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LIvro conta a história secreta do Cristo Redentor
Arquiteto trabalhou dez anos no projeto
AJB 26/07/97 15h43
Do Rio de Janeiro
Juntos eles formam uma combinação para turista nenhum botar defeito. Há décadas a estátua do Cristo
Redentor e a estrada de ferro do Corcovado com seu trenzinho encantam moradores e visitantes do Rio. E olha que muitos
não sabem da missa a metade. Além do belo visual, os dois cartões-postais guardam histórias repletas de personagens
e fatos interessantes. Reza a lenda, por exemplo, que Dom Pedro I foi o primeiro homem branco a chegar ao cume do
Corcovado. Isso anos antes de proclamar a independência e se tornar imperador. É apenas uma das curiosidades. Elas
são tantas que valeram até um livro: Corcovado a conquista da montanha de Deus (editora Lutécia, R$ 15),
que o arquiteto Jorge Scévola, de 67 anos, lançou há alguns dias. O livro está à venda na bilheteria dos trenzinhos do
Corcovado e no Hotel Glória.
"Foi um trabalho sem pressa: demorou mais de dez anos", diz o autor, que registrou as datas e números mais importantes do
monumento e da estrada, onde trabalhou entre 1977 e 85. Dom Pedro I, por exemplo, não aparece só uma vez. Em
1824, organizou uma expedição oficial ao cume do Corcovado -, quem sabe antevendo o potencial turístico do local.
Décadas depois surgiu a idéia de se construir uma estrada de ferro que levasse ao alto da montanha. Um dos engenheiros
envolvidos foi Francisco Pereira Passos, prefeito do Rio, anos mais tarde. A obra foi inaugurada em 9 de outubro de 1884,
com a presença de Dom Pedro II.
Coreto - Pouco depois foi construído um grande coreto no local onde hoje fica o Cristo. Chamava-se Chapéu
de Sol e tinha uma base circular. Os visitantes apreciavam a vista, comiam em um pequeno bufê e, em datas festivas,
ouviam apresentações de músicos. O coreto foi transferido depois para um trecho abaixo e, em 1940, foi desmontado.
A idéia do monumento no Corcovado também é antiga: foi do padre francês Pierre-Marie Bos, que chegou ao Rio em 1859 e
maravilhou-se com as belezas da cidade. Apesar de se empenhar bastante, Bos morreu em 1916, sem realizar o velho sonho,
mas a idéia da estátua já contava com o apoio de várias pessoas.
Chegou-se a pensar em erguê-la para comemorar o centenário da independência, em 1922, mas não foi possível.
Foram anos de estudo sobre o modelo e o tamanho adequados. O financiamento da obra, lembra Jorge, reserva outra ironia:
muita gente pensa que foi a França que pagou o monumento. "É uma confusão com a Estátua da Liberdade, nos
Estados Unidos, que foi um presente francês", explica. Houve várias campanhas de arrecadação de fundos entre os
brasileiros para construir o Cristo e delas saiu o dinheiro necessário.
Antena - Antes da construção, entretanto, surgiram alguns obstáculos. Algumas igrejas protestantes, por
exemplo, fizeram manifestações contra o monumento, considerado um símbolo católico. No mesmo ano, a Companhia
Telefônica instalou uma estação com uma antena de 40 metros no topo do Corcovado, logo retirada.
Uma grande equipe foi montada para fazer o monumento. Da França veio uma ajuda essencial, a do escultor Paul Landowski,
que executou o modelo geral. O trabalho foi feito a partir de desenhos do pintor Carlos Oswald, sob a coordenação
do arquiteto Heitor da Silva Costa. "Os modelos de gesso da cabeça e das mãos do Cristo foram mandados de Paris,
em tamanho de execução, divididos em dezenas de partes numeradas, que, depois de moldadas em concreto armado,
num sítio em Niterói, foram montadas no local", conta o autor.
As diferentes partes foram levadas para o alto do Corcovado nos trenzinhos. As obras começaram em 1926, terminaram em
1931 e a estátua foi inaugurada no dia 12 de outubro daquele ano.
Flávio Araújo
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