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Ouro no boxe, Robson Conceição adotou rotina reclusa antes da medalha

O boxeador Robson Conceição, 27, peso ligeiro (até 60 kg), passou o dia sozinho, concentrado para sua última luta na Olimpíada, que ocorreria dali a alguma horas.

Durante a noite, mal dormiu. Acordou às 5h desta terça-feira (16) para retirar o ponto que precisou levar depois de sofrer um corte no supercílio na semifinal. Tomou café, almoçou e depois se isolou no quarto. Tentou dormir, em vão.

Geralmente, antes das lutas, Conceição cumpre o ritual de isolamento. Ouve música gospel, embora não seja evangélico, e faz orações a Deus. Conta que pediu para que nem ele nem seu oponente saíssem muito machucados do combate.

O caminho até ali não havia sido fácil. Há oito anos, em Pequim-08, o sonho de disputar a Olimpíada durou uma luta apenas. Quatro anos mais tarde, em Londres-12, repetiu o desempenho, tendo sido eliminado na estreia.

Nestes Jogos, Conceição pisou no Rio com mais experiência internacional e focado no ouro. Treinou forte todos os dias. Não passeou pela cidade, nem pode ficar tão perto quanto gostaria da família.

Sua mulher, Érica, assistia a todas as lutas com a filha do casal, Sophia, 2, no colo. A criança viu seu pai bater quatro adversários durante o torneio. Um deles, o temido cubano Jorge Lazaro Alvarez, 26, tricampeão mundial e primeiro do ranking, na semifinal.

"Em Pequim e Londres eu ficava feliz em ver tudo, conhecer as coisas. Agora foi diferente. Eu me desliguei, não acessei as redes sociais. Nem sair para a Vila dos Atletas para trocar os pins eu fui", disse.

O brasileiro foi para sua última luta, na noite desta terça, contra o francês Sofiane Oumiha, 21, como favorito, e confirmou as apostas.

Venceu os dois primeiros rounds e administrou a vantagem no último. Ele manteve a distância, encurtando-a para dar golpes cruzados na cabeça do adversário.

Oumiha, sexto no ranking mundial, uma posição abaixo da de Conceição, fez luta de igual para igual. O corte suturado no supercílio do brasileiro abriu ao final do primeiro round. Os dois nunca tinham se enfrentado antes.

"Foi a luta mais difícil da minha vida. Ele demonstrou muita garra e técnica, mas graças a Deus eu saí campeão", disse Conceição.

A torcida ia ao delírio a cada golpe encaixado. "Um, dois, três, porrada no francês", gritava o público do pavilhão 6 do Riocentro.

Criado no bairro carente de Boa Vista de São Caetano, em Salvador (BA), Conceição começou a treinar boxe aos 13 anos. De início, frequentou um projeto social e depois migrou para a academia Champions, de Luiz Dórea, um polo de talentos do pugilismo nacional. De lá, surgiram nomes como Acelino Popó Freitas e os irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão.

"A Bahia é a Cuba brasileira", disse Conceição, referindo-se ao país que é a maior referência do boxe olímpico.

O caminho natural agora é a carreira no boxe profissional, onde o investimento é alto e as premiações mais ainda. O campeão olímpico desconversa sobre o futuro.

"Minha meta é descansar um pouco, acordar desse sonho, conversar com meus técnicos e decidir o que vai acontecer", disse.

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

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