Cinco séculos de colonialismo

especial para a Folha

O período que se estende da chegada de Vasco da Gama, em 1498, até a saída dos colonizadores britânicos da Índia em 1947 -e o fim da influência ocidental na China em 1949 (com a vitória da revolução maoísta)- foi batizado como a "Era de Vasco da Gama" na Ásia, pelo historiador indiano K.M. Panikkar.

O que caraterizou a "Era Vasco da Gama", segundo o historiador italiano Carlo Cipolla, foi a supremacia tecnológica dos navios europeus, tanto suas melhores características de navegação, como sua melhor artilharia.

Em terra, os europeus nunca se fixaram na Ásia nos mesmos números que caracterizaram a colonização das Américas.
Ao contrário dos civilizados incas e astecas, que os espanhóis enfrentaram nas Américas, os inimigos asiáticos eram bem mais numerosos, tecnologicamente mais avançados (também usavam armas de fogo) e imunes às doenças de origem européia.

O grande artífice do império asiático português, Afonso de Albuquerque (1453-1515), acreditava que bastavam quatro fortalezas e uma frota com 3 mil marinheiros europeus para dominar o Índico.

Ele nunca chegou a ter uma frota do tamanho que desejava, mas conquistou três das quatro fortalezas essenciais- Goa, na Índia, Málaca, na Indonésia e Ormuz, no Golfo Pérsico; faltou apenas fechar a rota árabe do comércio pelo Mar Vermelho, tomando Áden, o que teria tornado o Índico um autêntico "mare nostrum" português.

A era das nevegações foi um período em que os documentos são escassos (como exemplo, basta lembrar que a descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral está descrita em basicamente sete documentos).

É comum que uma viagem nessa época tenha passado à história por apenas uma frase ou uma citação de apenas um autor -algo de que é preciso desconfiar, ainda mais se se trata de alguém defendendo a própria primazia de uma descoberta, como é o caso da suposta viagem de Vespúcio à América do Sul em 1497 ou da alegada passagem pelo Brasil, em 1498, por Duarte Pacheco Pereira (1465-1533).

Justamente pela raridade de documentos, a historiografia dos Descobrimentos foi muito influenciada pela idéia de viagens secretas, cujos grandes defensores foram os portugueses Jaime Cortesão e Armando Cortesão.

Não há dúvida de que era do interesse dos reis portugueses não entregar seus segredos comerciais aos concorrentes. Os grandes segredos eram as rotas e cartas náuticas para se chegar aos destinos cobiçados, primeiro a costa africana, que rendia ouro, marfim e escravos, e depois as Índias, as ilhas das especiarias na hoje Indonésia, a China e o Japão, todos "descobertos" pelos portugueses.

É por isso que ainda se debate se a passagem de Cabral pelo Brasil foi planejada ou não. Navegações secretas também explicariam o longo hiato entre o dobrar do cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias em 1488, apontando para a rota das Índias, e a viagem de Gama, iniciada dez anos depois. (RBN)

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