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Grã-Bretanha cresce tanto nos Jogos que assusta até eles mesmos

A tarefa simples e ao mesmo tempo hercúlea é se tornar o primeiro país-sede de uma Olimpíada a conquistar mais medalhas na edição seguinte dos Jogos. E o Reino Unido está perto de conseguir isso no Rio: faltando dois dias de competições, acumula 60 medalhas ante seu recorde histórico de 65 premiações de Londres-2012. Mas, mesmo que não consiga, o recado está dado, existe uma nova potência olímpica no planeta e ela atende pelo nome de Team GB.

Matthew Childs/Reuters
2016 Rio Olympics - Cycling Track - Victory Ceremony - Men's Team Sprint Victory Ceremony - Rio Olympic Velodrome - Rio de Janeiro, Brazil - 11/08/2016. The teams of New Zealand (NZL), Great Britain (GBR) and France (FRA) pose on the podium. REUTERS/Matthew Childs FOR EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS. ORG XMIT: BSP73
Grã-Bretanha no lugar mais alto do pódio na ginástica

GB de Grã-Bretanha, já que, ao contrário do que acontece em Copas do Mundo, Inglaterra, Escócia e País de Gales competem em conjunto em Olimpíadas. A Irlanda do Norte também está no grupo, assim como outros territórios britânicos sem representação esportiva. Críticos pedem a mudança do nome para algo como time do Reino Unido por coerência histórica, mas o marketing fala mais alto.

Após Atlanta-1996, quando o Comitê Olímpico Britânico experimentou sua pior Olimpíada um ouro, oito pratas e seis bronzes, fiasco para a única nação do mundo a ganhar ouro em todas as edições dos Jogos, o então primeiro-ministro John Major iniciou uma série de mudanças na política esportiva do país.

Na mais tênue delas, foi criada a marca Team GB, nome mais sonoro e vendável, segundo os marqueteiros do comitê. A mais drástica foi dividir o novo esporte britânico em duas frentes: alto rendimento, lastreado por investimento incentivado e loterias, e comunitário. O resultado apareceu em Sydney-2000: 11 ouros, 10 pratas, 7 bronzes e um décimo lugar no quadro de medalhas.

Fator casa

O total de premiações só aumentou desde então. Foram 30 em 2004, 41 em 2008, as 65 de Londres e a atual corrida do ouro em terras cariocas. Muito dinheiro investido, mas de maneira profissional: quem ganha mais medalha conta com mais recursos no ciclo olímpico seguinte, quem ganha menos ou não ganha tem a verba reduzida ou até cortada.

Isso explica porque o ciclismo, o atletismo e o remo britânicos só crescem, e a luta, o tênis de mesa e o vôlei só encolhem. Uma lógica fria, que já merece reparos no próprio Reino Unido. Nesta semana, Simon Jenkins, colunista do "The Guardian", criticou em artigo "a histeria olímpica que transformou a Grã-Bretanha em soviética", uma alusão ao período em que esporte era política de Estado e ferramenta de propaganda na área sob influência da então União Soviética.

"Talvez seja um exagero comparar os sistemas, mas usar recurso público para transformar esporte de alto rendimento em símbolo de sucesso do Estado lembra muito o período da Guerra Fria", afirma Christopher Gaffney, 43, professor do Departamento de Geografia da Universidade de Zurique.

Marcos Brindicci/Reuters
2016 Rio Olympics - Tennis - Final - Men's Singles Gold Medal Match - Olympic Tennis Centre - Rio de Janeiro, Brazil - 14/08/2016. Andy Murray (GBR) of Britain reacts during his match against Juan Martin Del Potro (ARG) of Argentina. REUTERS/Marcos Brindicci FOR EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS. ORG XMIT: OLYN2874
Britânico Andy Murray durante os Jogos do Rio

Segundo o pesquisador americano, que passou seis anos no Brasil estudando o impacto dos grandes eventos esportivos no país, o modelo britânico carrega um equívoco de origem. "Esporte de alto rendimento só serve para deixar as pessoas na frente da TV. Ele não as torna mais saudáveis. E uma política nacional de esportes deveria focar nisso, não em estudos de biomecânica que servirão apenas para um único cidadão conseguir medalha", diz Gaffney.

"O número de pessoas que fazem esporte diminui no Reino Unido no ano em que aconteceu a Olimpíada. Isso não faz sentido." O investimento público britânico, direto e indireto, no alto rendimento cresceu de 264 milhões de libras (R$ 1,11 bilhão) para 350 milhões de libras (R$ 1,47 bilhão) na comparação entre os ciclos olímpicos de 2012 e 2016. No mesmo espaço de tempo, o Reino Unido perdeu piscinas públicas e centros de esporte, fechados pela crise econômica.

"A mesma coisa acontece agora no Brasil, com a diferença que os dirigentes esportivos locais continuam amadores e patrimonialistas. Como o Rio pode se dizer uma cidade esportiva com quatro quadras públicas de tênis para 6 milhões de pessoas?", pergunta Gaffney.

LEQUE MAIOR DE MEDALHAS

Os britânicos ampliaram seu leque de medalhas, mas precisaram também de performances contundentes de suas estrelas para competir pelo segundo lugar no quadro de medalhas.

Algumas delas, contribuíram com mais de um pódio para fechar a conta.

O ciclismo de pista, um dos carros-chefes da delegação e paixão dos britânicos, conquistou onze medalhas no Rio, seis delas de ouro.

O time que temia sentir a ausência da estrela Chris Hoy, duas vezes campeão em casa, viu Kenny Jason, 28, assumir o posto. Ele conquistou duas medalhas douradas em provas individuais e uma por equipe.

A natação, mesmo com o corte de verba após 2012, somou um ouro e cinco pratas. Nos últimos quatro anos, os britânicos lapidaram um dos maiores fenômenos atuais nas piscinas, Adam Peaty, campeão dos 100 m peito, com direito a recorde mundial. Ele ainda foi fundamental para a prata no 4 x 100 medley.

Na ginástica artística, Max Withlock derrotou Diego Hypolito no solo, venceu no cavalo com alças e foi bronze no individual geral, conquistando metade das medalhas do país na modalidade nos Jogos. A seleção masculina raspou no pódio, terminando em quarto.

O atletismo havia rendido quatro medalhas até a tarde de sexta. A única dourada saiu da principal estrela da delegação. Mo Farah não falhou. Nem mesmo após cair durante os 10.000 m. Ele se levantou, manteve o ritmo e garantiu o bi.

A Grã-Bretanha tem medalhas em 22 modalidades, cinco a mais do que em Londres.

Colaborou MARIANA LAJOLO, enviada especial ao Rio

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