Descrição de chapéu Rio de Janeiro

'Não quero acabar com a carreira de ninguém, só justiça', diz modelo que acusa jogadores de estupro

Alcimara Ventura, 27, decidiu contar sua versão do caso, que ocorreu no Rio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

A modelo que registrou queixa de estupro contra três jogadores do Botafogo-SP, crime que teria ocorrido na madrugada de segunda (26), em um hotel no Santo Cristo, na zona portuária do Rio de Janeiro, disse que tem recebido mensagens anônimas de intimidação. Diante da repercussão do caso, decidiu revelar seu nome, seu rosto e sua versão dos fatos. Ela diz que acredita que, assim, estará mais segura.

"Passei a receber no meu Instagram mensagens de pessoas perguntando o porquê de estar prestando a queixa. Não quero acabar com a carreira de ninguém, só quero justiça", afirmou Alcimara Ventura, 27, à Folha.

Alcimara Ventura, 27, vítima de caso registrado como estupro no Rio - Arquivo Pessoal

Morando no Rio há sete meses, a modelo, natural de São Gabriel da Cachoeira, município distante 852 km de Manaus (AM), é mãe de duas meninas de quatro e sete anos e disse que não consegue sair de casa. "Tenho medo e estou sendo julgada. Ontem, um dos jogadores já tentou fazer contato comigo e até ligou para o meu irmão."

Procurado, o jogador João Diogo Jennings não atendeu. Por mensagem, enviou o contato da advogada, que, até a publicação deste texto, não deu resposta.

Procurados, Eduardo Barbosa Hatamoto e o argentino Lucas Delgado também não se manifestaram.

Alcimara chama de irmão Iuri Maia, 30, também modelo, seu amigo de infância. Maia estava com ela em uma boate da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, onde conheceu os jogadores.

"No domingo fomos até a boate para nos divertir. Lá, um conhecido deu pulseiras para o camarote, e um argentino se aproximou da Alcimara. Ele estava com dois amigos. Não sabíamos que eram jogadores. Troquei contato com um deles, o Diogo", contou Maia.

Segundo Alcimara, por volta das 3h30, ela saiu da boate com o amigo e com Delgado –os três entraram em um carro de aplicativo e foram até o local onde o time de Ribeirão Preto estava hospedado. No hotel, somente Delgado e Alcimara teriam entrado; Maia se despediu.

Segundo a modelo, Delgado e ela passaram a se tocar com consentimento, mas isso mudou quando foram tomar banho. "Quando chegamos ao quarto, o Lucas me chamou para o chuveiro. Eu disse para ele pegar camisinha, eu disse que não queria. Ele não quis pegar a camisinha e gozou dentro, o que ocorreu rápido."

Ainda de acordo com Alcimara, nesse momento, bateram na porta do quarto. "Ele saiu do chuveiro, eu ainda disse ‘não abre a porta’, mas ele abriu."

Alcimara conta que dois homens entraram no quarto e que ela os reconheceu como os mesmos que estavam na boate com Delgado: Jennings e Hatamoto.

De acordo com a modelo, os jogadores que entraram no quarto tocaram em seu corpo. "Estava de toalha ainda, o Lucas passou a arrumar a mala dele, e eu passei a me vestir. O Diogo e o Eduardo passaram a me alisar, e eu disse para eles pararem. Olhava para o Lucas, e ele me ignorava. Rindo, o Diogo se deitou na cama de cueca e disse: ‘É uma puta marrenta’", relatou Alcimara.

Ela disse ainda que, nesse momento, ocorreu a agressão. "Foi então que o Eduardo veio para cima de mim. Eu entendi que eles queriam sexo, e eu disse que não queria, que queria ir embora. O Eduardo, então, disse: ‘Vamos ver se ela é marrenta mesmo’. E me deu uma mordida no seio, enquanto eu colocava o vestido", conta.

A reportagem teve acesso a uma foto do seio direito da modelo que mostra um grande hematoma rodeado pela marca que parece ser de uma arcada dentária.

Segundo a versão da modelo, ela tentou fugir e foi contida no corredor, antes de finalmente chegar até a recepção. "Comecei a chorar e a perguntar o motivo de eles estarem fazendo aquilo comigo. Saí correndo do quarto em direção ao elevador. Nisso, o Eduardo veio atrás de mim e me levou para outro quarto. Lá, ele disse para eu ficar calma. Respondi que só queria ir embora, que eu era mãe, que queria voltar a ver as minhas meninas, que meu seio estava doendo, ardendo muito. Corri e consegui pegar o elevador", disse.

A modelo afirmou que, ao chegar ao térreo do hotel, foi abordada por funcionários, que pediram para ela ligar para a Polícia Militar. "Quando liguei para a polícia, o policial passou a perguntar onde eu estava e quem tinha me agredido. O recepcionista do hotel, então, passou os nomes dos jogadores. Nisso, o time todo passou pela recepção, incluindo os três."

Ainda no seu relato, Alcimara disse que os jogadores baixaram a cabeça ao vê-la na recepção e entraram no ônibus. Depois disso, a Polícia Militar teria dito para ela se direcionar a uma delegacia, onde o registro foi realizado. Lá, dois policiais a levaram para fazer exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal), e ela tomou coquetel antiaids.

Em sua conta no Instagram nesta quinta-feira (29), a modelo agradeceu o apoio de amigos, pediu para não ser julgada e disse que "os sentimentos são de medo, culpa e tristeza".

Ligação de jogador

A reportagem teve acesso a uma ligação que teria sido feita por Jennings a Maia. O contato telefônico teria ocorrido na quarta, após a divulgação do caso. A conversa, em viva-voz, foi gravada em vídeo. No visor do celular de Maia, é possível ver o número de telefone que consta no boletim de ocorrência como sendo do jogador.

"Mano, é o João Diogo. Mano, o que sua irmã está fazendo? O que sua irmã fez? Eu não tenho nada a ver com essa situação, eu não estuprei a sua irmã, eu não fiz nada com a sua irmã. Não consigo falar com ela, estou falando contigo", diz a pessoa.

"Mano, ninguém abriu a porta. Eu era daquele quarto. Então, quando cheguei, fui para o quarto. Eu não tenho nada a ver com isso, vocês estão desgraçando a minha carreira", diz o homem na ligação gravada.

O delegado Vinícius Domingos, titular do 4º DP (Central), disse que a investigação está no início e que se trata de violência sexual. "Preciso do depoimento deles ainda. É uma linha tênue entre importunação sexual e estupro. Ela alega que eles tentaram fazer à força, que seguraram, que houve mordida no peito. Com relação ao argentino, ela diz que ele estava sem camisinha e que [ela] não queria continuar. E ele continua, sem a vontade dela. Tecnicamente, isso não deixa de ser um ato sexual sem consentimento", disse.

Domingos ainda diz que a acusação que recai sobre Jennings é a de que ele teria "passado a mão nela e depois a xingado". Indagado se isso poderia ser considerado estupro, o delegado respondeu que "crimes contra a dignidade sexual precisam ser analisados junto com todo o contexto".

Em nota, o Botafogo-SP disse que tomou ciência da denúncia e rescindiu o contrato de Delgado. "Eduardo Hatamoto e João Diogo também foram punidos por infração disciplinar. O Botafogo também informa que aguardará a conclusão das investigações para decidir quais outras atitudes serão tomadas sobre os dois atletas."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.