Publicidade
Publicidade

Com dinheiro público, clubes formam maioria dos medalhistas brasileiros

O ouro da judoca Rafaela Silva na Rio-2016 foi um ponto fora da curva entre os medalhistas brasileiros.

Revelada pela ONG Instituto Reação, dentro da comunidade Cidade de Deus, no Rio, Rafaela, 24, não tem em seu currículo o peso de um grande clube na sua formação. Em contrapartida, 17 dos 19 pódios do Brasil na Olimpíada foram protagonizados por atletas que já passaram por agremiações privadas.

Segundo a Confederação Brasileira de Clubes (CBC), dos 465 atletas brasileiros na Rio-2016, 390 (84%) foram formados em clubes, e não nas escolas, universidades ou projetos governamentais.

Somente as cinco instituições que mais tiveram representantes nos Jogos –Esporte Clube Pinheiros, BM&F Bovespa, Minas Tênis Clube, Clube de Regatas do Flamengo e Sesi-SP– tiveram participação na formação de 122 atletas; mais de um quarto da delegação brasileira na Olimpíada.

O Pinheiros, de São Paulo, por exemplo, teve Arthur Nory, na ginástica, e Rafael Silva, do judô. A Sogipa, de Porto Alegre, viu sua judoca Mayra Aguiar levar outro bronze (veja abaixo o perfil de todos os atletas brasileiros que estiveram na Rio-2016).

"A história do esporte olímpico no Brasil é feita a partir de clubes de São Paulo, do Rio, de Porto Alegre e Belo Horizonte", afirma a professora da USP e especialista em esporte olímpico brasileiro Katia Rúbio. "Eles nascem nos clubes porque não temos uma estrutura estatal do esporte. Na falta de espaço público, os habilidosos vão para essas instituições", explica.

Na Rio-2016 - Entidades que tiveram o maior número de atletas nos Jogos

No Brasil, pela quase inexistente política de esporte de base nas escolas ou universidades, são nos clubes onde os atletas encontram a infraestrutura adequada à prática esportiva, com quadras, ginásios e piscinas.

"A matriz do Brasil de atletas de alto nível está nos clubes, que levam o atleta para competir fora do país, para as seleções. Ele pode surgir na escola ou em um projeto social, mas sempre vai cair em algum clube", diz o gerente de projetos da CBC, Ricardo Avellar.

Na Rio-2016, das 197 entidades que os atletas representaram nos Jogos, 135 foram clubes. Outras entidades como academias, escolas ou universidades representam menos de um terço do montante.

FINANCIAMENTO PÚBLICO

Financiados por associados, que usam as instalações para lazer e práticas desportivas, os clubes também recebem verbas públicas para trabalhar com projetos de alto rendimento no esporte.

Decreto de 2013 da Lei Pelé colocou a CBC como responsável na gestão e repasse de recursos públicos para a formação de atletas nos clubes. Desde então, a entidade recebeu mais de R$ 157 milhões do governo para este fim.

Vestindo a camisa - Veja a origem da formação dos atletas brasileiros na Olimpíada

Entre os clubes com mais representantes nos Jogos, o Flamengo já recebeu R$ 8,4 milhões de dinheiro público, repassado pela Confederação Brasileira dos Clubes. O Minas Tênis Clube recebeu R$ 4,6 milhões, e o Esporte Clube Pinheiros R$ 1,4 mi. O BM&F Bovespa e o Sesi-SP não recebem repasses pois não são filiados à CBC.

Segundo Avellar, os clubes têm sofrido com a queda de associados nos últimos anos. E aqueles que ainda pagam mensalidade passaram a demandar mais investimento ao seu próprio lazer e bem estar.
"Da vida do clube quem manda são os associados, e nem todos querem dividir com quem não é", diz Katia.

Para encontrar novos talentos, cada clube define à sua maneira a entrada dos atletas nas modalidades, seja com peneiras, olheiros ou inscrições públicas.

"Não adianta pegar só quem é sócio [para competir] que não vai conseguir resultado pois é um universo muito pequeno", diz Avellar.

Além de Rafaela, o boxeador Robson Conceição, 27, foi o outro atleta que nunca passou por um clube e protagonizou pódio brasileiro na Rio-2016. Diferente do judô, o boxe é um esporte onde tradicionalmente os atletas não se formam em clubes, mas sim nas academias.

Segundo Katia Rúbio, para o Brasil se tornar uma potência olímpica, é preciso uma política esportiva de base.

"É necessário uma política pública que visa o desenvolvimento do esporte desde a escola. O desenvolvimento em espaço privado vai ser para poucos", afirma.

Brasileiros na Rio-2016

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade