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Nicolau
Sevcenko
Globalização
transforma cidade em centro lúdico, diz Sevcenko
(27/3/2000)
Nome:
Nicolau Sevcenko
Idade:
47 Cargo: é professor de história da
cultura da USP e membro do Center for Latin American Cultural
Studies do King's College (Universidade de Londres)
Livros: é autor de "Orféu Extático
na Metrópole - São Paulo nos Frementes Anos
20" (Companhia das Letras), "Literatura como Missão"
(Brasiliense) e organizador do terceiro volume de "História
da Vida Privada no Brasil - República: Da Belle Époque
à Era do Rádio"
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SYLVIA
COLOMBO
Editora
interina de Especiais
Historiador
que dedicou-se ao florescimento cultural e social dascidades de
São Paulo e do Rio de Janeiro, Nicolau Sevcenko acha que
a globalização trará mudanças rápidas
e dramáticas para centros urbanos da América Latina.
Nos países subdesenvolvidos, as elites tendem a se
deslocar para lugares mais distantes, por causa da violência
e por poderem continuar conectadas pela rede. Assim, esvaziarão
a parte central das cidades, deixadas a seu próprio destino,
para que o atrito da violência a consuma por si só.
A situação, que descreve como pavorosa,
tem uma contrapartida positiva. A expansão da indústria
do entretenimento e do setor cultural transformarão as grandes
cidades em centros de criatividade e envolvimento lúdico
entre as pessoas. Leia abaixo os principais trechos da entrevista
que o professor de história da cultura da USP concedeu à
Folha, em sua casa, em São Paulo.
Folha - Em entrevista à Folha, a historiadora
Katia Mattoso disse que o Brasil precisa deixar de se ver como uma
ex-colônia e assumir o fato de ter tido um papel importante
num grande Império (o português). O que você
acha dessa idéia?
Nicolau Sevcenko - Essa é a questão central
da reflexão dos 500 anos. É inequívoco o fato
de que o país herda uma estrutura que procede da condição
colonial. As mazelas sociais são consequência direta
dessa herança. Não há o que negar, o Brasil
não pode ser pensado fora desse contexto.
Porém, o modo como a colonização aconteceu
não passa por uma situação dual, em que temos
de um lado a potência estrangeira colonizadora e, do outro,
a sociedade nacional colonizada.
O colonizador atuou com a intermediação da elite local.
Há duas etapas: uma é a colonização
propriamente dita como estrutura econômica internacional e
outra é a endocolonização -colonização
das camadas dominantes sobre a população colonizada.
O fato mais candente do desenvolvimento da pesquisa histórica
nos últimos tempos tem sido o de tentar explorar esse diferencial
da endocolonização. Entendê-la é o elemento
decisivo para compreender a sociedade atual.
Folha - Como acadêmico que transita em universidades
européias, você considera que exista uma análise
diferente daqueles países sobre o passado colonial?
Sevcenko - Tem havido, na Europa, um desenvolvimento agudo
da consciência histórica nas gerações
atuais. O significado do colonialismo e seus efeitos perversos são
bem conhecidos. Acho que o momento é propício para
que seja cobrada desses países uma colaboração
para o alívio da situação deixada pela colonização.
Folha - Essa cobrança é possível?
Sevcenko - Acho que um diferencial foi assinalado na crise
em torno do general Pinochet. Ele representava a elite endocolonizadora,
que sempre quer se reconhecer como igual junto ao universo europeu.
Só que a Europa já deixou bem claro o profundo desprezo
que tem por esse tipo de gente e de comportamento. A humilhação
de Pinochet foi emblemática por quebrar a relação
idílica entre ex-colonizadores e os endocolonizadores. Isso
é benéfico para que as novas gerações
repensem o relacionamento com a Europa e procurem usar em seu favor,
num contexto mais internacionalizado, a disposição
que vem se reforçando no sentido de compensar as mazelas
da colonização.
Folha - Depois da Independência, os países latino-americanos,
cada um com sua particularidade, viveram ciclos políticos
comuns (reforma liberal, ditaduras militares, populismo). Qual será
sua posição com a globalização?
Sevcenko - Essa condição histórica tende
a mudar, guiada pela revolução tecnológica.
Os conceitos de nação e de território nacional
estão se diluindo. Antes podíamos dizer que o rico
engolia o pobre. A tendência agora é o rápido
engolir o lento e o que define isso é a capacidade de incorporação
de novas tecnologias. Urge, pois, investir em educação,
ciência e tecnologia. A política neoliberal na América
Latina e no Brasil tende a estrangular esses investimentos básicos.
Portanto, mais do que nunca é preciso mudar o projeto político.
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