'Jornada nas Estrelas' ganha episódio

Novo filme da série chega a SP; confira as demais estréias

Agência Folha 20/02/97 18h45
De São Paulo

OscarE vamos nós na Enterprise, outra vez, embarcados na mais estranha série já feita no cinema. "Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato" -enésimo filme da série, que chega na sexta-feira (21) aos cinemas- não é uma reprise.

Mas é quase impossível não lembrar de "Flash Gordon", o seriado dos anos 30. A mesma iconografia futurista, a mesma crença na ciência e na evolução parecem orientar os dois trabalhos. Mas é também a maneira como as coisas se põem em cena que faz a aproximação. Há cenários que não têm cara de passado ou de futuro, mas de cenários, simplesmente.

Há uma relação antiquada com os efeitos especiais, que não procuram seduzir pelo efeito realista, mas por solicitar ao espectador que acredite naquilo que vê.

Dito isso, "Primeiro Contato" trata de uma volta ao passado. Não deixa de lembrar, por exemplo, "De Volta para o Futuro", a ficção científica dos anos 80, já que a tripulação do comandante Jean-Luc Picard (Patrick Stewart) deve voltar de um futuro remotíssimo até o ano 2063. Sua missão: impedir que os Borgs -terríveis alienígenas que incorporam os humanos- tomem conta de uma Terra devastada pela guerra nuclear e comprometam todo o futuro.

No mais, os Borgs não deixam de evocar uma pilha de filmes de horror (inclusive os de Zé do Caixão), já que buscam a perfeição de maneira obsessiva. Dessa perfeição monstruosa faria parte sua natureza, que amalgama traços mecânicos a elementos orgânicos. Desde a viagem no tempo até o tipo de inimigo que enfrenta, a tripulação da Enterprise pode vir do século que quiser. O filme nos remete sempre, inevitavelmente, ao passado. É, literalmente, o futuro do pretérito. A Enterprise (na tradição da série) move-se num terreno dado.

Tematicamente, os alienígenas são totalitários -tratamos, então, da luta entre liberdade e tirania, como nos tempos da Guerra Fria ou da luta contra o nazismo. Os valores envolvidos são aqueles que conhecemos, nada mais. São apenas um pouco hiperbólicos: os Borgs não se contentam em eliminar a individualidade. Eliminam também o coletivismo, integrando todos os seres a um único ser referencial.

No desenvolvimento, outros fatores nos remetem a sagas já exploradas mais criativamente. Exemplo: os Borgs são invasores de corpos, como em "The Body Snatchers", de Don Siegel, ou "Eles Vivem", de John Carpenter. Mas esses filmes -e há outros- baseavam-se na angústia de nunca sabermos, a rigor, se a invasão já havia acontecido ou não. Se tal sujeito, quando aparecia, ainda era um homem ou já um mutante.

"Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato" mantém-se fiel a si mesma. O espectador pisa sempre em um terreno de certezas, de idéias e situações idas e vividas. É até certo ponto esperável -já que a série se dirige ao público adolescente-, mas ainda assim seria possível pedir um pouco mais de inquietude na evolução.

Alguns achados (como o fato de Picard já ter sido absorvido, algum dia, pelos Borgs) permanecem inexplorados, já que o roteiro evita qualquer ambiguidade e a direção apenas enfatiza essa platitude.

Com isso, "Primeiro Contato" sustenta-se no de sempre: tecnicalidades sobre o futuro, figuras inverossímeis, algum humor (infelizmente pouco), dois ou três momentos curiosos (como a cena de amor entre o robô Data -Brent Spiner- e a rainha Borg -Alice Krige), uma ou duas auto-ironias.

Não é muito. Mas a maior parte do que se pode arrolar como virtudes de "Primeiro Contato" acaba, quase sempre, soterrada pela música infernal de Jerry Goldsmith.

"Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato" concorre ao Oscar de melhor maquiagem.

Saga 'Jornada nas
Estrelas' começou em 1979

"Jornada nas Estrelas" chegou aos cinemas originalmente em 1979, transpondo para a tela grande as aventuras que, entre 1966 e 1969, haviam feito história na TV. Na TV, a série criada por Gene Roddenberry havia contado com a colaboração de roteiristas famosos, entre eles Richard Matheson.

Ao passar para o cinema, "Jornada nas Estrelas, o Filme" manteve-se fiel a seus traços básicos, com a nave Enterprise e a tripulação liderada pelo capitão Kirk (William Shatner) e seu conselheiro, dr. Spock.

Já havia uma Federação de planetas às voltas com invasores e uma ficção científica apoiada sobre um futuro que acenava para a possibilidade de aquisição de inteligência e aperfeiçoamento da consciência (a ambientação original era no século 23).

O sucesso determinou uma série de sequências, culminando com a troca de tripulação, agora comandada por Jean-Luc Picard (Patrick Stewart).

Na TV, a tripulação de Picard é apenas uma das quatro que compõem o universo "Jornada nas Estrelas", somadas a uma infinidade de games, páginas na Internet, livros e revistas.

"A Nova Missão" (Deep Space Nine) é a terceira delas. Ambientada numa estação, acontece simultaneamente no tempo com "A Nova Geração". Nos Estados Unidos, há ainda os episódios de "Voyager", onde a nave é comandada, pela primeira vez, por uma mulher.

'Nosso tipo de Mulher'
debate dramas masculinos

Edward Burns conseguiu fazer com que seu filme de estréia, "Os Irmãos McMullen", rendesse US$ 10 milhões, depois de ter custado apenas US$ 25 mil. Ganhou o Grande Prêmio do Júri no Sundance Festival de 1995 e cacife para ter disponíveis US$ 3 milhões para o seu segundo filme, "Nosso Tipo de Mulher" (She's the One), que estréia na sexta em São Paulo.

Aos 29 anos, Burns lança uma comédia que aborda de forma inteligente relacionamentos amorosos e familiares. O título em inglês já diz tudo: o filme trata da busca da mulher perfeita.

Mickey (o próprio Burns) é um bem-apessoado taxista, feliz com sua vida de solteiro. Seu irmão, Francis (Mike McGlone), ao contrário, é um bem-sucedido operador de Wall Street, ganha muito dinheiro e tem uma adorável mulher, Renee (Jennifer Aniston, de "Friends"), sua namorada dos tempos de escola.

Um dia, Mickey conhece Hope (Maxine Bahns), que o convence a levá-la em seu táxi de Nova York até Nova Orleans. Um dia depois, estão casados.

Os irmãos têm um forte relacionamento com o pai, o sr. Fitzpatrick (John Mahoney), especialista em conselhos idiotas. Seu maior ensinamento é: "Em primeiro lugar, faça aquilo que lhe deixa feliz" -uma máxima do egoísmo.

Mesmo tendo idêntica educação, os irmãos são diferentes em tudo. Ambos buscam a felicidade. Mickey acha que a encontrou sendo motorista de táxi e se apaixonando à primeira vista. Já Francis coloca como prioridade ganhar dinheiro, contar com uma esposa adorável e disponível, além de ter uma amante, Heather (Cameron Diaz), ex-noiva de seu irmão e, no caso, a tal "mulher ideal". É essa idealização da mulher que coloca dúvidas sobre o que é a felicidade na cabeça dos irmãos Fitzpatrick.

O filme difere das comédias românticas comuns por não procurar atingir somente o público feminino. Pelo contrário, os problemas amorosos são abordados sob o ponto de vista masculino.

Por isso, todas as três mulheres do filme são fortes e decididas, mesmo se forem trocadas por outra. Quem sofre, no caso, são os dois irmãos, que se perdem em suas dúvidas, tentando conquistar a "mulher ideal". Só tomam resoluções quando encostados na parede, ou por falta de alternativa.

Ao discutir de forma bem-humorada os relacionamentos amorosos, "Nosso Tipo de Mulher" aponta desfechos palpáveis, sem ser pessimista como "Pequeno Dicionário Amoroso" e sem ser irreal e simplista como "Sintonia de Amor".

'Sombras de Julho'
chega aos cinemas

Não dá para entender o porquê de lançar uma produção brasileira como esta simultaneamente em vídeo e no cinema, depois de ela já ter sido exibida pela TV.

"Sombras de Julho", que estréia na sexta-feira (21), no Cinesesc de São Paulo, é a segunda experiência da TV Cultura na co-produção de filmes. A primeira, "Veja Esta Canção", de Cacá Diegues, apesar de não ter sido lá muito bem-sucedida artisticamente, é superior.

O diretor Marco Altberg adapta, neste seu quarto longa-metragem, o livro homônimo de Carlos Herculano Lopes.

Numa pequena cidade do interior de Minas Gerais, convivem bem as famílias Gama e Maia. Até que Fábio Gama (Rubens Caribé) resolve entrar na exploração de madeira, área dominada pela outra família.

Joel Maia (Othon Bastos), o patriarca, quer impedi-lo de qualquer maneira. Quando Fábio tenta enfrentá-lo, é recebido a bala. Mas quem atira não é um capanga, e sim Jaime Maia (Angelo Antonio, estreando no cinema), seu amigo de infância. E, assim, a armadilha para Fábio se prova também uma arapuca para Jaime.

Joel morre de ciúmes e ódio do filho. O patriarca acredita que, por culpa de Jaime, sua mulher não lhe dispensa a devida atenção e carinho. Além disso, o pai considera Jaime um fraco, a quem despreza.

O submisso Joel aceita as artimanhas do pai para livrá-lo da cadeia e convive com a culpa.

Enquanto isso, o pai de Fábio tenta a todo custo provar a culpa dos Maia. E a mãe, Helena (Lu Mendonça), jura vingar a morte do filho. O desfecho é digno dos dramalhões mexicanos que invadem a TV.

A adaptação do livro não é bem-sucedida. Os diálogos parecem saídos diretamente do romance para a boca dos personagens, sem intermediários -como, por exemplo, um roteirista.

As cenas em que os personagens "pensam" parecem as das novela das seis: longas sequências, com longas caminhadas, e texto recitado em off.

Nem o experiente Othon Bastos consegue segurar o filme. Ainda mais quando se tem um protagonista tão fraco quanto Angelo Antonio.

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