Governo tenta impedir atos contra FHC

(10/4/2000)

da Sucursal de Brasília

Os governos federal e da Bahia estão se preparando para impedir que a marcha e a conferência indígena se transformem num ato contra o presidente Fernando Henrique Cardoso e sua política social e econômica.

Na última quinta, foi decidido que a segurança dos eventos, especialmente durante o período em que FHC estiver presente, ficará a cargo do Ministério da Defesa. As Forças Armadas ocuparão os sítios e praias históricos de Porto Seguro, e os manifestantes terão de enfrentar fuzis e possivelmente tanques nas ruas se partirem para um confronto.

O governador César Borges (PFL) afirmou à Folha que não irá proibir a presença dos índios e dos demais integrantes da marcha em Porto Seguro, como foi propagado entre os índios -51 deles, do Acre, obtiveram até salvo-condutos da Justiça permitindo a entrada na Bahia.

Mas Borges disse que "não vai permitir que toda a programação seja conturbada" por grupos que queiram utilizar-se do movimento "para criar caso" -o que seria, para ele, afronta às autoridades.

O primeiro sinal de que haverá dificuldades nesse setor foi dado semana passada, quando cerca de 200 PMs cercaram e destruíram, durante a noite de terça-feira, o monumento que os índios pretendiam construir na praia Coroa Vermelha -onde foi realizada a primeira missa- denunciando o que classificam de "genocídio da raça". A ordem foi de Borges.

"Depois de todo um trabalho de desobstrução e de recuperação paisagística, sem pedir licença a qualquer autoridade chegou um caminhão para jogar cimento na área, que é de proteção ambiental. Não aceitamos e não permitiremos", afirmou Borges à Folha.

O governador reconheceu que sua atitude contrariou parte dos índios, mas disse que o episódio está superado. "Foi uma confusão artificial. Agora vamos construir um monumento para eles, projetado por nossos arquitetos, mais perto da residência deles", disse.

O cacique Ailton Pataxó é um dos descontentes. "Não fomos chamados para participar da comissão da festa, mas aceitamos tudo. Mas gostaríamos que ele (Borges) pudesse respeitar nossos sentimentos e sofrimentos." (WF)


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