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Turistas se complicam no idioma, temem zika, mas querem curtir as belezas do Rio

Corria uma brisa gostosa em Ipanema, mas um grupo de japoneses não conseguia aproveitá-la 100%. Eram 18 turistas, todos com aquela máscara branca no rosto, calças, blusas e boné cobrindo os corpos dos pés à cabeça.

Na areia, o casal alemão já exibia nariz de "palhaço", vermelho que só. Esqueceram o protetor solar, mas não a caipirinha, abastecida ao sabor da maré, para alegria do ambulante que dali não arredava nem o pensamento.

De canga com a bandeira do Brasil enrolada no pescoço, Havaianas e bolsas a tiracolo, pintadas com o desenho da calçada de Copacabana, os gringos que vieram para os Jogos circulam pela cidade. Sinal de que está na hora de começar a Olimpíada.

"Assisti aos Jogos de Londres, onde havia um forte aparato de segurança e um clima de tensão no ar, mas isso foi amenizado assim que começou", lembra Helen Sheridan, 29, escocesa, que mora na capital inglesa.

Praticante de corrida, ela ficará 15 dias no Rio. "Quero ver provas de saltos ornamentais, rúgbi, hipismo, atletismo e, é claro, vôlei de praia."

A cidade transpira os Jogos. Turistas circulam pelos principais pontos, dos novos cartões-postais da zona portuária aos tradicionais da zona sul, passando por botecos cheirando a feijoada e embebecidos de samba, o clima olímpico pegou geral.

Durante a Rio-16, a expectativa é de 1 milhão de turistas, sendo 350 mil estrangeiros, calcula a Riotur (empresa de turismo da prefeitura), com previsão de movimentar na cidade US$ 1,8 bilhão. Os maiores compradores de ingresso são França, Argentina, EUA, Alemanha e Japão.

Apreensiva em relação ao vírus da zika e preocupada com a crise econômica brasileira, a americana Rebecca Whitton, 28, revela que a receptividade dos cariocas a surpreendeu. "Pouca gente fala inglês, mas todos se esforçam para se comunicar. Gesticulam, mexem o corpo", brinca. Apesar de estar hospedada na Barra, as praias da zona sul são as suas prediletas. "Aqui tem um clima contagiante, alegre", diz.

A Folha percorreu hotéis da orla. Entre Copacabana e Leme, não há vagas. Segundo Alfredo Lopes, presidente da Abih-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro), a taxa de ocupação até sexta (5), dia da abertura, chegará a 93%.

Barra, Ipanema, Leblon e Copacabana são os lugares mais procurados pelos visitantes, que pretendem ficar no Rio, em média, por 14 dias. Todos os hotéis cinco estrelas já estão lotados. Em geral, o preço das diária subiu 25% em relação a datas como Réveillon e Carnaval. Em média, varia de US$ 164 a US$ 550.

ATAQUES E PICADAS

Apreciando a baía de Guanabara, com a ponte Rio-Niterói ao fundo, a austríaca Hanna Neugebauer, 20, elogia a harmonia entre arquitetura e natureza de um dos lugares turísticos mais badalados do momento, o Museu do Amanhã. "É ousado e combina com a paisagem", analisa.

Nos esportes, sua predileção é pelos relacionados à água, de natação à vela. Moradora de Viena, dá um pito na imprensa por causa da cobertura dos Jogos. "Noticiaram coisas ruins sobre a Copa e o Mundial foi um sucesso."

Planeja ficar três semanas no Rio. Depois, embarca para Salvador, depois Manaus. "Aproveitei o evento para conhecer o Brasil", conta.

Numa Copacabana, para variar, abarrotada, a também austríaca Maria Brandstetter, 29, ressalta: "Sou mulher, viajo o mundo e estou me sentindo segura aqui". Gerente de marketing, jogou tênis por 20 anos. Prioridade no Rio: ver essas partidas.

Antes de embarcar da Europa, ensaiou preocupação sobre epidemias provocadas pelo mosquito Aedes aegypti. Consultou o pai, médico. "'Você está grávida?', me perguntou. Diante da negativa, respondeu: 'Então não se preocupe. Agora não é a época de pico desse mosquito'".

Constrange-se ao comentar a economia do país. "O Brasil atravessa uma forte recessão, desemprego. Gastaram tanto dinheiro com a Olimpíada, não é? E a gente está aqui por causa dela!".

Nesta temporada de Jogos, fará de Copacabana sua morada. "É o bairro que simboliza a cidade e o próprio país, dono de uma mistura incrível."

Tradicional restaurante do bairro, o La Trattoria assiste à mudança do perfil de frequentadores. "Na semana passada, era muito brasileiro. Agora, de cada dez clientes, metade é estrangeira", calcula Renata Pautasso, 26, neta do dono do estabelecimento, que existe há 40 anos. "Já começou, mesmo!".

Graças aos Jogos, a cidade foi eleita "destino de férias" do servidor público Josberto Azevedo Teixeira, 50, de Fortaleza. Comprou ingressos para futebol, vôlei e atletismo. O cearense não esconde o medo de um ataque terrorista durante o evento. "A violência daqui não me preocupa. Há um cinturão de segurança na zona sul. Mas se o Estado Islâmico faz estragos em países avançados, como a França, imagina aqui."

Desencanada da vida, curtindo a paisagem de Copacabana, sem abrir mão da brisa fresca, a russa Svetlana Grishaeva, 35, acredita que a Olimpíada será bem mais que uma celebração esportiva: será uma festa. "Terrorismo é uma preocupação global, mas não acredito que isso vai acontecer aqui, no Rio de Janeiro." Oxalá!

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