LAURA DE MELLO E SOUZA
Histoire
d'un Voyage Fait en la Terre du Brésil (História
de uma Viagem Feita à Terra do Brasil, 1578), de
Jean de Léry - Com o extraordinário livro de
Léry -que Lévi-Strauss chamou de "breviário
do etnólogo"-, o Brasil e os tupinambá
entram na Europa e lançam-se as bases do relativismo
cultural. A grande edição é a de Frank
Lestringant (1994, para "Livres de Poche"), que
tomou por base a edição de 1580. A tradução
brasileira, de Sérgio Milliet, parece-me basear-se
na de 1578 e é bastante incompleta, deixando de fora
passagens fundamentais.
História
do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador (Ed. Itatiaia)
- Frei Vicente escreveu a primeira história do Brasil,
antes mesmo de existir um Brasil. De certa forma, ele nos
"inventou". É importantíssimo para
os fatos ocorridos nos primeiros tempos da colonização
e arguto ao perceber as contradições entre o
lá (Portugal) e o cá (o Brasil).
Capítulos
de História Colonial (1907), de J. Capistrano de
Abreu (Ed. Itatiaia/Edusp) - Capistrano é o antepassado
direto das interpretações do Brasil que voltam
ao período colonial para entender o processo formativo
do país. A melhor coisa do livro é a ênfase
na interiorização do processo colonizador.
Vida
e Morte do Bandeirante (1929), de José Alcântara
Machado (Ed. Itatiaia) - É, a meu ver, a primeira monografia
da moderna historiografia brasileira. Recorta um objeto -São
Paulo nos séculos 16 e 17-, destaca um problema -a
pobreza econômica- e "inventa" uma fonte documental:
os inventários e testamentos, só muito depois
utilizados pela historiografia do hemisfério Norte.
Casa-Grande
& Senzala (1933), de Gilberto Freyre - É um
dos mais importantes trabalhos das ciências sociais
neste século. Polêmico e discutível, tem
aspectos geniais. Influenciou a historiografia norte-americana
sobre escravidão e inaugurou temas só tratados
pela escola dos Annales décadas depois. No que diz
respeito à colônia, traz para a sua análise
uma renovação de enfoque e temas sem precedentes.
Formação
do Brasil Contemporâneo (1942), de Caio Prado Jr.
(Ed. Brasiliense) - Este livro deu, como logo no início
nos alerta o autor, sentido à colonização
brasileira e forneceu instrumentos para importantes análises
estruturais subsequentes. Envelhecido e discutível
nas partes sobre sociedade e administração,
é argutíssimo ao apontar os canais para a dinamização
interna da economia -os circuitos de muares, a pecuária,
a economia de subsistência.
Caminhos
e Fronteiras (1956), de Sérgio Buarque de Holanda
(Ed. Companhia das Letras) - Compreende uma série de
exercícios de história cultural que, apesar
de breves, têm um fôlego surpreendente. Abre perspectivas
de análise ainda irrealizadas, e é intrigante
que seja um livro tão pouco lido e citado.
Visão
do Paraíso (1959), de Sérgio Buarque de
Holanda (Ed. Brasiliense) -É a obra mais notável
de toda a historiografia brasileira. Tem erudição,
reflexão e originalidade ímpares. Por ser tão
superlativa, talvez iniba um pouco o leitor. É mais
uma obra-prima de Sérgio que não conheceu a
repercussão merecida e só começou a ter
impacto na historiografia brasileira por volta do meado dos
anos 80.
Portugal
e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1979), de
Fernando A . Novais (Ed. Hucitec) - Esta obra retoma a idéia
do sentido da colonização de Caio Prado e analisa
de forma notável o "sistema colonial", mostrando
suas contradições e a necessidade de se entender
metrópole e colônia, Europa e Brasil em suas
relações dinâmicas.
Salvador
Correia de Sá e a Luta pelo Brasil e Angola (1952),
de Charles R. Boxer - Este é, até hoje, o único
estudo de fôlego sobre a formação do complexo
sul-atlântico do império português, destrinchando
a constituição e consolidação
dos nexos estabelecidos entre a América portuguesa,
a África e a Europa no século 17. Por fim, realiza
ao mesmo tempo a biografia da sua personagem, Salvador Correia,
e a história do Atlântico Sul, mostrando como,
às vezes, certos agentes históricos encarnam
a História.
A
Fronda dos Mazombos (1995), de Evaldo Cabral de Mello
(Ed. Topbooks) - É um marco na historiografia social
do Brasil. Sendo uma narrativa assentada na minúcia
e na atenção à especificidade -Pernambuco
entre 1660 e 1715-, cria, contudo, o melhor "modelo"
de análise das sublevações coloniais.
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