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Veterano Hypolito e estreante Nory levam primeiras medalhas no solo para o Brasil

Um veterano que, enfim, realiza o sonho de pendurar uma medalha no peito. Um jovem que se arrisca e atinge o que parecia improvável. A ginástica artística masculina do Brasil conseguiu um feito inédito nos Jogos do Rio e colocou dois atletas no pódio do solo: Diego Hypolito, 30, é prata; Arthur Nory, 22, bronze.

"Não consigo acreditar que é real. Mostra para qualquer pessoa que, se acreditar, você pode realizar seu sonho. Em uma Olimpíada [2008] eu caí de bunda, na outra [2012], literalmente de cara, e agora caí e pé, afirmou Hypolito, campeão mundial de solo em 2005 e 2007.

"Eu nem era tão bom agora quanto nas outras Olimpíadas e consegui uma medalha. Quando saí de lá parecia que havia saído um caminhão das minhas costas. Era minha terceira Olimpíada, com 30 anos, e vou para quarta Olimpíada, sim."

hypolito e nory

Hypolito havia dito que iria fazer seu papel e jogar a pressão para os rivais. Foi o segundo a se apresentar e saiu do solo vibrando. Mas quando viu a nota no placar, 15.533, não escondeu o desapontamento: "É baixa", disse ao técnico Marcos Goto.

E aí começou a agonia. O campeão do individual geral, Kohei Unchimura, havia se apresentado primeiro e pisado fora do tablado. O japonês estava fora da disputa.

Mas logo veio Max Whitlock. Hypolito andava pra lá e pra cá, ansioso. O britânico, que havia empatado com o brasileiro no qualificatório, foi mais eficiente na final: 15.633. Um lugar a menos no pódio para ser ocupado. Nada de ouro.

Quando Arthur Nory entrou para se apresentar, as posições estavam inalteradas. O brasileiro cravou sua série e saiu vibrando tanto que quase caiu do tablado. A nota o colocou ao lado do colega de equipe na agonia da espera: 15.433.

Depois da frustração de ficar fora da final da barra fixa, ele resolveu arriscar e aumentar em 0.3 sua nota de partida, colocando elementos que jamais havia apresentado em competições grandes.

"Eu fui para o tudo ou nada", disse.

Hypolito estava muito aflito. Roeu os dedos, deitou no chão, ficou com a pressão baixa e teve de ser acalmado por Goto.

Faltavam três rivais. A torcida deixou o "fair play" de lado e vibrou com os erros do japonês Kenzo Shirai e do norte-americano Jacob Dalton. Quando Samuel Mikulak entrou no tablado, Hypolito já tinha uma medalha assegurada e já chorava.

O norte-americano fez uma série fraca (14.333) e abriu o caminho para Nory, que ajoelhou e colocou a cabeça no chão, chorando, subir no pódio.

"Depois que você faz a série, um filme passa na sua cabeça", afirmou o medalhista de bronze, que ainda teve de tempo de ficar contrariado com a torcida brasileira.

"Até pedi [por meio de gestos] para que eles parassem. Tem que ter espírito esportivo, esperar o último competidor terminar. E só depois da nota se manifestar", afirmou.

O Brasil ainda tem Arthur Zanetti, nas argolas, e Flavia Saraiva, trave, nas finais desta segunda (15). Na terça (16), Franciso Barreto Jr. disputa a barra fixa.

TRAUMAS PARA TRÁS

Praticamente fora da Olimpíada há alguns meses, Diego Hypolito focou no objetivo que era voltar aos Jogos. Com os resultados nos treinos e a necessidade de a equipe brasileira ter um especialista no solo, acabou conquistando a sonhada vaga. Acabou levando a prata.

Bicampeão do mundo no seu aparelho preferido, voltou a disputar uma final olímpica depois de oito anos.

Na prova na Arena Olímpica do Rio, Diego mostrou que, enfim, como ele mesmo disse nesta semana, conseguiu superar seus traumas olímpicos.

Em Pequim-2008, após obter a vaga na final em primeiro lugar no solo, o ginasta foi para a sua primeira decisão olímpica favorito a ganhar a primeira medalha da história da ginástica para o Brasil.

Após uma queda na sua apresentação, conseguiu apenas o sexto lugar na decisão.

Quatro anos depois, em Londres-2012, outra queda, desta vez na fase classificatória. Diego, então, nem conseguiu chegar à final.

"Ralei muito para estar aqui. Fui a três Olimpíadas, não tenho que ter vergonha de nada. Sei que posso realizar", disse o ginasta, que chorou muito logo depois de terminar sua participação no solo na fase classificatória da Rio-2016.

DO JUDÔ À GINÁSTICA

Medalha de bronze no solo, Arthur Nory começou no esporte no judô. Era o plano do pai, Roberto, faixa preta. Mas o garoto ia para os treinos no clube e ficava encantado com as acrobacias das ginastas.

Quando os pais se separaram, e a mãe, Nadna Oyakawa, passou a dar aulas de educação física em um clube da zona Leste, o garoto de 11 anos contou que queria praticar ginástica, e foi incentivado por ela.

Nory começou a frequentar os treinos e, menos de seis meses depois, passava em um teste no Pinheiros, para uma das principais equipes do país.

O pai, no entanto, só passou a apoiar o garoto após uma conversa com o técnico e psicóloga de Nory. Ele viu os resultados do filho, entendeu o que era a ginástica e viu que ele poderia "ter futuro".

Ele foi campeão brasileiro infantil aos 14 anos. No Mundial do ano passado, foi o primeiro atleta do país a chegar à final da barra fixa. Terminou em quarto lugar, colocação inédita.

A marca fez ele e seu treinador, Cristiano Albino, acreditarem na chance de medalhas. Nory, no entanto, foi mal em seu aparelho mais forte e nem avançou à decisão na Rio-2016. Restou-lhe o solo, do qual levou medalha.

No ano passado, Nory passou por momentos conturbados. Em fevereiro, Nory havia passado por uma cirurgia no menisco. Em maio, envolveu-se em uma polêmica sobre racismo. Publicou em uma rede social um vídeo em que ele e mais dois ginastas faziam piadas racistas direcionadas ao colega Angelo Assumpção, que é negro.

O trio foi suspenso por 30 dias e gravou um depoimento pedindo desculpas. Assumpção disse que a ferida já está cicatrizada. Desde então, quando questionado, Nory afirma que não toca mais no assunto.

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

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