Norte e Nordeste usam
técnicas pré-cabralinas


IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha


A maneira de cultivar mandioca no Brasil não difere radicalmente da utilizada pelos índios na época do Descobrimento. A opinião é do pesquisador Alfredo Augusto Cunha Alves, do Centro Nacional de Pesquisa em Mandioca e Fruticultura, da Embrapa, em Cruz das Almas (BA). “Embora não haja muitos registros de como era na época de Cabral, imagina-se que, no Norte e Nordeste, não tenha mudado muita coisa”, diz ele.

Fácil propagação, elevada tolerância a estiagens, rendimento satisfatório mesmo em solos de baixa fertilidade, pouca exigência de insumos modernos e potencial resistência a pragas e doenças são fatores tradicionalmente relacionados ao cultivo da mandioca.

“O baixo custo de produção em baixa tecnologia permite seu cultivo onde a população é mais pobre”, diz Marcos Silveira Bernardes, professor do departamento de produção vegetal da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP.

Para o sustento de uma pessoa, é necessária uma área cultivada de 400 m2. Na cultura do trigo, ela seria cinco vezes maior.

Isso ajuda a explicar a “exportação” da mandioca para a África, que hoje responde por 50% das 160 milhões de toneladas colhidas anualmente. Atualmente, é a Nigéria quem mais produz mandioca: 30 milhões de toneladas/ano. A mandioca pode ser plantada usando-se sementes, mas seu cultivo comercial se faz pelo plantio de pedaços da rama. O maior problema é a temperatura, que, no ciclo vegetativo (seis a oito meses após o plantio), tem de ser superior a 20 C. A produtividade média no Brasil é de 11,5 toneladas por hectare (em São Paulo, chega a 23).

“Em São Paulo, Paraná e Minas Gerais, o cultivo é feito em áreas grandes, com mecanização e herbicidas”, explica Cunha Alves. E produz-se, além da farinha, o amido, com aplicação industrial.

Nas regiões Norte e Nordeste, cujos pequenos produtores respondem por mais de 50% da produção brasileira, a planta é, quase sempre, cultivada associada a pés de milho, feijão ou amendoim.

“O desafio é fazer o uso da mandioca ser diversificado”, diz Cunha Alves. Entre as utilizações menos difundidas, ele destaca o emprego da farinha de folha na alimentação humana. “Ela é rica em vitamina A e C _da última, contém mais do que o limão.”

Colaborou Priscila Lambert, da Reportagem Local

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