Do antigo Maracanã, só resta o casco
A obra de quase R$ 900 milhões, a maior e mais cara de três reformas realizadas desde 1999, transformou completamente o estádio. Do gigante que no passado reunia com frequência públicos superiores a 100 mil torcedores, só restou o casco, que é tombado como patrimônio histórico.
A principal mudança foi nas arquibancadas. Em vez dos antigos dois anéis, agora existe uma inclinação única desde o topo do estádio até a beira do campo, o que garante uma boa visibilidade de qualquer lugar, de acordo com os responsáveis pela obra. Há também uma nova cobertura, que se estende sobre quase toda a arquibancada.
As novas cadeiras amarelas e azuis se unem ao verde do gramado para formar as cores da bandeira brasileira. Mas o conforto dos novos assentos reduziu ainda mais a capacidade do estádio, que já tinha sido diminuída para menos de 100 mil torcedores com as obras para o Mundial de Clubes da Fifa de 2000.
Durante o período em que o estádio ficou fechado, a média de público dos times do Rio despencou com a transferência dos principais jogos para o Engenhão, que, ao contrário do Maracanã, se encontra num local de difícil acesso tanto de carro como pelo transporte público.
Apesar de bem abaixo dos registros históricos de até 190 mil torcedores, o Flamengo, por exemplo, teve média de aproximadamente 40 mil torcedores no Campeonato Brasileiro entre 2007 e 2009, ante apenas 12 mil no ano passado. E as consequências foram sentidas também pelo comércio no entorno do estádio.
"Pensei até em fechar", disse David Pontes, dono de um bar que há 28 anos funciona na frente do estádio e sofreu uma queda de quase 80 por cento no faturamento durante o período em que o estádio esteve fechado.
"O Maracanã sempre foi o sustento da nossa família, mas acho que nunca mais será a mesma coisa. Mesmo quando reabrir, o público agora será diferente... Quem vai vir para o Maracanã pensando em consumir num 'pé-sujo' se o próprio estádio vai estar cheio de bares e restaurantes? Maracanã vai virar programa de rico", afirmou.
Desde março, com o fechamento do Engenhão devido a um problema estrutural encontrado na cobertura, a situação ficou ainda pior. Os jogos passaram para Volta Redonda, a 127 km do Rio, num estádio com capacidade máxima para 20 mil espectadores.
A Federação de Futebol do Estado Rio de Janeiro (Ferj) manifestou interesse em tentar realizar jogos dos times do Rio, incluindo a final do Campeonato Carioca, nos dias 12 e 19 de maio, no Maracanã, mas por enquanto não há qualquer confirmação.
Para a Fifa, que diversas vezes listou o Maracanã como principal preocupação nos preparativos para a Copa das Confederações devido aos atrasos nas obras, o ideal seria a realização de mais testes para a identificação de eventuais problemas.
"Maracanã é Maracanã. Qualquer problema no Maracanã é mais grave que em qualquer outro estádio pela dimensão que ele tem para o futebol no mundo todo. Vamos esperar que tudo corra bem", disse o diretor de Comunicação da entidade, Walter De Gregorio, em recente visita à cidade.
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