Salvar a pele de uma das melhores jogadoras da história não costuma estar nos planos de quem quer que seja.
Pois foi isso que a goleira Bárbara, 28, da seleção feminina de futebol fez nesta sexta (12). Depois que a camisa dez Marta perdeu o último e decisivo pênalti do Brasil nas quartas de final da Rio-2016, contra a Austrália, só uma defesa de Bárbara poderia salvar a equipe brasileira...
Na cobrança da australiana os olhos verde-água da goleira fitavam a adversária. A compenetração e confiança que eles passavam podem não ter sido as razões principais, mas o fato é que Bárbara ganhou a jogadora rival, acertou o canto, fez a defesa e recolocou o Brasil no caminho do título.
Gustavo Andrade/AFP | ||
A goleira Bárbara faz a defesa do pênalti da Austrália que recolocou o Brasil na briga por uma vaga na semifinal |
Técnico da goleira no último Campeonato Brasileiro pelo Foz, Gezi Damaceno, 52, afirma que o sucesso é fruto da atitude da jogadora.
"Tem personalidade forte, orienta bastante a equipe. Ela é uma atleta muito determinada", conta.
Mas apesar da habilidade que tem mostrado debaixo das traves, houve um tempo em que ela não queria joga no gol de jeito nenhum.
Primeira e única pernambucana a defender a seleção na Olimpíada, o sonho que a jogadora está vivendo começou justamente na escola que leva o nome de um dos maiores sonhadores do país: Ariano Suassuna, dramaturgo, escritor, poeta paraibano, autor de o Auto da Compadecida e outros clássicos brasileiros.
No time de futsal da escola, no bairro de Sancho, no Recife, Bárbara só jogava com os pés, mas, ainda no colégio, foi convencida pelo treinador Lula a ir para o gol.
A hoje goleira resistiu, mas acabou aceitando e a sugestão foi certeira. Depois disso começou a carreira no Sport e hoje é uma das jogadoras da seleção permanente brasileira.
A habilidade com os pés, porém, pode gerar receio nos treinadores, diz Gezi.
"No rachão ela sempre entra na linha, e tem facilidade de jogar com o pé", diz o treinador. "Às vezes até deixa a gente meio assim, em uma situação melindrosa. Ela tem muita confiança e no próprio jogo de ontem [conta a Austrália], ela deixava a jogadora chegar muito perto para tocar a bola. É a confiança, né".
Vaidosa, Bárbara diz que passou a cuidar mais da aparência depois que ficou conhecida.
"Quando você passa a ser visto por muitas pessoas você tenta se preocupar um pouco mais. Imagina? Você acorda e sai na rua e as pessoas vão dizer: "Nossa, essa é a goleira da Seleção? Que horror".
Mas são suas tatuagens que chamam a atenção. Em uma delas, gravou na pele o que se tornou sua maior paixão: ser goleira.
Fernando Torres/CBF | ||
Tatuagem na perna direita de Bárbara retrata uma goleira fazendo uma defesa |
Com 28 anos de idade já defendeu o Brasil em dois Sul-Americanos e um Mundial sub-20, além de dois Sul-Americanos, três Mundiais e três Pan-Americanos, pelo time principal.
A Rio-2016 é sua terceira Olimpíada. Em Pequim-2008 assumiu a titularidade ao longo da competição e foi prata. Em Londres-2012 foi para a reserva. Desta vez, virou a dona da camisa um.
Nesta terça (16), às 13h, a goleira terá a chance de voltar a uma final olímpica. Contra a Suécia, que foi goleada pelas brasileiras por 5 a 1 na fase de grupos, o Brasil joga a semifinal dos Jogos.