Discos marcam 60 anos
da morte de Noel Rosa


Ivan Lins lança CD triplo em homenagem ao sambista

Agência Folha 02/05/97 17h27
De São Paulo

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O sambista carioca Noel Rosa, em cena do filme 'Vamos Falar do Norte'
Um dos mais importantes letristas e compositores cariocas do início do século, Noel Rosa morreu há 60 anos, no dia 4 de maio de 1937. O sambista morreu aos 26 anos, de tuberculose, deixando mais de 250 músicas, entre elas as clássicas "Feitio de Oração", "As Pastorinhas", "Fita Amarela", "Conversa de Botequim", "Palpite Infeliz", "Pierrô Apaixonado", "Até Amanhã" e "Gago Apaixonado".

Um disco triplo e dois programas de TV lembram a data da morte do "poeta da Vila" -apelido que Noel recebeu por cantar seu bairro, a Vila Isabel, na zona norte carioca. As homenagens não são tão extensas quanto as que o compositor e arranjador Pixinguinha fez jus na semana passada, por ocasião do seu centenário de nascimento. Afinal, no Brasil, homenagens desse tipo ocorrem, geralmente, a cada 50 ou 100 anos.

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A principal homenagem a Noel Rosa é o CD triplo que o compositor Ivan Lins lança pela Velas, "Viva Noel".

Por enquanto, o CD chega ao mercado em dois volumes. O motivo é que, para concretizar o projeto, foi preciso arranjar um patrocinador, a Associação Atlética Banco do Brasil.

A AABB deterá, durante seis meses, o direito de distribuição desse terceiro volume aos seus associados. Depois, a Velas pretende relançar os outros dois, mais o terceiro, em um pacote.

No terceiro CD haverá uma surpresa. No piano, Ivan Lins acompanhará o próprio Noel, que canta e toca violão em uma gravação de "Cordiais Saudações"'.

"Conhecia as dez músicas mais conhecidas do Noel, como todo mundo. Não tinha conhecimento de sua obra completa. Quando comecei a pesquisar, me senti diminuído como compositor. Fui me sentindo pequenininho", disse Ivan Lins, 52, que resolveu fazer o tributo em um esforço de preservação da memória cultural.

"Noel Rosa era um cronista de mão cheia de seu tempo. Não era nada romântico, mas era muito passional. Um grande observador dos costumes e do comportamento do carioca", disse.

Para ele, a produção musical brasileira decaiu nos últimos anos. "Essa idiotização da música brasileira me ofende. É uma apologia da bobagem. E não estamos idiotizando apenas as letras, mas a harmonia também", criticou.

Na TV, os programas vão ao ar domingo, na Rede Cultura e no Multishow. Às 20h, a Cultura exibe o documentário "Isto é Noel", feito em película pelo cineasta Rogério Sganzerla, em 1991. No filme, Noel Rosa é interpretado pelo jornalista João Ximenes Braga. Sem experiência como ator, Braga foi escolhido em função de sua semelhança física com o compositor.

Em "Com Que Roupa?", o filme que será exibido pela Multishow, entretanto, quem faz o papel de Noel é o ator Cacá Machado.

Premiado no Festival de Gramado, o curta-metragem em preto-e-branco foi dirigido por Ricardo Van Steen e vai ao ar no Multishow um pouco mais tarde que o documentário da Cultura, às 21h30.(Luiz Antônio Ryff)

Informações na Internet

  • Noel Rosa - Biografia e letras de composições do sambista.
    (em português)
  • Samba-canção - História dos criadores do samba-canção.
    (em inglês)