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CENTRO-OESTE
Rio Verde de Mato Grosso e Coxim (MS)
Crianças treinam com bois de madeira para serem bons laçadores;
“Acho que a gente inventou esse nome”, diz Macsuel,
sobre o jogo de rua bets, também conhecido por taco
É pela cabeça que se laça o touro?
Fotos
Fábio Correa/Folha Imagem
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Crianças
brincam de mosquinha-da-europa, em Jauru, distrito de Coxim
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da enviada a Mato
Grosso do Sul
Jogar bets ao cair da tarde numa rua de terra e cheia de árvores,
em Rio Verde de Mato Grosso (MS) _é isso o que fazem os amigos Macsuel
Paixão, 10, e Montagner Bruno Alves, 9. Eles não sabem dizer por
que o jogo,
também conhecido
por taco, se chama bets em Rio Verde (a 216 km de Campo Grande).
“Acho
que a gente inventou esse nome”, Macsuel arrisca. No jogo daquela
tarde, ele e Montagner formam o time que fica com o taco, enquanto
seus amigos Ivan Neto Furma, 6, e André Vicente, 6, são o time que
atira a bola.
“A gente mesmo faz o taco”, Macsuel explica, mostrando o pedaço
de madeira rústica, em forma de raquete estreita. O resto do material
é também improvisado: na extremidade de cada campo, uma garrafa
plástica cheia de areia serve como marco a ser derrubado pela bola;
a bola, pequena demais, dificulta a batida do taco.
A certa altura, o jogo é interrompido e os marcos são retirados
do meio da rua _era preciso abrir espaço para a boiada que passa
por ali todo santo dia, recolhida do pasto e tocada por dois peões
a cavalo.
O boi, o cavalo e o peão também são encontrados a quatro ou cinco
ruas dali, onde Macsuel e seus amigos brincam. Dessa vez, porém,
o boi é de brinquedo, todo de madeira, e o peão é um menino.
“A parte de cima é o cupim”, explica Camilo Calazans, 11, apontando
para uma espécie de corcova esculpida no dorso do bicho. Camilo
toma certa distância de seu boi de madeira e vai girando no ar um
laço de corda, tentando acertar a cabeça do bicho.
Seus amigos Flávio Mondini, 13, e Johnny Evangelista de Souza, 12,
contam que só ganha quem laça o boi pela cabeça. “É difícil, mas
a gente já está acostumado, porque todo mundo aqui tem fazenda,
os pais da gente, os tios. Então a gente vai treinando assim.”
A tirar pelas ruas de Rio Verde naquela tarde, a brincadeira de
laçar o boi é uma febre local. Não longe de onde Camilo e seus amigos
brincavam, a reportagem encontrou as primas Graziela Monteiro, 13,
e Larissa Monteiro da Silva, 13, tentando laçar outro boi de madeira
no meio da rua.
Em cada esquina de Rio Verde surgia uma brincadeira diferente. Era
também numa rua de terra, o rosto colado no tronco de uma árvore,
que Silvia Barbosa, 8, batia cara enquanto seus amigos se escondiam.
Depois de contar até 20, Silvia gritou: “Lá vou eu, escondeu, morreu!”.
Enquanto ela saía para procurar, os amigos, que chamam um ao outro
de “guri” ou “guria”, se movimentavam no esconde-esconde, que ocupava
a rua toda.
Cíntia Barbosa, 7, irmã de Silvia, foi a primeira a chegar correndo:
“31 no pique, Cíntia!”, ela disse, dando o sinal de que havia atingido
o pique. Depois foi a vez de Vando Silva, 7, gritando sua senha:
“Um, dois, três, salve eu!”.
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Jacqueline
Cristaldo, 8, pula corda em Rio Verde
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Cíntia
e Silvia são exímias jogadoras dos bate-mãos
Fifi e Batom. Além do movimento com as mãos, ambos exigem coreo-
grafia.
O repertório das meninas é rico. Logo em seguida elas brincam de corre-cotia,
depois formam uma roda e cantam “Ciranda Cirandinha” numa versão bastante
antiga. Na última estrofe, escolhe-se alguém para entrar na roda e
recitar uma poesia. E Cíntia recitou “Batatinha Quando Nasce”.
Por fim, entoaram mais uma cantiga de roda, também numa versão antiga
e bem preservada, na letra e na coreografia.
Fui a Espanha
Buscar meu chapéu
Azul e branco
Da cor daquele céu
E a brincadeira continuava pelas ruas da cidade.
Na próxima esquina, era a vez de pular corda, com direito a diversos
graus de dificuldade e coreografia para uma cantiga que Jacqueline
Cristaldo, 8, Roseane Clemente, 10, Edilson Borges, 8, e Priscila
Borges, 10, cantavam para o pulador executar:
O homem bateu
Em minha porta
E eu abri
Senhoras e senhores
Ponha a mão no chão
Senhoras e senhores
Pule de um pé só
Senhoras e senhores
Dê uma rodadinha
E vá pro olho da rua
E como se tivessem “entrado pela perna do pinto e saído pela
perna do pato, e alguém ainda contasse mais quatro”, meninos soltavam
pipa em outras ruas de Rio Verde.
No distrito de Jauru (a 7 km da cidade de Coxim), meninos e meninas
brincavam de mosquinha-de-europa, espécie de cabo-de-guerra, que começava
com o diálogo evocador: “_ De Europa! _ De Espanha! _ De Portugal!”,
de velhos tempos que permanecem na cultura infantil.
_ Somos quatro mosquinhas de Europa.
_ Que vieram fazer?
_ Combater!
_ Combatam para nós ver.
_ Qual é a fruta? _ Pêra.
(MF) .
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