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Não termos sido sede da Copa foi uma vitória enorme, diz Juvenal

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Na próxima quarta, Juvenal Juvêncio, aos 80 anos, irá se despedir do São Paulo após oito anos consecutivos na presidência do clube.

O mandatário recebeu a Folha na sala da presidência do clube e disse que ainda não sabe o que fará após deixar o comando do clube.

Exaltou o legado da sua gestão, com três títulos do Brasileiro e a criação do centro de treinamento de Cotia.

E, apesar de ter batalhado para receber jogos da Copa do Mundo no Morumbi e inicialmente lamentado a perda, hoje vê como vitória o fato de o estádio não ter sido escolhido para o Mundial.

*

Folha - Como o senhor está às vésperas de deixar o clube?
Juvenal Juvêncio - Os últimos dias estão cansativos. Eu pedi para levantarem os títulos da minha passagem. Tem alguns que ninguém conta. Troféu Miguel Assad Macool Filho. Se você me perguntar o que isso, eu não sei. Mas tem alguns que dispensam apresentações.

Qual o balanço que o senhor faz dos oito anos de gestão e qual é seu legado?
Eu digo que foi uma gestão fértil, eficaz, mas o cidadão que quer me criticar diz "Juvenal não tem humildade". Não é verdade. O São Paulo cresceu muito e eu ajudei a solidificar esse processo. O Laudo Natel, quando fala que eu fui o grande presidente da história do São Paulo, diz: "Você construiu o Morumbi dentro do Morumbi". Mas o que mede o clube fora são os resultados em campo. Eu tenho um parque social que não tenho inadimplência. No futebol, qual é o produto que nós temos para vender? A paixão. Não ganhou, fica negativo. Mas, com a formação do CT de Cotia, eu disse que o São Paulo não vai alcançar o futuro porque já vive o presente e o futuro. Eu acredito que a gente deixou um legado muito positivo. Eu recebi uma homenagem dos atletas. Foi uma coisa bonita. Eu disse para eles: "Nós temos muito respeito, muita disciplina, mas muita camaradagem". Então, eu vou partir, mas estou consciente de que fiz um papel edificante para o clube. E a história vai falar isso.

Marlene Bergamo/Folhapress
Juvenal Juvêncio, durante entrevista à Folha
Juvenal Juvêncio, durante entrevista à Folha

A perda da Copa do Mundo foi a principal frustração da sua gestão?
Não tive grandes frustrações. Nem a Copa do Mundo. A gente não ter sido escolhido como sede foi uma vitória enorme. Eu queria a Copa? Sim. O Morumbi era, por natureza, a melhor casa para receber os jogos. Agora, essa indicação teria de ser feita pelo município, que era o [prefeito Gilberto] Kassab, e pelo governo do Estado, que era o [governador José Serra]. O Ricardo Teixeira [então presidente da CBF] queria fazer um estádio em São Paulo. Tanto que o discurso era: "A Copa é particular, não terá governo". Ele sabia o que estava fazendo, essa falácia. Ele não queria interferência do governo, como não quis nunca receber nada na CBF do governo porque atrás de verbas governamentais, sobretudo do âmbito federal, vêm o Tribunal de Contas da União. Mas ele queria fazer isso aí [estádio] e havia um grande obstáculo chamado Juvenal Juvêncio. Ele aproveitou e nos tirou da Copa. Em determinado instante, eu havia feito um discurso de receber a Copa no Morumbi, mas eu não tinha apoio. De tal sorte que eu dizia ao presidente Lula: "Eu estou só em São Paulo. Eu vou morrer. Nem o prefeito e nem o governador me apoiam. Mas o mais grave é que eles não dizem que não apoiam. Eles dizem que apoiam". O Kassab, são-paulino, me abandonou. O Serra dizia: "Vamos fazer a Copa no Morumbi, mas eu quero que você saiba que o correto é que fosse no Parque Antarctica [do Palmeiras]". Então, eu tive uma grande vitória quando o Ricardo Teixeira disse "O Morumbi está fora da Copa". A aqueles que dizem: "Perdeu a Copa". Eu não perdi, eu ganhei.

Além de político, o problema era financeiro?
Aqueles que estão na Copa estão arrependidos. Esses clubes que participaram disso não vão pagar essa conta. Eu sei quanto o futebol rende no fim do mês. O futebol está liquidado. O futebol paga o que não pode pagar. Eu pago a metade do que os clubes do Rio de Janeiro pagam. Mesmo assim está errado. O futebol, assim, vai quebrar. Está quebrando na Itália. Tem 36 clubes na Espanha em concordata. Se você souber quanto é a prestação [do estádio] e quanto um clube fecha por mês, não paga! O presidente Lula me dizia: "Juvenal, precisamos fazer algo pelo futebol. A nação respira isso. O trabalhador e o homem letrado gostam de futebol". Ele foi um defensor desse processo. Mas ele está fora. Não adianta falar que os clubes não quebram porque quebram. Tem sempre uma sexta-feira na vida da gente.

Se o Lula ainda fosse o presidente, ele poderia ajudar os clubes?
Ele sempre disse que havia dificuldade em fazer isso. O Botafogo uma vez foi pedir para ele R$ 3 milhões via BNDES. "Eu não posso!", ele respondeu [risos]. Mas ele ajudou. Mandou a Eletrobrás colocar patrocínio nos clubes, falava com os presidentes que administravam mal. Fazia o que ele podia. Ele achava que se o esporte morresse na mão dele, sendo um aficionado, seria muito ruim. Eu acho que está ruim o cenário e está piorando. Um jogador não pode ganhar R$ 600 mil por mês.

Qual o problema para o futebol estar agonizando?
Má gestão. O dirigente atropela a razão. Não vamos conseguir sobreviver da forma como está. Os clubes que vão pagar parte do seu orçamento para as melhorias ou feituras dos seus estádios vão ter impacto no futebol. Vai piorar.

O dinheiro da televisão iludiu os clubes?
Hoje ela paga bem em relação ao que pagava. Não é a Europa, mas melhorou. E o futebol está tão amorfo que terá uma eleição na CBF na próxima semana e só tem um candidato. Eu dizia ao Lula que o governo precisava intervir na CBF. Ele dizia: "Não posso entrar, é uma entidade particular". Eu dizia: "Coloca o tribunal de contas, muda a legislação. Preserva esse bem do povo brasileiro". Se tirar o futebol do povo brasileiro ele vai rir do que? Por que não preservar isso com o governo? Não nomeando presidentes, técnicos, mas dando parâmetros para administração. Sou favorável porque eu conheço meus parceiros [de clubes]. Eles são débeis, são fracos. Tem Copa, vamos pensar no nosso futebol. Eu acho que a Copa jamais será vitoriosa onde tem de ser, não em campo. Este era o momento do Brasil se mostrar, mas nós estamos nos digladiando que falta cadeira, que falta estádio. E o trabalho que vai dar para colocar uma Angela Merkel [chancelar alemã] em Itaquera. Você multiplica por 200 chefes de Estado. Não tem nem anfitrião para isso. A presidente do Brasil não fala com o presidente da CBF? E são os anfitriões. Só nos resta rezar.

Qual modelo de intervenção do governo o senhor defende?
Aparando os excessos. Tem de colocar o Tribunal de Contas da União para ver como estão aplicados os recursos públicos. Mas colocar os parâmetros policialescos. Fiscalizar rigorosamente todos os clubes, a CBF e o sistema de esporte. Se você contratou Ganso e Pato, você tem de ter dinheiro para pagar, inclusive os impostos. Cabe ao governo a proteção do interesse coletivo, e o interesse coletivo deseja futebol. O Eurico tinha uma frase boa, A gente perguntava: "Eurico, você contratou jogador caro. Como vai pagar?". E ele respondia: "O que é irritante para nós é que os paulistas têm o hábito de pagar".

O que muda para o futebol brasileiro saindo o José Maria Marin e entrando o Marco Polo Del Nero na eleição da CBF [dia 16]?
Não muda. Eles são iguais, pensam iguais.

O que vai fazer depois de quarta-feira?
Juro que não sei. Me dediquei de corpo e alma nesse processo. Trabalhei demais, sofri demais. As alegrias são 15 minutos depois do jogo -com vitória. Passado esses 15 minutos você pensa no próximo jogo. Mas vou sair. Apesar que fui procurado pelos chineses para ajudá-los a abrir as portas do futebol no país. Conversei com o embaixador chinês e disse: "Não joguem críquete, joguem futebol". Quero ver se participo dessa abertura da China ao futebol. Eu tenho minha fazenda, estou desmontando meu escritório. Quero deixar essa eleição e tudo ajustado para o Carlos Miguel Aidar assumir. A sensação de dever cumprido. Acho que vão sentir saudades de mim.

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