Portugueses
diluem história do Brasil
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
A
animosidade intelectual entre brasileiros e portugueses alimenta
e ao mesmo tempo é alimentada pela escassez de estudos
que um país realiza sobre o outro.
Segundo a historiadora Maria Beatriz Nizza da Silva, que leciona
história do Brasil na Universidade Portucalense, no
Porto, a disciplina não existe nas universidades públicas
portuguesas, onde o estudo do Brasil é diluído
em disciplinas como história da expansão.
Segundo a historiadora, ex-professora na USP, são raros
os estudos sobre o Brasil surgidos em Portugal depois da Revolução
dos Cravos, de 1974. "Há mais pesquisas sobre
a África do que sobre o Brasil, apesar de contarmos
em Portugal com um acervo fantástico de documentos
sobre a colonização", diz. Do mesmo modo,
nas universidades brasileiras, a história de Portugal
está diluída na disciplina história ibérica,
que tende a parar na época da independência dos
países hispano-americanos.
Maria Beatriz diz que só há atualmente dois
historiadores portugueses estudando sistematicamente a história
brasileira: Angela Domingues, que tem um doutorado sobre a
Amazônia pós-pombalina, e Jorge Couto, que estuda
a ação dos jesuítas e tem um livro chamado
"A Construção do Brasil".
Mas a historiadora afirma que, em vista da proximidade dos
500 anos do Descobrimento, as coisas estão melhorando.
O Ministério da Educação vai realizar
em novembro um colóquio sobre o Brasil dirigido a professores
secundários e já encomendou à própria
Maria Beatriz um livro sobre a história da colonização
do Brasil para ser distribuído nas escolas secundárias.
Na área da literatura, a situação é
um pouco melhor. Para o professor Arnaldo Saraiva, coordenador
do mestrado em literatura brasileira da Universidade do Porto,
os livros brasileiros são editados hoje com menos frequência
que nos anos 50, mas existem relações mais ativas
entre escritores e estudiosos.
"A literatura brasileira é estudada oficialmente
em várias universidades. Nos anos 60 e início
dos 70, só em Lisboa e Coimbra", diz Saraiva,
ele mesmo editor de uma revista de literatura brasileira,
chamada "Terceira Margem". O número mais
recente da revista, que é semestral, traz textos inéditos
de João Cabral de Melo Neto, Augusto de Campos e João
Gilberto Noll.
"Existe um público novo atento à literatura
brasileira, mas é pequeno. Os estudantes universitários
praticamente só conhecem os autores do século
20: Drummond, Guimarães Rosa, Jorge Amado."
"Entre os autores mais recentes, só se conhece
um pouco de Rubem Fonseca e João Ubaldo. Alguns começam
a citar Chico Buarque -conhecido mais por causa da música-
e, inevitavelmente, Paulo Coelho."
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