Harry Kane e outros capitães usarão braçadeiras com tema de arco-íris na Copa do Mundo do próximo mês no Qatar, para apoiar a mensagem antidiscriminação "One Love" ("Um Amor"), que promove a diversidade e a inclusão social.
O atacante da Inglaterra disse que vai "enviar uma mensagem clara quando o mundo estiver assistindo", enquanto um país profundamente conservador do Golfo recebe o torneio mais prestigiado do futebol internacional.
A campanha para destacar questões sociais no Qatar já se mostrou divisiva. A Fifa ainda não esclareceu se as federações envolvidas serão punidas por quebrar suas regras que proíbem estritamente atos políticos em campo.
A disputa simboliza o desafio mais amplo enfrentado por jogadores, equipes e patrocinadores, que buscam lidar com questões como direitos humanos e condições para trabalhadores migrantes que ofuscaram a preparação para a Copa.
Em um vídeo divulgado nesta semana para marcar um mês até o pontapé inicial, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, disse: "Quero repetir claramente: todos serão bem-vindos ao torneio, independentemente de sua origem, cultura, religião, gênero, orientação sexual ou nacionalidade".
Mas minutos depois o diretor de operações da Copa do Mundo, Colin Smith, acrescentou: "Tudo o que pedimos é que as pessoas respeitem as normas culturais do Qatar".
Com frequência, há controvérsia em torno de grandes eventos esportivos, e o foco geralmente muda quando a competição começa. Diplomatas ocidentais boicotaram os Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim deste ano devido a preocupações com o tratamento dado pela China à população uigur em Xinjiang. A Copa do Mundo anterior foi realizada na Rússia quatro anos após a anexação da Crimeia por Moscou.
Mas o nível de atenção dedicado ao Qatar é incomum. Paul Michael Brannagan, autor de "Qatar and the Fifa World Cup: Politics, Controversy, Change" ("Qatar e a Copa do Mundo da Fifa: Política, Controvérsia, Mudança"), disse que foi "indiscutivelmente o megaevento esportivo mais polêmico de todos os tempos", acrescentando que era "muito mais fácil criticar o Qatar porque é um país muito mais novo".
A enorme interrupção no calendário do futebol europeu causada pela mudança da competição mundial do verão para o inverno também causou irritação –e destacou o que muitos veem como a decisão ridícula de sediar um dos eventos esportivos de verão mais populares do mundo na pequena nação desértica.
A monarquia rica em gás foi premiada com a Copa do Mundo de 2022 no mesmo dia em que a Rússia garantiu os direitos de sediar o evento de 2018, permitindo anos de escrutínio adicional. O processo foi tão marcado por alegações de corrupção e impropriedade que derrubou muitos dos executivos mais poderosos da Fifa e provocou uma reformulação na escolha dos anfitriões da Copa.
Grupos de direitos humanos pressionaram a Fifa e o Qatar a indenizar as famílias dos trabalhadores migrantes que morreram ou sofreram ferimentos durante a construção das instalações do torneio. A medida recebeu apoio de várias federações de futebol, de legisladores franceses e americanos e de um punhado de patrocinadores da Copa do Mundo –embora a maioria não tenha dito nada sobre o assunto.
A Fifa disse que permanece em "diálogo positivo contínuo" com grupos trabalhistas e as autoridades de Doha sobre "iniciativas que beneficiarão os trabalhadores migrantes no Qatar muito depois da final da Copa do Mundo".
Quando questionado sobre um fundo de indenização, o comitê organizador do Qatar orientou o Financial Times a consultar os programas criados para lidar com lesões e mortes de trabalhadores e falta de pagamento de salários.
Ricardo Fort, consultor de negócios esportivos que administrou o patrocínio global da Coca-Cola e da Visa, disse que qualquer grande evento esportivo "dá uma grande oportunidade para a sociedade exigir mudanças em algo que não está certo". Mas, segundo ele, também cria uma "expectativa irreal de que os patrocinadores tenham algum grau de influência" sobre o que acontece. "Este absolutamente não é o caso."
O ex-jogador francês Eric Cantona e o ex-jogador alemão Philipp Lahm estão entre aqueles que se comprometeram a ficar afastados, mas o movimento de boicote não conseguiu ganhar força. Em vez disso, pequenos passos estão sendo dados para mostrar desagrado.
Várias cidades francesas, incluindo Paris e Marselha, optaram por não exibir as partidas em locais públicos durante o torneio. O prefeito de Marselha, Benoît Payan, chamou a Copa do Mundo do Qatar de "desastre humano e ambiental", o que é "incompatível com os valores que queremos ver transmitidos através do esporte".
No entanto, o Qatar já está envolvido com a capital francesa e seu principal time de futebol, o Paris Saint-Germain, que pertence ao Estado do Qatar há mais de uma década. O fundo soberano da vizinha Arábia Saudita também assumiu o controle do inglês Newcastle United no ano passado, enquanto um membro da família real de Abu Dhabi é dono do campeão inglês, Manchester City.
A Hummel, que faz o uniforme da seleção dinamarquesa, criou novas camisas com uma faixa preta, em sinal de luto. "Desejamos fazer uma declaração sobre o histórico de direitos humanos do Qatar e seu tratamento aos trabalhadores migrantes", disse a empresa.
No entanto, alguns viram isso como uma jogada de marketing inteligente de uma marca menor tentando causar impacto. "Eles não têm nada a perder e muito a ganhar protestando", disse Fort.
Muitos no futebol também apontam que há limites para o que pode ser alcançado no Qatar, especialmente quando o espetáculo da Copa do Mundo terminar, um mês depois.
"Não há muito mais que os jogadores em particular possam fazer do que falar sobre essas questões", disse o técnico da Inglaterra, Gareth Southgate. "Afinal, estamos pedindo mudanças em um país que respeitamos, que fez muito progresso, mas também não temos controle."
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