Darwin, o garoto que fugiu da fome e pensou em desistir aos 16, vai à Copa

Atacante do Liverpool é a esperança de gols do Uruguai no torneio do Qatar

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São Paulo

Jürgen Klopp riu ao ouvir as críticas a Darwin Núñez, que pode vir a ser a mais cara contratação da história do Liverpool. O atacante de 23 anos pode custar 100 milhões de euros (R$ 507,5 milhões pela cotação atual), a depender de metas alcançadas.

"Nós vivemos em um mundo em que as pessoas são julgadas à primeira vista", comentou o técnico alemão.

Darwin Nuñez comemora gol marcado pela seleção uruguaia em amistoso contra o Canadá
Darwin Núñez comemora gol marcado pela seleção uruguaia em amistoso contra o Canadá - Radovan Stoklasa - 27.set.22/Reuters

Darwin tem apenas um gol marcado na temporada até o momento. Foi expulso por dar uma cabeçada em rival em partida contra o Crystal Palace.

"As pessoas que duvidam dele sempre se arrependem. E neste ano ainda terá uma Copa do Mundo para provar isso pela seleção uruguaia", opina Jose Perdomo, el Chueco, ex-meia uruguaio, responsável por tirar o garoto, então com 14 anos, da pobre cidade de Artigas para testá-lo no Peñarol, um dos dois grandes times do país.

Com Luis Suárez na descendente da carreira e em um Mundial sem a presença de Óscar Tabárez no comando pela primeira vez desde 2002, o Uruguai vai depender dos gols de Darwin Gabriel Núñez Ribeiro, o artilheiro que fugiu da fome, ficou quase um ano afastado aos 16 por uma lesão no joelho, superou a tentação de abandonar a carreira e se transformou em um dos principais goleadores do futebol europeu.

"Ele é um centroavante de verdade", elogiou Klopp ao tirá-lo do Benfica para levar ao Liverpool.

A cidade onde nasceu é homenagem a José Gervasio Artigas, militar, político e estadista, o maior nome da história do Uruguai. Algo que Darwin não sabia quando criança. Estava preocupado demais em saber se teria algo para comer à noite.

"Aconteceu de ir dormir com o estômago vazio. Mas quem mais vezes foi para a cama sem comer foi minha mãe. A prioridade dela era que eu e meu irmão tivéssemos o que comer antes dos outros. Por isso nunca posso me esquecer de onde vim", disse o atacante.

Seu pai, Bibiano Núñez, trabalhava na construção civil quando havia algum emprego. A mãe, Silvia Ribeiro, recolhia lata e garrafas para vender e, assim, garantir a renda para comprar comida e alimentar os filhos.

Darwin foi descoberto por Perdomo quando tinha 13 anos em uma partida de "baby futebol", adaptação do futebol em campo reduzido para crianças e adolescentes. Foi levado para o Peñarol, onde já estava seu irmão, Junior. O menino não ficou e voltou para Artigas. No ano seguinte, o time da capital o buscou de novo, e ele resolveu fazer nova tentativa.

"Estava com uma confiança incrível, e as coisas estavam acontecendo para mim. Sentia-me muito bem", relembrou, em entrevista para o jornal "El Observador".

Em um jogo das categorias de base, aos 16 anos, quando estava cotado para ser promovido aos profissionais, rompeu o ligamento cruzado do joelho. Pensou em parar com o futebol, retornar de vez para Artigas. Foi convencido pelo irmão de que aquilo não deveria acontecer. Junior abandonou a carreira para ficar com os pais.

Darwin Núñez ficou um ano e meio sem jogar futebol. Quando voltou, foi promovido ao profissional, mas não se sentia bem, algo estava errado. Estreou em um confronto com o River Plate, pelo Campeonato Uruguaio. Entrou durante o segundo tempo, jogou por 27 minutos e saiu chorando de dor. Teve de passar por outra cirurgia.

Menos de um ano após o primeiro gol como profissional, em novembro de 2019, foi contratado pelo Almería, da Espanha. Começava a caminhada que o tornaria um dos centroavantes mais cobiçados da Europa e renderia muito dinheiro aos clubes que o negociaram.

O Peñarol o vendeu por US$ 6 milhões (R$ 31 milhões pela cotação atual) e ficou com 20% da venda futura. O Almería o liberou por US$ 24 milhões com o Benfica (R$ 124 milhões) em setembro de 2020, a mais cara transação da história de um time que estava na segunda divisão espanhola.

"Ele é um jogador acima da média", elogiou Pedro Emmanuel, que foi técnico da Espanha. "Para mim, que esteja no Liverpool não é surpresa nenhuma."

O desafio para Darwin será também ser o ponto central do ataque do Uruguai na Copa do Mundo no Qatar. A partir de 2010, a seleção sempre passou da fase de grupos. Naquele ano, na África do Sul, chegou às semifinais. Diego Forlán foi eleito o melhor jogador da competição e um dos seus artilheiros, com cinco gols.

Raio-X

Darwin Gabriel Núñez Ribeiro, 23

  • Nascimento

    24 de junho de 1999, em Artigas, no Uruguai

  • Altura

    1,87 m

  • Posição

    Atacante (centroavante)

  • Pé preferencial

    Ambidestro

  • Clube atual

    Liverpool (desde 2022)

  • Pela seleção (desde 2010)

    • 13 jogos • 3 gols

  • Títulos

    Peñarol: Torneio Clausura (2017 e 2018) Campeonato Uruguaio (2017 e 2018) Torneio Apertura (2019)

Este é o quarto de uma série de dez textos sobre jogadores que podem surpreender na Copa do Mundo de 2022. Eles são publicados às terças-feiras.

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