Alaor Azevedo, presidente da CBTM (Confederação Brasileira de Tênis de Mesa), afirmou que irá à Justiça para pedir acesso ao contrato de marketing firmado em 2009 sobre repasses do Comitê Organizador da Rio-2016 ao COB (Comitê Olímpico do Brasil).
Na sexta (3), a Folha revelou que os organizadores computaram como receita R$ 146 milhões que deveriam ser destinados ao COB, graças a mudança na forma de pagamento do repasse, que não teve ilegalidade. A alteração impediu que o balanço olímpico fechasse 2015 com perda de R$ 129 milhões.
A renegociação incidiu sobre o que era devido: se deviam repassar R$ 146,3 milhões, os organizadores agora devem R$ 56 milhões, a serem pagos até o fim do ano (se houver saldo restante, ele pode ser parcelado em 2017).
Azevedo é o principal opositor de Carlos Arthur Nuzman, que preside o COB e a Rio-2016. Ele avalizou a mudança, com ressalvas.
A CBTM encomendou parecer contábil que será apresentado junto com o processo. "É um dinheiro que é de direito do esporte brasileiro. Como ele [Nuzman] assina com ele mesmo?", afirmou Azevedo, que é pré-candidato à presidência do COB.
Azevedo disse ter pedido ao Rio-2016 e ao COB cópia dos documentos do programa conjunto de marketing para verificar os termos originais e também os que foram alterados em dezembro.
Segundo ele, em uma das vezes foi permitido a ele ver por algumas horas os papéis, na sede do comitê. Não satisfeito, fez outra solicitação em ofício, que acabou negada em resposta dada pelo vice-diretor geral Leonardo Gryner.
O mesmo pedido foi feito ao COB, que também não quis ceder a documentação.
Tanto o comitê organizador quanto o COB argumentam, nas respostas, que "os instrumentos contratuais (...) estão protegidos por cláusula de confidencialidade".
"Eu sou associado às entidades, tenho direito de recebê-los", ponderou Azevedo.
A base da ação será a Lei Pelé, que determina que entidades esportivas cumpram princípios de transparência.
Procurados pela Folha, o COB e o comitê Rio-2016 não quiseram comentar as declarações de Azevedo.
ACORDO SECRETO
Em assembleias realizadas neste ano, as confederações esportivas brasileiras aprovaram as contas do comitê organizador e do COB.
Porém, entidades consultadas pela reportagem disseram que, de fato, não tiveram acesso aos documentos.
Nenhuma das 23 indagadas disse ter visto o conteúdo do acordo. A do pentatlo moderno afirmou ter questionado a redução do repasse, mas as confederações de vela, judô, rúgbi, vôlei e basquete defendem o reajuste.
À Folha, o COB disse que "as contas de 2015 foram submetidas à análise prévia das confederações, que aprovaram por unanimidade o balanço da entidade".
O acordo feito, porém, é um documento à parte, não detalhado no balanço.
A entidade afirmou também que "a preparação dos atletas brasileiros para os Jogos foi integralmente cumprida, de acordo com o planejamento estratégico".
Procurado pela reportagem, o comitê Rio-2016 não respondeu às perguntas sobre o acesso ao acordo até o fechamento desta edição.