. "Acabei sonhando que tinha conseguido ir ao jogo, tinha conseguido chegar lá e entrar. Cheguei à porta, fui barrado, mostrei o RG e consegui entrar. Isso aí foi meio louco! O Corinthians ganhou, todo o mundo feliz. Aí, o despertador tocou."

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