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Derrota do Brasil para Itália em 1982 não fez mal ao futebol, diz algoz

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Claudio Gentile ergue a taça na cerimônia de premiação da Copa de 1982, na Espanha
O italiano Claudio Gentile ergue a taça na cerimônia de premiação da Copa de 1982, na Espanha
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Gentile virou nome de vilão no Brasil.

O atacante Paolo Rossi foi o carrasco da eliminação brasileira na Copa do Mundo de 1982, ao marcar três gols na vitória italiana por 3 a 2. Mas foi o lateral direito Claudio Gentile, 60, quem assumiu o posto de malvado.

Hoje existe um caso de amor entre ele e o Brasil. O algoz da seleção diz que pretende morar na Bahia, visitada regularmente por ele há 18 anos. Cogita até treinar clubes aqui.

Quando iniciou suas viagens à Ilhéus tornada famosa pelo escritor Jorge Amado, essa ligação afetiva parecia impossível, pois Gentile ficou conhecido como o marcador que rasgou a camisa de Zico.

Ele já havia neutralizado Maradona na rodada anterior. Para alguns, com excesso de pancadas.

No lateral italiano, colou-se uma pecha de violento, que ele rejeita.

Em entrevista à Folha por telefone, Gentile defende os méritos daquela equipe da Itália e descarta que o revés sofrido pelo favorito Brasil tenha feito mal ao futebol, como teorizam especialistas.

"A vitória foi merecida e obtida em campo, sem dúvidas e com belo futebol", afirmou.

Ele concorda com Paolo Rossi, que apontou a presunção como um defeito daquele time de Telê Santana.

Técnico da seleção sub-21 da Itália entre 2000 e 2006, Gentile comandou jogadores convocados para vir ao Brasil. E considera a Azzurra uma incógnita. "Pode ser a surpresa da Copa, mas pode talvez ficar fora na primeira fase", avaliou.

*

Folha - Há 18 anos o senhor vem ao Brasil com frequência. Sempre para Ilhéus, na Bahia?
Claudio Gentile - Sim, sempre para Ilhéus, me agradaram a cidade e o povo. Nasceu um amor por lá. Vou em férias, no inverno italiano e no verão daí.

O senhor conhece outras cidades brasileiras?
Sim, fui ao Rio várias vezes. Por causa do futebol de areia e com a Juventus. São Paulo também conheço um pouco.

Como as pessoas o tratam no Brasil?
No início, falavam de Zico, da seleção brasileira, da partida sempre lembrada com um despeito pelo que a Itália fez [em 1982], porque para os brasileiros era a seleção do Brasil mais forte de todos os tempos. No começo, foi um pouco duro. Depois fui voltando a cada ano, e as pessoas foram me querendo bem.

O senhor vem para a Copa?
Sim, verei o Mundial. Acompanharei a seleção italiana. Recebi algumas ofertas, veremos qual levarei em consideração.

Qual é sua avaliação sobre a preparação do Brasil para receber a Copa?
Vi o estádio de Salvador [Fonte Nova], que é muito belo. Creio que este Mundial dá a possibilidade de reestruturar todos os que não estavam na vanguarda. Eles se tornam belas obras e sobretudo serão verdadeiros estádios. Na minha opinião, será uma belíssima Copa.

Após marcar Maradona e Zico na Copa de 1982, o senhor ficou com a fama de malvado e violento. Ela é justa?
Não acho isso justo. Em toda a minha carreira, nunca fui expulso por jogo violento. Portanto, é um rótulo injusto, que não combina com minha carreira. É como dizer que um sujeito é ladrão sem jamais ter sido condenado por furto. Em 500 partidas, uma só expulsão, por causa de um toque de mão [e segundo cartão amarelo]. Existem defensores que tiveram expulsões violentas e não receberam esse rótulo.

Mas o senhor ficou famoso por rasgar a camisa de Zico naquele jogo. Foi pênalti?
Não, não foi pênalti. A falta foi fora da área, e Zico puxou um pouco.

Paolo Rossi, seu ex-colega de seleção italiana, disse que o Brasil pecou pela presunção naquele jogo da Copa de 1982. O que o senhor acha disso?
Eu concordo. Os jogadores queriam vencer a seleção italiana. Talvez se tentassem o empate, que era suficiente ao Brasil, poderiam ter se classificado.

E o senhor concorda com quem opina que aquela derrota do Brasil em 1982 fez muito mal ao futebol?
Não, isso não é verdade. Absolutamente. Vencemos a Argentina, que era campeã mundial e tinha Maradona. Depois batemos o Brasil, que era considerada a equipe mais forte. Derrotamos a Polônia, que era uma seleção emergente, e a Alemanha na final. Portanto, acho que a vitória foi merecida e obtida em campo, sem dúvidas e com belo futebol.

Jorge Araújo - 5.jul.1982/Folhapress
Falcão (à direita) disputa a bola com Paolo Rossi no jogo conhecido como Tragédia de Sarriá
Falcão (à direita) disputa a bola com Paolo Rossi no jogo conhecido como Tragédia de Sarriá

Na seleção italiana sub-21, o senhor treinou alguns jogadores que hoje atuam na equipe principal, como De Rossi, Chiellini, Barzagli, Pirlo, Montolivo, Cassano... Já imaginava que eles seriam jogadores de Copa do Mundo?
Sete se tornaram campeões mundiais na Alemanha [em 2006], não nos esqueçamos. Aquele time sub-21 foi o último da Itália a vencer o Campeonato Europeu e conquistou a medalha de bronze em Atenas [nos Jogos de 2004]. Fazia 70 anos que o futebol italiano não ganhava uma medalha olímpica. Para mim, eram jogadores que fariam bem ao futebol italiano, como depois aconteceu. São titulares para o Mundial no Brasil.

O senhor se sente um pouco responsável pela formação desses atletas?
Sou orgulhoso de dizer que eu soube escolher jogadores que depois demonstraram merecer o sucesso que tiveram.

Quem é o Gentile da atual seleção italiana?
Olhe, jogadores com essas caraterísticas não existem mais. O futebol mudou, se joga [com marcação] a zona, e, quando você tem pela frente jogadores como Messi e Ronaldo, quase já perdeu a partida antes mesmo de inciá-la. Porque ninguém sabe enfrentar jogadores com certas características.

Quais são as seleções favoritas ao título da próxima Copa?
Primeiro, o Brasil porque joga em casa, é uma seleção sempre com muito talento. Depois vejo Alemanha, Argentina e Uruguai. São as equipes que podem realmente mirar o título.

E a Itália?
É um pouco um ponto de interrogação. Pode ser a surpresa da Copa, mas pode talvez ficar fora na primeira fase. Dependerá das condições com que os jogadores chegarão ao Mundial.

Sua trajetória normal seria a promoção à comissão técnica da seleção principal? Por que isso não aconteceu?
É uma pergunta um pouco picante. Digamos que, por ter conseguido o título europeu e a medalha olímpica, houve gente que não quis que eu continuasse. É um pouco longa [a explicação]. A Itália infelizmente tem critérios particulares. Eu tinha credenciais para continuar, mas evidentemente alguém não quis.

E por que o senhor não treinou nenhum outro time depois?
Porque entrei com uma ação contra a federação italiana sobre isso que acabamos de falar. Há uma lei que impede de treinar uma equipe aquele que tem uma causa contra a federação. Ainda não acabou. Na Itália, infelizmente é tudo...

O que o senhor acha do futebol jogado pelos clubes brasileiros?
Eu olho frequentemente o Campeonato Brasileiro quando estou aí, vejo um pouco. O fato é que muitos jogadores vão jogar na Europa. Existem muitos jovens interessantes que podem ter experiência na Europa e depois colocar em prática na seleção brasileira o que aprenderam.

O senhor tem vontade de treinar um time brasileiro?
Meu desejo é me estabilizar no Brasil e ter permissão de residência. Depois, veremos o que se pode fazer como treinador. No momento, não posso tomar esta decisão.

Por que novamente os clubes italianos estão eliminados da Liga dos Campeões da Europa?
Porque, com a crise [econômica], os clubes precisaram vender os melhores jogadores. Há o exemplo do Milan, que vendeu seus jogadores mais fortes, e agora seu campeonato foi, digamos, desastroso. As equipes italianas têm dificuldade porque não podem contratar jogadores de certo patamar, como fazem, entretanto, na Inglaterra, na Espanha, na Alemanha. Não possuem condição econômica de contar com atletas de primeira linha.

A Juventus não teve concorrentes para o tricampeonato italiano. Inter e Milan ficaram longe. A Roma, forte no início, sofreu uma queda.
A única observação é que a Juve não conseguiu ser protagonista na Liga dos Campeões como, em realidade, mereceria. Porém, precisa mudar a política: ter jogadores melhores e não vender os melhores que possui. Ao vender os melhores, a equipe não pode ser competitiva.

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