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Judoca Victor Penalber supera punição por doping e mira pódio no Rio

O jeito competitivo, ao estilo que nem sequer suporta perder par ou ímpar, e uma brincadeira de treino renderam um apelido inusitado quando criança: Holyfield.

A referência ao boxeador americano Evander Holyfield, campeão mundial dos pesos-pesados, porém, tem desaparecido. São poucos os que ainda o chamam assim.

Em vez de socos e esquivas, o carioca Victor Penalber tem trilhado um caminho sólido no judô desde que se iniciou na modalidade, aos 4 anos.

Hoje, prestes a fazer 26, ele desponta como uma das principais apostas do Brasil para ir ao pódio nos Jogos do Rio, que começam daqui a exatos cem dias, em 5 de agosto.

Quinto do ranking mundial da categoria meio-médio (até 81 kg), Penalber vem de um 2015 que se configurou como o melhor da carreira.

Primeiro, foi bronze no Pan de Toronto, em julho. Em agosto, ficou em terceiro no Mundial de Astana (Cazaquistão), principal resultado que já colheu no tatame.

Antes da Olimpíada, na qual já está praticamente assegurado, disputará o Pan da modalidade em Havana, nesta semana, e o Master de Guadalajara, com os 16 melhores de cada categoria, em maio.

A corrida pela vaga olímpica se encerra após o torneio em Guadalajara. Hoje, ele tem 1.040 pontos de vantagem sobre o seu maior concorrente no meio-médio, Leandro Guilheiro.

"É hora de acertar os detalhes, principalmente nestas últimas competições", disse Penalber, que deve disputar os Jogos pela primeira vez.

BABÁS

Além das seis horas diárias de treino, o judoca atribui sua evolução a mudanças que até parecem triviais, mas que, no cotidiano, fizeram diferença. "Sou bem desorganizado. Cansei de perder vencimento de contas e me preocupar por coisas deste tipo. Aí, nem que seja por pouco tempo, eu desfocava do treino."

Segundo ele, não foram poucas as vezes que viajou para competir no exterior e recebeu cobranças do banco. "Já paguei muitos juros."

No início deste ciclo olímpico, Penalber decidiu dar um basta na desorganização pessoal. Sua mãe, Gisele, organiza a sua agenda financeira. O amigo Marcos Seixas, que faz as vezes de sparring, auxilia na compra de suplementos e itens indispensáveis à saúde e aos treinos.

"Estou cheio de babás, praticamente", brincou. "Mas a organização da minha vida está bem melhor. Como estou menos preocupado, tenho focado mais no treino."

Agora sem distrações, suas atividades diárias no tatame se dividem entre o centro montado no Parque Aquático Maria Lenk, que integra o Parque Olímpico da Barra da Tijuca, e o Instituto Reação.

Entre um compromisso e outro, ele fala com a irmã mais nova, Giulia, ex-judoca que migrou para a luta olímpica e tentou vaga nos Jogos do Rio, sem sucesso.

Ele geralmente dá dicas à caçula, mas também tenta aprender sobre a modalidade na qual ela se aventurou.

A irmã mais velha, Alexandra, também praticou judô. O pai, Jorge, foi nadador, mas se arriscou com o quimono e avançou até a faixa laranja.

Vida de Atleta - Victor Penalber

DOPING

"Eu costumo dizer que os Penalber são uma geração lutadora", afirma Vitor, que teve de pôr à prova esse lado lutador quando foi flagrado em teste antidoping em 2008 com o diurético furosemida.

"O que me fez virar homem foi o doping. Antes, era um menino que lidava com as coisas de maneira displicente. Ouvia o que os outros me passavam sem pesquisar."

Os dois anos de suspensão de competições o tornaram uma pessoa mais "cascuda".

"Já passei por muita coisa. As derrotas constroem um campeão, e eu tenho muitas derrotas na minha carreira."

Desde o final dos Jogos de Londres, Penalber passou a dominar a categoria meio-médio no Brasil e ofuscou Guilheiro, que ganhou dois bronzes olímpicos em Atenas-2004 e Pequim-2008 no peso leve (até 73 kg) –Guilheiro, porém, sofreu com lesões nos últimos três anos.

Penalber chegou a liderar o ranking mundial da categoria e se estabeleceu como um dos expoentes da seleção no momento em que o foco está mais voltado às mulheres.

As últimas grandes conquistas do judô nacional vieram delas, com o ouro de Sarah Menezes em Londres e os mundiais de Rafaela Silva (2013) e Mayra Aguiar (2014).

Maria Suelen Altheman (prata nos Mundiais de 2013 e 2014) e Érika Miranda (prata em 2013 e bronze em 2014 e 2015) aumentaram a galeria de feitos das mulheres.

Neste mesmo período, apenas Penalber e o peso-pesado Rafael Silva, o Baby, foram ao pódio pela ala masculina.

Para o carioca, a soberania das mulheres pode começar a virar nos Jogos do Rio. "O judô masculino passou por transformação nesse ciclo. Vejo uma equipe bem mais preparada do que no início."

A equipe deve ver uma mistura de jovens, como ele e Charles Chibana, 26, e veteranos como Tiago Camilo, 33.

Apesar de estreante, Penalber diz ter ideia do que precisa para corresponder à expectativa. "É preciso fazer cada luta como se fosse uma final. Não devo chegar pensando na medalha. É ganhar a primeira pegada, aí a primeira luta, para então caminhar."

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