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Admiradores da seleção, atletas de Vanuatu realizam sonho no Maracanã

Não deu para ganhar medalha. Mas os atletas do arquipélago de Vanuatu que vieram ao Rio ainda tinham um sonho: ver o Brasil jogar no Maracanã.

Vanuatu é um país que tem quatro vulcões em atividade —e nenhum McDonald's.

E para os atletas dessa nação composta de 82 ilhas, do lado de Papua Nova Guiné, parecia muito longe e complicado sair da Vila dos Atletas, na Barra, e chegar até o estádio do Maracanã.

Complicado foi mesmo. Entre BRT e várias baldeações de metrô, o judoca Joe Mahit, o atleta de tênis de mesa Yoshua Shing, o técnico Ham Lulu e o fisioterapeuta Albert Iata levaram 2 horas até o Maracanã. Com o mesmo tempo, eles dariam a volta inteira na principal ilha de seu país, que tem 120 quilômetros de perímetro.

Os quatro vanuatenses também estavam com medo de serem assaltados no Rio. "Aqui todo mundo anda armado", diziam. "Em Vanuatu, só vemos policiais armados no desfile do dia da independência. A gente não vê arma em lugar nenhum."

Valeu superar o medo.

Futebol é o esporte mais popular de Vanuatu, país de 270 mil habitantes (quase o mesmo que Juazeiro do Norte, no Ceará). O país perdeu nos pênaltis para Fiji e não se classificou para a Olimpíada. Na falta do time de casa, eles abraçaram o Brasil com gosto.

"Na Copa do Mundo, quase todo mundo em Vanuatu pôs uma bandeira do Brasil em casa. Ficamos muito tristes com a derrota de 7 a 1 para a Alemanha, teve gente que chorou", conta Ham Lulu. "É muito importante a gente ver o Neymar em campo."

Os quatro queriam muito ver o time brasileiro se redimir.

O judoca Joe Mahit foi eliminado por um rival de Aruba já em sua primeira luta na Olimpíada. Mas fez selfies e vídeos fazendo flexões na frente do Cristo, na praia de Copacabana, na Vila dos atletas e no Maracanã. "Só chegar até aqui foi sensacional", disse ele, que nasceu em uma ilha com menos de 2 mil pessoas e precisava viajar até a Austrália para treinar, por falta de parceiros.

Ele adorou andar no teleférico pela primeira vez. "O prédio mais alto do nosso país tem sete andares, não somos acostumados com altura", disse.

O fisioterapeuta Iata é da ilha de Tanna (40 km de comprimento), famosa por ser lar do culto de John Frum. Todos os anos, no dia 4 de julho, dia da independência americana, os seguidores de John Frum marcham, hasteiam a bandeira dos EUA e oram para que Frum volte e traga mais mercadorias. O culto se originou na segunda guerra mundial (acredita-se que seja John 'Frum' America), quando americanos traziam mantimentos. Até hoje alguns nativos fazem pistas de vôo para que Frum volte.

Yoshua Shing não passou da primeira partida no tênis de mesa. Mas teve a honra de carregar a bandeira de Vanuatu na cerimônia de abertura e fez o maior sucesso cantando reggae na Vila dos Atletas —ele toca violão. Os quatro circulavam com uma caixa de som pelo ambiente.

O técnico Ham Lulu na verdade era jogador de tênis de mesa, mas não se classificou. Em Vanuatu, ele tinha um bar de kava, a raiz de propriedades relaxantes que é a bebida mais popular do país.

Para todos, chegar na Olimpíada foi uma epopeia.

Vieram com recursos do Comitê de Solidariedade Olímpica, mais ajuda dos pais e amigos, da associação de carpinteiros e da Budget Rent a Car.

Só de voo, foram três horas de Port Villa (Vanuatu) até Sidney, na Austrália, mais 14 horas até Santiago no Chile e mais 4 para o Rio.

"Não ganhamos medalhas, mas fizemos boa participação e agora estamos vendo Neymar", dizia Mahit, circulando com suas havaianas recém-compradas (R$ 45, meio salgado, segundo eles).

Em Vanuatu, só 25% da população vive na zona urbana. O país não tem metrô e tem PIb per capita de US$ 3.200. (No Brasil, é US$ 11.200).

Em seu país, Mahit e Shing são celebridades - dois de apenas 4 atletas que conseguiram chegar à Olimpíada.

No Brasil, despertaram curiosidade.

"Olhei a camiseta e vim dar um Google, porque não tinha idéia de onde era Vanuatu, achei que era na África", disse o torcedor Wallace Gomes, 29.

Albert e Joe gostam muito de jogadores antigos do Brasil, como Roberto Carlos, Ronaldo e Rivaldo. Mas estavam entusiasmados com Gabriel Jesus.

Depois do segundo gol do Brasil, os quatro já estavam fazendo "ola" e gritando Brasil.

Perguntaram o que queria dizer o grito de guerra "Mil gols, mil gols, só o Pelé, Maradona cheirador", que a torcida repetiu algumas vezes. Após a devida tradução, Ham perguntou: "Maradona usava drogas?"

Ao final do jogo, estava de alma lavada. Aprenderam o que queria dizer "pé quente" em português.

"Neymar I tas tumas" (Neymar é muito bom, em bislama, a língua local)", disse Ham. "O jogo foi ótimo, mas parecia até amistoso, de tanto gol...".

Editoria de arte/Folhapress
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