O ginasta Ângelo Assumpção, 20, participou do primeiro momento de fama de Arthur Nory, 22, em cenário nacional. Infelizmente, foi um episódio negativo. Em maio de 2015, ele foi vítima de brincadeiras de cunho racista de Nory e outros dois atletas da seleção brasileira, Fellipe Arakawa e Henrique Flores.
Companheiro de treinos de Nory no clube Pinheiros, em São Paulo, Assumpção é breve ao comentar o problema que, segundo ele, já foi superado.
"Sou muito próximo dele. Espero que ele consiga todos os objetivos dele na carreira. Torço muito por isso. O que eu mais quero é que seja um campeão dentro e fora do tablado. Queira ou não, as pessoas se espelham nele. Espero tudo de melhor para ele", diz.
"Na época, me machucou muito, por me expor em uma rede social. Os dois aprenderam. Superamos. Claro que fica um resquício, até porque dei mancadas com ele também. É um momento muito chato para comentar sobre isso. Agora temos que focar no brilho dele. O sucesso dele é o da ginástica brasileira", continua.
Assumpção foi ao Rio e acompanhou algumas das provas. Ele encontrou Nory na Vila e desejou sorte ao colega.
"Desejei a ele toda a sorte. Também mandei uma mensagem no celular, parabenizando pela classificatória, e que ele continue focado da mesma forma na trajetória dele."
Nas redes sociais, diversas pessoas relembraram do episódio do vídeo e voltaram a criticar Nory. No Twitter, após o resultado desta tarde, os primeiros resultados de busca da palavra "racista" questionavam a atitude do atleta. "Brasil sendo pódio duas vezes é orgulho. Mas teria mais ainda se o Nory não fosse racista", escreveu uma usuária. Outros comentários eram ainda mais condenatórios, seguindo a linha do "não me representa". Sobre isso, Assumpção disse que "não pode controlar. É uma coisa que superamos, que eu não queria mais comentar, mas sempre volta. Não posso mudar".
Após a medalha de ouro no Mundial de 2015, esperava-se que Assumpção participasse da Rio-2016. Segundo ele, isso não aconteceu por uma mudança de critério da comissão técnica.
"Fizemos uma primeira seletiva para o Mundial, eu fui bem. Depois, machuquei. E então começou uma outra etapa de seleção, só que com critérios diferentes. Desde junho, mudaram a estratégia, preferiram atletas com mais chances de conquistas medalhas, ginastas mais prontos, como o Diego Hypólito e o Nory. Mas cada trajetória tem seu ritmo, algumas são mais rápidas, outras demoram mais. Continuo trabalhando para chegar a minha vez", conclui.
O VÍDEO
Em maio de 2015, Nory sofreu duras críticas publicamente após a divulgação de um vídeo em que fazia brincadeiras de cunho racista com Assumpção.
No vídeo divulgado pelo jornal "O Globo", Nory, junto dos ginastas Fellipe Arakawa e Henrique Flores, provoca Assumpção, único negro da equipe brasileira à época.
"Seu celular quebrou: a tela quando funciona é branca... quando ele estraga é de que cor? (risos)", pergunta Nory.
"Preto!", dizem outros atletas que não podem ser identificados na imagem. E eles seguem: O saquinho do supermercado é branco... e o do lixo? É preto!".
No vídeo, Assumpção demonstra constrangimento com as brincadeiras.
Depois da repercussão negativa, Nory publicou um pedido de desculpas em seu perfil no Instagram.
"Fala galera, aqui é uma equipe aqui está tudo bem. Exageramos e passamos dos limites. O dia a dia quem está presente sabe como é. Está repercutindo de uma forma negativa pra ter matérias. Aqui todo mundo gosta de todo mundo e sabe o que passamos. Por favor não entendam mal! Demoro!", escreveu.
Na época, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) instaurou inquérito, afastou os três ginastas, o caso foi a julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e arquivado.
Colaborou GABRIEL VASCONCELOS, do Rio