ARTES PLÁSTICAS
Mostra é inventário do país

da Folha de S.Paulo 24/04/2000 11h47
em São Paulo

Se você tem motivos para comemorar os 500 anos do Brasil ou, ao contrário, acredita tratar-se de um equívoco tal festividade diante de todas as mazelas por que passa o país, não importa: a visita à Mostra do Redescobrimento, que abre ao público amanhã (terça-feira) no Ibirapuera, é imperdível, obrigatória, necessária. Isso se aplica a quem quer conhecer a identidade artístico-cultural do Brasil ou a quem a conhece, bem ou mal, e quer reafirmar, rever, ampliar conceitos já estabelecidos.

Índios, negros, brancos, cafusos e confusos. Esclarecidos, consagrados e anônimos: estão todos de alguma maneira representados e, portanto, é altamente democrático o teor da maior exposição jamais realizada no Brasil. Na exposição figuram não apenas a arte e os artistas brasileiros, mas também os registros de estrangeiros que por aqui estiveram nesses últimos cinco séculos e deixaram suas visões sobre o local.

O resultado disso tudo, claro, é uma profusão de imagens: projetadas em alta definição, reproduzidas em objetos de arte popular, estampadas em óleo sobre tela e com as assinaturas mais famosas, escavadas na madeira, na pedra ou no ferro, moldadas, gravadas, estampadas ou construídas na forma de objetos diversos, de um manto a um oratório ou a um pseudo-helicóptero.

Porque o que está sendo exibido é toda uma cultura. Um patrimônio nacional vasto, disseminado por um longuíssimo espaço de tempo: da pré-história à pós-modernidade brasileira.
De desenhos das cavernas e cerâmicas marajoaras às instalações de Hélio Oiticica e às fantásticas indumentárias delirantes do visionário Bispo do Rosário. Passando por Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, Cândido Portinari...

Dá para sentir orgulho diante de tesouro tão amplo e valioso, mas o sentimento que emerge com mais força quando se percorre os três pavilhões criados por Oscar Niemeyer e que alojam a mostra é a surpresa: como nós conhecemos tão pouco de toda essa multiplicidade estética!

Para quem se interessar de verdade em conhecer mais sobre a arte produzida nos 500 anos, a exposição de toda essa brasilidade merecerá visita exaustiva e com certeza exigirá duas ou três idas idas ao parque. Afinal, são mais de 15 mil obras, espalhadas ao longo de mais de 50 mil m2. Ou seja, o equivalente ao espaço ocupado pelo Louvre, em Paris.

Sim, pode parecer mais uma daquelas situações superlativas de que o brasileiro tanto gosta.

Mesmo que o sentimento seja esse, não deixe de ir: seria uma lacuna cultural imperdoável.

(Luiz Caversan)

O quê: Brasil+500, Mostra do Redescobrimento
Quando: de terças a sextas, das 14 às 22h; sábados, domingos e feriados das 9 às 22h
Onde: Parque Ibirapuera, em São Paulo
Quanto: de terças a sextas, R$ 7 por pavilhão e R$ 10 o pacote de três pavilhões; sábados, domingos e feriados, R$ 10 por pavilhão e R$ 15 o pacote de três pavilhões. O Cinecaverna custa R$ 6 qualquer dia.
Informações: 0800-780500



Leia mais: