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Antes de cair e levantar com medalha, Hypolito sofreu depressão e perdeu 10 kg

Quando se preparava para sua última acrobacia no solo da Arena Olímpica do Rio, Diego Hypolito voltou no tempo. Oito anos atrás. Era a final do solo dos Jogos Olímpicos de Pequim, ele estava no auge de sua carreira e só precisava terminar mais uma sequência de saltos para colocar o ouro no pescoço. Voou e caiu de bunda.

A lembrança o abalou por uma fração de segundo. Tempo suficiente para ele reafirmar que, dessa vez, não deixaria a oportunidade passar, não por causa de pensamentos ruins. Correu, fez sua acrobacia final e comemorou como quem ganha uma medalha. Ainda não sabia, mas ela logo estaria em seu pescoço.

A medalha de prata coroa a redenção de um dos atletas mais importantes da ginástica artística brasileira. O ginasta que, em Pequim-2008, caiu de bunda, em Londres-2012, caiu de cara, e na Rio-2016, caiu de pé.

hypolito e nory

"Eu nem sou tão bom quanto agora como era nas outras Olimpíadas e consegui uma medalha. Isso é inexplicável, nem estou acreditando. Quando saí de lá [do solo], parece que saiu um caminhão das minhas costas. Era minha terceira Olimpíada, com 30 anos. E vou para quarta Olimpíada, sim, porque amo demais a ginástica", afirmou.

Hypolito foi o segundo a se apresentar e teve de ver, um por um, seis ginastas fazerem suas séries até descobrir de que cor era sua medalha. Uma espera que quase o fez desmaiar.

"Pouquíssimo tempo atrás, eu nem era titular. Me classifiquei para a Olimpíada e depois para a final do solo em quarto lugar. Achei que era o máximo, que pegaria um quinto lugar", afirmou.

"Aí fiz a série e vi que tinha chance. Aí não sabia o que fazer, não queria assistir [aos rivais], aí começou a cair a pressão, o Marcos [Goto, treinador] tentou me acalmar, comecei a ficar tonto, achei que ia desmaiar. Pensei: 'não posso dar vexame aqui!'", relembrou.

O quinto a se apresentar foi Arthur Nory, que também foi ao pódio, com um bronze.

Hypolito teve um ciclo olímpico complicado. Enfrentou uma depressão em 2013, após ter saído do Flamengo e se ver obrigado a se mudar para São Paulo. Perdeu dez quilos, não treinava e chegou ser internado.

Aos 30 anos, não é mais um garoto e sofreu com problemas nas costas que o tiraram do Pan de 2015. Teve dificuldade também para participar de todo o processo de seleção da equipe nacional para a Olimpíada. Sua participação foi questionada muitas vezes pelo fato de ser especialista em um aparelho e não poder ajudar com mais notas.

Foi para o Mundial de 2015 como reserva, já que a meta era classificar a seleção completa pela primeira vez para os Jogos. Acabou entrando por conta de uma lesão de Péricles Silva, ajudou o time a carimbar a vaga na Rio-2016 e ainda ganhou um bronze para se juntar às suas duas medalhas de ouro no solo nesta competição, conquistados em 2005 e 2007.

Para superar os baques, contou com a ajuda da psicóloga Sâmia Halage, que já trabalhou com a seleção feminina de vôlei.

Neste ano, o ginasta viu seu técnico, Fernando de Carvalho Lopes, ser afastando da seleção por suspeita de abuso sexual. Acabou buscando refúgio sob as asas de Marcos Goto, técnico do campeão olímpico Arthur Zanetti.

"Zanetti foi uma inspiração, e Goto, é merecedor dessa medalha. Ele falou que eu podia quando outros falavam que não. O campeão olímpico foi meu treinador e me ajudou nessa reta final", afirmou Hypolito, ainda extasiado em dividir o pódio com Nory.

"Nunca imaginei que isso pudesse ser real, dois medalhistas olímpicos. Eu ainda estou atordoado", afirmou.

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

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